Os produtores de soja começam a plantar uma supersafra que, a julgar pela lucratividade das vendas antecipadas, será recorde também na geração de renda no campo. Com custos estáveis, os agricultores do Paraná e de Mato Grosso aceleram o cultivo nesta semana diante de previsões de lucros superiores a 150%. Ou seja, para cada real investido na oleaginosa, deve-se arrecadar mais de R$ 2,50 brutos, conforme os cálculos dos especialistas. As projeções são animadoras e deixam para trás as quebras da seca 2011/12.
As vendas antecipadas aproveitam cotações recordes e anunciam uma safra de ouro. Dados do Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea) mostram que 61% da produção de soja de 2012/13 foram vendidos antecipadamente no estado. No Paraná, a projeção da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab) indica que 27% da colheita esperada foram negociados. O campo vendeu mais e quer produzir mais. “É um sinal de investimento e incremento intenso na área de soja”, avalia Aedson Pereira, analista de grãos da Informa Economics FNP.
As negociações consolidadas garantem lucro histórico a boa parte da produção. O economista Felipe Prince, da Agrosecurity, calcula que a lucratividade tende a ser três vezes maior que a da temporada anterior (veja infográfico). Quem planta na região de Londrina e tem custo operacional (desembolso) de R$ 1,4 mil por hectare , pode lucrar R$ 2,2 mil por hectare ao vender a saca de 60 quilos por R$ 71,9. Para isso, é claro, será necessário contar com ajuda do clima para colher 50 sacas (3 mil quilos) por hectare. O custo operacional não leva em conta a depreciação do patrimônio nem a remuneração pelo uso da terra. “A margem de lucro de 156% é recorde, não me lembro de ter visto algo próximo disso”, afirma Prince.
Ao fazer projeção similar para Mato Grosso e utilizando a região de Sapezal como referência, o especialista projeta que o lucro pode ser de R$ 1,37 mil por hectare. “A margem é menor pois é preciso considerar que boa parte dos produtores mato-grossenses fez a venda no primeiro semestre, antes da alta nos preços. Além disso, aspectos como a logística [que encarece insumos e abate as cotações dos grãos] tem um peso maior [na comparação com regiões mais próximas aos portos]”, ressalva. O economista acrescenta que muitos produtores fizeram a compra antecipada dos insumos, o que colaborou para a redução nos custos.
Segundo Otávio Behling Júnior, analista de mercado do Imea, os custos de produção aumentaram em Mato Grosso, mas podem ser compensados pela alta cotação. “Se o preço médio se mantiver elevado, vai ser possível ultrapassar a rentabilidade das safras anteriores”, pontua.
Gilda Bozza, economista da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), avalia que, apesar das recentes oscilações, dificilmente haverá queda. “Daqui para a frente, a tendência é uma volatilidade dos preços, porque todos os olhares estão sobre a produção da América do Sul. Podem até ocorrer baixas, mas não muito expressivas.”
Com o intuito de aproveitar o mercado favorável, o agricultor Gion Carlos Gobbi iniciou o plantio de 350 hectares de soja na região de Cascavel. Ele relata que pratica o plantio precoce em 100% da área e projeta terminar a semeadura até o dia 12 de outubro. E mesmo tendo vendido 50% da produção a um preço menor do que o praticado atualmente, a expectativa é das melhores. “Fiz a venda antecipada em março, a R$ 49 e R$ 50 a saca. Agora, se o clima ajudar a lucratividade deve ser ainda maior [para os grãos que ainda não foram vendidos].”
Pereira, da Informa, aposta que o ciclo 2012/13 deve consolidar rentabilidade acima dos registros do setor, caso não ocorram intempéries. “Com o aperto nos estoques, a quebra sul-americana na safra 2011/12 e a quebra nos Estados Unidos aumentam a necessidade de atender o mercado internacional e criam um cenário favorável para bons preços”, pontua.
Fonte: Gazeta do Povo/PR / Igor Castanho
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