RIO DE JANEIRO - A Vale, maior produtora de minério de ferro do mundo, estuda vender alguns de seus menores ativos e outros recursos que fogem da atividade principal de mineração para concentrar investimentos em grandes projetos de maior interesse da companhia.
O diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Tito Martins, disse em entrevista ao Reuters Summit de Mineração e Metais que existe mesmo a possibilidade de venda de ativos de carvão na Colômbia, conforme recentes relatos de potenciais compradores.
Além disso, há chance de venda de concessões de petróleo e gás detidas pela companhia no Brasil, disse ele, e de "outros ativos em diferentes partes do mundo", para que a companhia possa se concentrar em projetos de fertilizantes e minério de ferro.
"É uma questão de escolha; nós temos que escolher o que nos cabe melhor... Estamos olhando a possibilidade de (vender ativos de) óleo e gás e alguns projetos menores", disse Martins ao evento promovido nesta semana pela Reuters com executivos do setor de mineração.
A Vale começou a revisar o destino dos investimentos no final do ano passado, com o objetivo de fazer frente a projetos prioritários bilionários, entre os quais o desenvolvimento de reservas de potássio na Argentina e no Brasil e a expansão de Carajás, a maior mina de ferro a céu aberto do planeta.
"O que estamos fazendo neste momento é olhar alguns ativos não apenas na Colômbia, mas em diferentes lugares do mundo", afirmou, ao ser indagado sobre a possibilidade de se desfazer de minas de carvão no país sul-americano.
A Vale pagou pouco mais de 300 milhões de dólares pelos ativos colombianos, há alguns anos.
Já os investimentos necessários para desenvolver as reservas de petróleo e gás no Brasil em parceria com outras empresas ficaram maiores que esperado, disse Martins.
A companhia possui participações em 19 blocos em quatro bacias petrolíferas do Brasil, com sócios como Shell e Petrobras -desde 2008, foram perfurados 14 poços no Brasil, que resultaram em cinco descobertas, nas bacias de Santos e Espírito Santo, segundo informação do site da Vale.
"Nós estamos reavaliando isso neste momento para ver se manteremos, venderemos ou se traremos novos sócios (para diluir o valor do investimentos)", acrescentou o executivo da Vale.
Grandes Projetos
A Vale investiu no ano passado US$ 18 bilhões, valor abaixo dos US$ 24 bilhões inicialmente previstos, alegando principalmente problemas com licenciamento ambiental. Para 2012, a mineradora planeja investir cerca de US$ 21 bilhões.
Com capacidade de produção anual de 90 milhões de toneladas de minério de ferro, Serra Sul, o maior projeto de ferro da Vale, conta com investimentos estimados em US$ 8 bilhões. A licença prévia para o projeto é esperada para o primeiro semestre de 2012, lembrou Tito Martins.
A mina de potássio em Rio Colorado, na Argentina, citada por Martins, está entre os projetos que consumirão mais recursos neste ano, com previsão de investimentos de US$ 1,08 bilhão, segundo seu plano de investimentos. A mina deve começar a produzir no segundo semestre de 2014, com investimentos totais de US$ 5,9 bilhões.
Não quer elevar fatia na CSA
A Vale não pretende comprar a fatia da ThyssenKrupp na Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), se companhia alemã decidir vender parte da planta instalada no Rio de Janeiro.
"Se eles vierem para nós com essa possibilidade, nós não temos intenção de adquirir uma participação adicional na planta", afirmou Martins, ao ser questionado sobre a possibilidade de venda pelo grupo alemão.
A companhia brasileira possui cerca de 25% da CSA, com a Thyssen detendo a maior parte.
"Não temos intenção alguma de nos tornarmos um produtor de aço", acrescentou ele, sobre a estratégia da companhia de ter somente participações em siderúrgicas.
Um dos maiores investimentos da Vale neste ano é a siderúrgica que será construída no Ceará, em parceria com a coreanas Posco e Dongkuk. Com 50% da planta, a mineradora espera investir US$ 563 milhões em 2012. A operação da siderúrgica é prevista para o primeiro semestre de 2015.
Navios
A Vale deverá resolver nos próximos meses a questão da entrada de seus meganavios na China, disse o executivo.
O governo chinês condicionou recentemente a entrada dos navios gigantes nos portos daquele país à obtenção de autorização que deve ser concedida caso a caso.
A Vale disse que a questão é técnica, mas operadores locais afirmam que o governo pode ter sido influenciado pela indústria de frete local, contrariada com a queda do custo de transporte causado pelos navios chamados de Valemax.
Suíça
A Vale está discutindo na Justiça a cobrança de impostos que o governo da Suíça submeteu à companhia recentemente. "Nós vamos nos defender porque não achamos nada errado em relação a essa questão", afirmou o executivo.
O governo da Suíça multou recentemente a Vale em 212 milhões de francos suíços (equivalente a US$ 233 milhões) por considerar que a companhia descumpriu um acordo de redução de impostos em 2006. A companhia já havia depositado outros 284 milhões de francos suíços (US$ 310 milhões) em cobranças feitas pela Suíça, valores referentes ao período de 2006 a 2009.
"Temos um acordo que assinamos em 2006 com Cantão de Vough pelo qual somos permitidos a ter algumas operações comerciais naquela província específica. No nosso ponto de vista, estamos livres de todas as obrigações e estamos em acordo com as coisas que dissemos e prometemos", acrescentou.
A mineradora brasileira também trava uma luta tributária com o fisco brasileiro, que cobra da companhia e de outras multinacionais imposto de renda sobre lucros obtidos no exterior, em cobrança que pode passar de R$ 30 bilhões de reais para a mineradora.
(Fonte: Reuters/Sabrina Lorenzi e Jeb Blount. Com reportagem adicional de Carole Vaporean, em Nova York)
PUBLICIDADE