A multinacional alemã Siemens tem mais de R$ 2,5 bilhões reservados para investir em projetos de infraestrutura, energia elétrica e óleo e gás no Brasil até 2022, segundo o presidente global da companhia, Joe Kaeser.
O executivo, que está em visita ao país nesta semana, afirma que sua principal expectativa é conhecer os empreendimentos de infraestrutura planejados pelo governo federal. Esse mapa de oportunidades, diz ele, será determinante para a definição da companhia - mais até do que a aprovação da reforma da Previdência.
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"O que o país precisa hoje é de bons projetos. Tendo isso, estamos financeiramente saudáveis e temos recursos para fazer os investimentos necessários", disse Kaeser ao Valor, em entrevista realizada dias antes de sua chegada ao Brasil.
Questionado sobre a lenta recuperação da economia brasileira, Kaeser evitou comentar e disse que poderá ter uma impressão mais precisa quando chegasse ao país. A última visita que fez ao Brasil foi em março do ano passado, quando ainda se iniciava a disputa eleitoral.
Nessa ocasião, o grupo assinou, em evento na capital paulista, um memorando de entendimentos com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) para investir € 1 bilhão no país. Desse total, já foi alocado R$ 1,4 bilhão, em projetos de energia elétrica.
O montante inclui a aquisição, anunciada na segunda-feira, de 20% da Micropower-Comerc, empresa de armazenamento de baterias.
O valor também contabiliza a construção e operação de uma usina térmica movida a gás natural de 1.300 megawatts no porto do Açu, no Rio de Janeiro - projeto no qual a Siemens entrou não apenas como fornecedora, mas como sócia da Prumo Logística e da petroleira BP. A participação da empresa é de 33%.
Segundo Kaeser, a intenção do grupo é continuar atuando nesse tipo de empreendimento com participação acionária.
Além do setor de energia elétrica, a empresa acompanha de perto outros segmentos, como o de infraestrutura de transportes e também mobilidade.
O executivo destaca o interesse em fornecer soluções e equipamentos ao projeto da Ferrovia de Integração Oeste Leste (Fiol), cujo leilão está previsto para ocorrer no início de 2020, segundo o governo. O projeto já qualificado pelo Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) prevê que a via faça a ligação entre Ilhéus a Caetité, na Bahia.
Outro setor ao qual a Siemens está atenta no Brasil é o de óleo e gás, que promete receber uma "quantidade enorme de investimentos nos próximos anos", afirma o presidente. O interesse vai desde a fase de exploração e produção até o refino e processamento de gás natural, com o fornecimento de soluções de digitalização e automação.
Hoje, a companhia já tem uma fábrica, em Santa Bárbara D'Oeste (SP), para a produção de equipamentos voltados ao setor e fornece soluções para cerca de dois terços das plataformas de petróleo projetadas no país.
O executivo diz ver com bons olhos o avanço de empresas privadas nos diferentes setores da infraestrutura, mas afirma que, para a Siemens, o fato de a contratação ser pública ou privada pouco altera o interesse.
Para ele, um dos pontos importantes para estimular os investimentos da companhia é a uma maior segurança jurídica nos setores de infraestrutura. "A estabilidade regulatória e a previsibilidade são essenciais para que haja bons projetos", disse.
Em relação aos escândalos de corrupção nos quais a empresa esteve envolvida - em 2013, a Siemens fechou um acordo com autoridades antitruste e delatou a existência de um cartel em diversas licitações de metrôs e trens no país - o presidente ressalta que, desde então, houve uma "mudança total" na companhia. "Tivemos que aprender a lidar da forma mais difícil, mas hoje somos referência em normas de governança", diz.
Fonte: Valor