Cinco dias após a explosão seguida de incêndio no alto-forno 2 da Usiminas, em Cubatão (SP), o clima entre os trabalhadores é de apreensão com a possibilidade de novas ocorrências. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos da Baixada Santista, este é o terceiro acidente no alto-forno 2 ocorrido nos últimos 60 dias.
"O fato de ninguém ter ficado ferido não quer dizer que o acidente não possa ter consequências fatais. Por sorte era noite e havia poucas pessoas por perto", afirmou o presidente da entidade, Florêncio Resende de Sá. O sindicalista reivindicava, na tarde de ontem, em frente à siderúrgica, investimento da companhia em manutenção e conclamava os operários da siderúrgica a participarem da assembleia que ocorreria à noite, na sede do sindicato em Santos (SP).
Pessoas ouvidas pelo Valor ontem, nas proximidades da indústria, afirmaram que o alto-forno 2 vinha trabalhando com excesso de carga em relação à vazão programada. O volume estaria aproximadamente 10% acima da capacidade no dia do acidente. As fontes preferiram não se identificar temendo retaliações.
Alguns trabalhadores que presenciaram o incêndio disseram que as explosões no alto-forno 2 são "recorrentes", mas dessa vez a proporção foi maior. Um deles, há mais de 20 anos na siderurgia e egresso da estatal Cosipa, afirmou nunca ter visto algo parecido na companhia.
O incêndio começou na noite de sexta-feira e perdurou até a madrugada de sábado, o que exigiu a presença de viaturas de bombeiros dos municípios de Cubatão, Santos e São Vicente para controlar as chamas. Não houve vítimas, mas o acidente provocou a destruição da chaminé do alto-forno 2.
O acidente ocorre num momento em que o sindicato negocia a campanha salarial, o que deve turbinar as discussões e endossar os pedidos de melhores condições de trabalho. Em novembro de 2010, a empresa e o sindicato passaram a discutir mensalmente temas ligados a saúde e segurança. Desde então não ocorreu mais acidente fatal na siderúrgica.
"Queremos explicações sobre a ocorrência dos acidentes e soluções imediatas", afirmou o presidente do sindicato, na assembleia realizada ontem à noite, na qual foi aprovada deflagração de greve em 72 horas caso a empresa não apresente uma pauta de negociação. Hoje, os líderes sindicais se reúnem com representantes da empresa, a partir das 9 horas, em Cubatão.
O movimento grevista não tem relação com o acidente e já estava programado antes do ocorrido no alto-forno 2. "A greve acaba juntando tudo: segurança, dissídio coletivo, insatisfação geral", disse Sá.
Entre as reivindicações, os metalúrgicos querem reajuste salarial de 16,21%, percentual resultado de uma equação que leva em conta o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), o crescimento da indústria e a produtividade. Eles querem ainda benefícios como vale alimentação no valor mensal de R$ 600 e auxílio-creche de R$ 1.120 para quem tem filhos com idade de 0 a 6 anos.
Questionada no fim da tarde de ontem sobre a relação entre o volume de carga e a capacidade no alto-forno 2 e sobre a suposta recorrência de acidentes, a Usiminas não se manifestou até o fechamento desta edição.
Em nota divulgada na segunda-feira, a empresa afirmou que o alto-forno 2 já operava com 100% da capacidade e que o incêndio deixou o equipamento parado por apenas três horas. Segundo a nota da companhia, todos os procedimentos de emergência foram adotados imediatamente, o que impediu que alguém ficasse ferido. As causas do incidente estão sendo apuradas.
Fonte:Valor Econômico/Por Fernanda Pires | Para o Valor, de Cubatão
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