A indústria de fundição brasileira já apresenta um cenário de recuperação de produção e vendas, com crescimento de quase 50% na comparação entre os oito primeiros meses de 2010 com 2009. Apesar do aumento na demanda, o setor se prepara para barrar a entrada de concorrentes de fora, que já representam US$ 500 milhões por ano. Moldes e ferramentas asiáticas chegam ao país até 60% mais baratos do que similares brasileiros.
A preocupação com a entrada de produtos importados se agravou em abril, quando a Portaria 8.410 passou a permitir a compra de moldes e ferramentas usados, sem necessidade de consulta de similaridade com os fabricados pela indústria brasileira. Segundo Darceo Schulz, presidente do Núcleo de Usinagem e Ferramentaria de Associação Empresarial de Joinville (Acij), cerca de 1,3% dos importados são usados e chegam ao país com imposto de importação reduzido, na casa dos 14%. Fabricantes de China, Coreia do Sul, Cingapura e Taiwan seriam os principais competidores. Além de uma carga tributária mais branda - na China, chega a 17,5% enquanto no Brasil é de quase 40% do PIB -, a matéria -prima custa até cinco vezes mais para a indústria nacional do que para os competidores asiáticos.
"Em muitos casos, na importação vem muito mais que uma ferramenta, vem uma linha de montagem inteira", diz Schulz. O setor tenta rever a política adotada pelo governo brasileiro e montou um grupo com representantes da Associação Brasileira de Fundição (Abifa), dos sindicatos e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) para discutir a questão.
O presidente da Abifa, Devanir Brichesi, diz que a intenção é acompanhar o assunto sobre três aspectos. O primeiro é identificar onde estão ocorrendo as fraudes na importação. "A Abifa vai fazer papel de polícia", disse. O trabalho vai contar com parceria da Polícia Federal e da Receita Federal para identificar as tentativas de burlar o sistema de importação. A próxima reunião deve ocorrer este mês. Uma das sugestões é ampliar o imposto de importação de 14% para 35%.
"Queremos transparência para entender o que norteia o governo a tomar a decisão de facilitar a entrada de importados, o que no longo prazo, significa desindustrialização", diz Brichesi. "Sabemos que o governo tem uma visão macro e sabe da importância do setor para outras cadeias. Mas há o lobby da indústria automotiva puxando para o outro lado", diz.
Segundo Brichesi, enquanto o setor de fundição cresceu o equivalente ao PIB entre 2005 e 2008, a indústria automotiva cresceu três vezes o PIB no mesmo período. De acordo com Darceo Schulz, a portaria dá brecha para a indústria automotiva desativar uma linha na Europa ou nos Estados Unidos e, depois de um processo de "tropicalização", transferir os equipamentos para o Brasil subfaturando o valor do equipamento.
O setor automotivo é o maior cliente da indústria de fundição brasileira, seguido pela indústria de bens de capital. Nos últimos dois meses houve uma recuperação de mercado externo em cerca de 40% das vendas, em comparação com 2009.
Fonte: Valor Econômico/Júlia Pitthan | De Joinville
PUBLICIDADE