Com a queda no preço do minério de ferro no mercado spot (à vista), clientes da mineradora Vale, sobretudo na China, estão pressionando a empresa a renegociar contratos de fornecimento, admitiu ontem, quinta-feira (27) o diretor de Marketing, Vendas e Estratégia da Vale, José Carlos Martins. Segundo ele, caso as renegociações resultem em mudanças nos termos do contrato, o valor final da tonelada deverá ter uma queda de 10% a 15% para esses clientes.
Em abril de 2010, a Vale adotou o modelo de reajustes trimestrais, em substituição ao sistema de reajuste anual, que vigorava há mais de 20 anos. Pelo novo modelo, a média da cotação do minério de ferro num trimestre é a base para os contratos com entregas para o trimestre seguinte. No trimestre encerrado em setembro, a média de preços ficou em cerca de US$ 175 a tonelada. No entanto, a commodity está sendo negociada no mercado spot abaixo de US$ 130 esta semana, o que está provocando chiadeira das siderúrgicas chinesas. Daí a pressão para que a Vale venda seu minério pelo preço real e não mais pela média trimestral. "As negociações estão sendo feitas cliente a cliente. Há uma tendência para (adotarmos) uma média real em vez da do trimestre anterior", disse Martins, em teleconferência sobre resultados. Segundo ele, clientes no Japão e na Europa já consultaram a Vale sobre a possibilidade de mudança, mas a pressão maior vem da China. A anglo-australiana BHP Billiton, principal concorrente da Vale, já anunciou a criação, até 2012, de uma plataforma online para as vendas de minério de ferro, cedendo as pressões de clientes chineses.
O que está provocando essa queda acentuada nos preços do minério, segundo Martins, é a orientação do governo chinês para que as siderúrgicas do país não estoquem o produto, dentro de uma política de aperto monetário e a consequente necessidade de ter maior disponibilidade de fluxo de caixa. Isso levou a uma queda na demanda pelo minério de ferro e, consequentemente, do preço no mercado à vista. Essa demanda chinesa reduzida, associada à retração da economia na Europa, explica a estabilidade nas vendas do minério pela Vale no terceiro trimestre deste ano, em relação ao terceiro trimestre de 2010. Martins considera, porém, que esse freio na demanda mundial seja temporário. Segundo ele, houve poucos cancelamentos de contratos de fornecimento na Europa, nada comparado ao que ocorreu em 2008, quando a gigante mundial de aço ArcelorMittal suspendeu todos os pedidos, levando à Vale a cortar produção e demitir funcionários. "Não pretendemos realizar nenhum corte de produção, pois a Vale tem o menor custo de produção. Se alguém tiver que cortar será alguém que tem custo alto", disse Murilo Ferreira, presidente da Vale.
Quanto ao resultado divulgado ontem, que apontou queda de 25% no lucro líquido da companhia, o diretor de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Guilherme Cavalcanti, explicou que esse recuo foi apenas contábil. Com a valorização do dólar no último trimestre, o volume de dívida em dólar da mineradora pesa mais balanço financeiro. No entanto, como a maior parte da dívida tem vencimento a longo prazo, a empresa terá receita suficiente para quitá-las no futuro, embora elas tenham de ser lançadas no balanço financeiro agora. "Se o dólar permanecer no nível atual, teremos receita suficiente para pagar a dívida", assegurou Cavalcanti.
Segundo a Vale, a variação monetária e cambial líquida causou um impacto negativo no lucro líquido da empresa de R$ 4,071 bilhões. Vale informou ainda que pretende entrar no ramo de terras raras, conjunto de elementos usados na indústria de tecnologia, e do qual o Brasil depende de importações. Um estudo de viabilidade está sendo conduzido em Minas Gerais, na região onde a empresa mantém o projeto Salitre, de extração de fosfato, insumo usado na indústria de fertilizantes. O estudo deverá ficar pronto até o fim de 2012.
Fonte: Jornal do Commercio (RS)
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