A Vale quer capturar o real valor do minério de ferro de alta qualidade produzido pela empresa. Com esse objetivo, a mineradora pretende criar um índice para precificar o minério de Carajás com maior teor de ferro. O índice está sendo chamado pela Vale de IOCJ 65%. "A Vale espera fornecer liquidez ao índice IOCJ 65% gerando credibilidade e transparência à referência de preços", afirmou a empresa em uma apresentação para analistas de bancos e corretoras feita, na sexta-feira, no Rio, pelo diretor-executivo de finanças da companhia, Luciano Siani.
Hoje a principal referência de preços para o minério de ferro vendido no mercado internacional é o Platts Iron Ore Index (Iodex). Esse índice se baseia em especificação padrão para os finos de minério com teor de ferro de 62%. O Iodex divulga diariamente prêmios que são pagos de acordo com pontos percentuais adicionais de teor de ferro. Esse prêmio situava-se, ontem, na faixa de US$ 1,75 por tonelada, mas já foi bem maior. Também são aplicados descontos para minérios com menor teor de ferro.
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Com base nesses números, um minério de ferro com teor 65% teria um prêmio de US$ 5,25 por tonelada sobre o Iodex 62%. Mas em um mercado em que prevaleça no futuro o minério de ferro de maior qualidade, como o de Carajás, a Vale conseguiria assegurar prêmios ainda maiores pelo seu produto, segundo analistas ouvidos pelo Valor e que participaram do encontro com Siani, na sexta. Hoje o mercado tem oferta de produtos de menor qualidade, o que significa um desconto maior para minérios de menor teor de ferro.
"O aumento da oferta com baixo teor [58% de ferro] aliado a pressões ambientais vai fazer com que o prêmio do minério com maior concentração seja maior", disse a Vale na apresentação aos analistas. O Valor enviou perguntas à empresa tentando detalhar a proposta do IOCJ 65%, mas não teve retorno até o fechamento desta edição. A avaliação de mercado é que a ideia é "incipiente". Um analista disse que é preciso avaliar o que faz um índice ser referência de mercado. Depende de vários fatores como liquidez, participação de vários agentes e da existência de garantias para evitar eventuais riscos de manipulação, apontou.
Um analista disse que existem duas tendências que deveriam levar a um prêmio maior para minérios de alta qualidade. Há expansões de minas na Austrália de produtos de mais baixa qualidade e, ao mesmo tempo, pressões da China para reduzir a poluição. Com minério de ferro de maior qualidade, pode se usar menos carvão nos altos fornos das siderúrgicas, o que gera menos emissões de gases, afirmou.
Na apresentação, a Vale disse que o aumento esperado na qualidade do seu produto vai representar valor adicional ao minério de ferro produzido pela companhia. Esse valor irá variar dependendo do prêmio associado ao teor de ferro, afirmou a empresa.
De acordo com as informações divulgadas na apresentação, a Corretora Itaú BBA divulgou relatório no qual afirma que, em média, o minério de maior qualidade da Vale deve atingir um teor de ferro de 65% em 2018 - ante os 64% atuais. O aumento do percentual se relaciona com investimentos na Serra Sul de Carajás (mais 90 milhões de toneladas por ano) e em Minas Gerais (mais 26 milhões de toneladas por ano). Esse acréscimo de um ponto percentual no teor de ferro no minério de maior qualidade poderá se traduzir em US$ 1 bilhão adicional de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) para a companhia a partir de 2018.
(Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes | Do Rio