BRASÍLIA - A sequência de vazamentos de petróleo nos últimos meses no Brasil levanta discussões sobre a forma de controle desses acidentes. Na visão do assessor da diretoria da Agência Nacional do Petróleo (ANP) Silvio Jablonski, não há risco zero de vazamentos. Portanto, mesmo que sejam exigidos mais esforços das petroleiras, a forma de combatê-los é um debate constante.
Recentemente, governo, ambientalistas e indústria ampliaram a discussão sobre o uso de dispersantes químicos no país. Eles funcionam como uma espécie de detergente contra a gordura, dissipando o óleo concentrado no mar. Foram usados no vazamento de Tramandaí, envolvendo a Transpetro, no Rio Grande do Sul, em janeiro, mas descartados no vazamento da Chevron, no campo de Frade, em novembro.
Setores do Executivo defendem que o uso de dispersantes químicos seja melhor regulamentado. Segundo a norma atual, o dispersante é usado somente se resultar em menor prejuízo ambiental, quando comparado ao efeito causado por um derrame sem qualquer tratamento. Também pode ser usado como alternativa ou, ainda, opção adicional à contenção e recolhimento mecânico, no caso de ineficácia desse procedimento.
A discussão sobre o uso de dispersantes foi ampliada porque o produto químico pode causar danos à fauna e à flora. O uso desses produtos é regulamentado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e para produzir, importar ou comercializá-los é preciso fazer registro no Ibama. Até novembro, estavam cadastrados dois tipos: Ultrasperse II e o Corexit EC 9500.
O professor Luiz Horta, ex-diretor da ANP, defende o uso prioritário do sistema mecânico. Para ele, a vantagem é que esse sistema tira o óleo do mar, enquanto o dispersante o mistura com a água, e o óleo afunda:
- É como limpar uma pia suja. Primeiro, passa-se o papel toalha, mas depois é preciso usar detergente.
A coordenadora de Clima e Energia do Greenpeace Brasil, Leandra Gonçalves, explica que o dispersante não acaba com o petróleo, mas quebra o produto em partículas muito pequenas, invisíveis a olho nu, que afundam no mar. Quando ocorreu o problema no Golfo, equipes do Greenpeace fizeram coletas na região e verificaram que existia toxicidade tanto de petróleo quanto do dispersante nos microcorais, que servem de alimentos para os peixes menores. Isso significa que os resíduos acabam atingindo toda a cadeia alimentar.
- A indústria de petróleo é de alto risco e precisamos ver se o país está realmente preparado para ela. É necessário ter um plano de contingência - diz.
Para o professor Edmar Almeida, coordenador do Grupo de Energia do Instituto de Economia da UFRJ, as consequências do uso de dispersantes, se vão levar ao extermínio da fauna e da flora, dependem do tipo de produto químico utilizado e do tipo de concentração.
- Em geral, a posição das empresas é que o tipo de concentração de produtos químicos na água seria tão insignificante que não afetaria a água - disse.
Segundo o professor, dependendo do tipo, o óleo desaparece por evaporação. Em outros casos, afunda e pode afetar a vida marinha. Ele considera que este tema ainda tem muito a ser pesquisado:
- Não existe uma visão pacificada entre os especialistas.
Recentemente, o Ibama emitiu nota técnica, encaminhada ao Instituto Brasileiro de Petróleo, propondo atualizações tecnológicas para prevenir vazamentos, como visualização aérea noturna com sistema infravermelho, que torna a identificação de manchas tão eficiente quanto a visão a olho nu durante o dia. A nota deve evoluir para um termo de referência que passaria a ser adotado por todos os produtores do país.
Fonte: Yahoo
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