Companhia tem planos de expandir a produção de placas de aço quando o preço do gás se tornar competitivo, o que deve acontecer assim que o Novo Mercado de Gás for aprovado pelo Congresso
Assim que for aprovado, o Novo Mercado de Gás vai dar o pontapé inicial a um projeto que está sendo estudado por empresas do Distrito Industrial de Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro, que pretende criar um "consórcio de consumidores de gás", entre elas a siderúrgica da Ternium, que já tem planos de expandir a produção de placas de aço quando o preço do gás se tornar competitivo. De acordo com o vice-presidente da Ternium, Pedro Teixeira, o grupo teria uma demanda de pelo menos 10 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia.
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Somente para a Ternium, a demanda poderia chegar a 6 milhões de metros cúbicos por dia, conta Teixeira, e subiria para 10 milhões com as outras indústrias. Na região, estão instaladas outras grandes indústrias, como Gerdau, Cladtek e Fábrica Carioca de Catalisadores (FCC), entre outras. Sem citar nomes, Teixeira enxerga o projeto para além de 2025, quando se prevê que o volume do gás produzido no pré-sal dará um salto, dobrando em relação à produção atual.
"Nós podemos consumir muito gás natural, temos a tecnologia, mas hoje temos pouco gás e preços altos, que ainda refletem o monopólio na produção, transporte e distribuição. O fato de operarmos em um complexo industrial moderno nos torna uma boa âncora para um eventual gasoduto. Estamos juntando as competências para garantir a chegada do gás", explica Teixeira, que aposta na mudança regulatória que está tramitando no Congresso Nacional para o preço do gás no Brasil se aproximar dos preços internacionais.
Ele informa que hoje paga entre US$ 12 e US$ 13 por milhão de BTU no Brasil, enquanto na Argentina o preço gira em torno de R$ 3,50 o milhão de BTU e no México, que recebe gás norte-americano, já há valores abaixo de US$ 3. "O Brasil não é competitivo, mas a partir de 2026, o preço pode começar a viabilizar aumento da produção de aço, mais geração térmica, novas tecnologias e mais injeção de gás na operação", explica.
Para impulsionar os projetos, ele conta com a sinergia entre as empresas do grupo, o Techint, como o braço de exploração e produção de petróleo e gás, Tecpetrol, a fabricante de tubos, Tenaris, e a própria Techint Engenharia e Construção, líder mundial na construção de gasodutos. Com a demanda garantida, Teixeira prevê que não será difícil encontrar parceiros para realizar a obra.
"A vantagem da demanda das indústrias, é de que ao contrário das térmicas, que dependem de despacho, elas consomem gás de forma interruptível", afirma, contando que esse é o argumento que tem levado nas reuniões com produtores de gás, a outra ponta da equação das mudanças que estão por vir no setor.
No curto prazo, a Ternium prevê a importação de Gás Natural Liquefeito (GNL), que também depende da construção de uma planta de regaseificação, o que pode ser facilitado pela localização da Ternium próxima ao terminal portuário da empresa, em Santa Cruz, hoje utilizado para exportações da companhia para Estados Unidos, México e Europa.
"O que a gente está vendo no curto prazo para aumentar a nossa competitividade são operações com GNL. O grande gargalo é ter uma unidade de regaseificação, que hoje existem poucas, mas como a gente tem terminal portuário próprio tem uma facilidade de logística. Essa é uma alternativa que a gente tem analisado com parceiros, e eu diria que ela pode trazer resultados no curto prazo", informa, estimando pelo menos dois anos entre licenciamento e o fim da obra.
Prevendo um ano difícil também em 2021 - este ano a queda de demanda trazida pela pandemia chegou a reduzir a produção da companhia em 30% no início do ano, já recuperada -, Teixeira planeja aumentar a competitividade da siderúrgica, com foco em melhorar a operação na planta de Santa Cruz.
"A gente está terminando um projeto para aumentar nossa capacidade de injeção de carvão pulverizado no alto forno (PCI), isso é importante para nossa competitividade dentro da equação do custo do ferro gusa. Cada centavo conta", diz. "Será um ano com muito desafio, especialmente se os mercados continuarem no ritmo bom de hoje. Nosso foco total é aumentar a competitividade", afirma, lembrando que o seu maior cliente é a própria Ternium, no México, que recebe as placas de aço da empresa brasileira para reprocessar e enviar a clientes finais nos Estados Unidos.
A Ternium comprou a siderúrgica em Santa Cruz em 2017 - antes operada pela alemã Thyssenkrupp e conhecida por CSA -, e também é a maior acionista da Usiminas. A empresa já investiu R$ 11 bilhões no País e hoje garante 3,8 mil empregos diretos e cerca de 5 mil indiretos. A fama de poluidora, que rondou a usina na década passada, ainda sob gestão dos antigos donos, já ficou para trás, segundo Teixeira.
"Hoje somos referência em termos ambientais e não medimos custos para manter a operação da usina dentro da melhor tecnologia. Implementamos uma série de rotinas e investimos todos os anos de forma voluntária para manter o controle ambiental", informa. "Com o gás, a operação ficará ainda melhor."
Fonte: Folha SP