Total terá estratégia agressiva no Brasil
A decisão do governo de adotar a partilha de produção no setor de petróleo brasileiro, dando o controle de todos os projetos para a Petrobras, ainda não tirou o interesse de empresas estrangeiras pelo país. Esse é pelo menos o caso da francesa Total, cujo diretor-geral, Patrick Pluen, aguarda a 11ª Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP). O leilão foi adiado para o início de 2010 devido a dificuldades de obtenção, pelo Governo Federal, de licenças ambientais. Pluen diz que, a princípio, também se interessa pelos projetos de partilha, sob os quais a empresa opera em países da África, como Angola e Nigéria.
"A preocupação é que sejam feitos leilões para a empresa ter oportunidades de crescimento, seja fora da área do pré-sal ou futuros leilões que vão incluir áreas de dentro e fora do pré-sal. Vamos olhar tudo. Entendo que o próximo leilão (da ANP) será em 2010 e já estamos estudando", afirma o executivo.
Com faturamento de € 179 bilhões em 2008, lucro operacional de € 13,9 bilhões, produção de 2,34 milhões de barris e operando em 40 países, a Total tem intenção de crescer mais no Brasil, onde tem pouca atividade de exploração e produção apesar de ser a segunda maior produtora de gás da Argentina e sócia da Petrobras nos campos de San Alberto e San Antonio na Bolívia. A empresa também é detendora de gasodutos no Cone Sul, tendo 9,74% do Gasbol.
Em recente entrevista à Bloomberg em Paris, o diretor de exploração e e produção da companhia, Yves-Louis Darricarrere, disse que a empresa planeja investimentos de US$ 18 bilhões por ano nos próximos anos e gostaria de parcerias com a Petrobras, nova "darling" do mercado desde a descoberta do campo de Tupi. "As descobertas no Brasil vão precisar de financiamento e grandes conhecimentos técnicos e o montante dos recursos a ser empregado vai abrir a porta para companhias de petróleo internacionais". disse o executivo.
A Total tem quase 3 mil funcionários no Brasil, espalhados por São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, a maior parte em empresas da área química de especialidades, como define Pluen. Entre as controladas da francesa estão a Hutchinson, que produz borrachas para automóveis e aviação e que abastece o Brasil, Argentina e até o México. A Total tem ainda a Bostik Findley (fabricante de adesivos), a Cray Valley (resinas especiais), a Atotech e a Mucambo/Mapaspontex, que fabrica luvas cirúrgicas em Ilhéus (BA) e tem uma linha de produtos infantis como bicos e mamadeiras. A empresa também produz lubrificantes das marcas Total e Elf.
Na área de exploração a Total é sósia da Petrobras e da Devon no campo de Xerelete, descoberto no bloco BC-2 da bacia de Campos. As sócias aguardam aprovação da ANP para uma unitização dessa área com o bloco BM-C-14, que tem apenas a Petrobras e a Total como sócias. As duas áreas são da chamada Rodada Zero, quando parcerias foram negociadas diretamente com a Petrobras antes do primeiro leilão da ANP, em 1999.
Patrick Pluen explica que o objetivo é perfurar a área de Xerelete para alcançar o pré-sal, mas não detalha o assunto explicando que ele ainda precisa ser decidido entre os parceiros. Essa decisão só deve ocorrer após a proposta de unitização ser aprovada pelo órgão regulador. Mas a Total quer aumentar sua atividade no país. "Temos ambições fortes de crescer no país e ter um portfolio que esteja em linha com o tamanho da Total. Os dois blocos são uma base, ainda pequena, que queremos ampliar."
O executivo explica que uma descoberta no pré-sal em Xerelete pode mudar o potencial do campo. E será também uma oportunidade para tentar desenvolver tecnologias que tragam custos menores, como a separação da água do óleo no fundo do mar.
Quanto aos projetos de partilha da produção, Pluen diz que ainda é cedo para comentar em detalhes. "O importante é ver quais vão ser as condições econômicas desses contratos, as possibilidades de iniciativa e de proposta dos parceiros na área tecnológica. Olhando isso, vamos decidir. Temos de ver tudo como um conjunto, é preciso esperar os projetos de lei serem votados e a Petro-Sal ser instalada. Precisamos ver como tudo isso vai ser organizado e como vai funcionar. Vamos nos posicionar quando ficarem conhecidas as regras", afirma Pluen.
Ele observa que a Total tem experiência na exploração e produção na Africa - opera em Angola, Nigéria (onde tem a Petrobras como sócia no campo Akpo) e Gabão, entre outros - e esse conhecimento poderá ajudar a empresa a "entender" a costa brasileira, já que ela tem a mesma idade geológica da costa da africana. No Brasil a empresa foi uma das estrangeiras que assinou contrato de risco com a Petrobras na década de 80 para procurar petróleo, sem nenhuma descoberta.(Fonte: Valor Econômico/Cláudia Schüffner, do Rio)