A semana encerrou com outros dois grandes fabricantes de aço do Brasil, Usiminas e Gerdau, anunciando medidas de cortes na produção de aço devido à forte retração na economia causada pela covid-19. A expectativa do setor é que o consumo aparente de aço pelo mercado brasileiro terá uma redução de 50% em abril, devendo terminar o ano com 20% de baixa. O primeiro passo foi dado pela ArcelorMittal alguns dias atrás.
Ao fim da sexta-feira, a Gerdau informou, em comunicado, que começa a fazer paralisações nas diferentes aciarias elétricas e laminações de aços longos no Brasil durante abril. Também neste mês, a empresa vai parar o alto-forno 2 da usina de Ouro Branco (MG), apto a fazer 1,5 milhão de toneladas de aço por ano. O alto-forno 1, com capacidade de 3 milhões de toneladas, segue operando. “ Essas iniciativas se devem à redução da demanda, principalmente nos setores da indústria e da construção civil”, destacou na nota.
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Já na América do Norte, de onde obtém 40% da receita, diz que as usinas seguem operando normalmente, com níveis de produção a serem ajustados gradualmente ao longo do mês de abril conforme ocorrer redução de demanda na construção e indústria.
Outro segmento importante na Gerdau, o de aços especiais (usados em veículos), tanto no Brasil quanto nos EUA vão ocorrer paradas programadas nas aciarias elétricas e laminações, durante abril. A medida se deve ao nível de estoque existente e aos pedidos de seus clientes. A Gerdau destacou que o setor automotivo dos dois países decretou férias coletivas neste mês, com forte impacto na demanda por esse tipo de aço.
“Na América do Sul, nossas operações no Peru e na Argentina seguem totalmente suspensas, devido a decisões tomadas pelos respectivos Governos Federais, que declararam estado de emergência nacional”, informa. Inclusive as entregas a clientes estão suspensas”
Segundo a empresa, em todas as unidades, “quando necessário”, a opção é por férias coletivas e clientes continuam atendidos conforme necessidades específicas dentro das condições definidas pelas autoridades sanitárias. A empresa observa que o setor é “atividade essencial” por ser o aço insumo estratégico na construção de hospitais, máquinas, equipamentos e componentes para saúde e segurança.
A Usiminas fez seu anúncio ao fim da quinta-feira, levando a uma forte baixa das ações da empresa no dia seguinte. Mais pessimista com a retomada, conforme analistas, a empresa decidiu abafar dois dos três altos-fornos na usina de Ipatinga (MG) e paralisar a unidade de Cubatão (SP), que só faz laminação de placas.
A avaliação é que a Usiminas não vê recuperação do mercado no curto prazo. Um dos grandes clientes, o setor automotivo do país - cerca de 35% das suas vendas - parou de fabricar veículos.
“Mostra uma situação bem mais grave na carteira de pedidos. Reduzir em 40% a sua produção é porque está se programando para uma queda de 50% nas vendas no segundo trimestre. Abafar um alto-forno é uma das últimas medidas a serem tomadas. Demora muito para retomar a operação”, diz fonte do setor. “Se está assim para a Usiminas, está também para a CSN [concorrente]”, acrescenta.
Em relatório, os analistas Caio Ribeiro e Gabriel Galvão, do Credit Suisse, avaliam que a decisão aponta para uma situação complicada no item faturamento nos próximos meses. “Este evento é claramente negativo, em nossa opinião, do ponto de vista de ganhos, pois não apenas indica que as condições de demanda serão significativamente mais fracas à frente, mas que os custos provavelmente também aumentarão”, afirmam.
Eles estimam que a queda no lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) na siderúrgica pode chegar a R$ 100 milhões neste trimestre, considerando uma parada dos altos-fornos por três meses. No entanto, a Usiminas poderá ter um reforço no caixa com corte de R$ 400 milhões nos investimentos do ano e o recebimento de R$ 390 milhões do fundo de pensão da empresa e outros R$ 300 milhões da Eletrobras, por empréstimos compulsórios. “A Usiminas está em uma posição muito melhor hoje para suportar quedas consideráveis no Ebitda, devido à sua baixa alavancagem, de 1,6 vez. No geral, uma crise de liquidez é muito improvável, diferente do que se em 2015 e 2016.”
Fonte: Valor