Apesar do recorde de produção em 2015, a Vale deve anunciar resultados financeiros mais fracos, na comparação com 2014, quando divulgar amanhã, antes da abertura dos mercados, o balanço da companhia relativo ao quarto trimestre do ano passado. Entre os analistas, há quem projete que a empresa deve fazer provisões para cobrir despesas não recorrentes, incluindo obrigações que terá com o caso Samarco. Um analista estimou que esse ajuste poderá ficar em cerca de US$ 1 bilhão.
As projeções de sete bancos ouvidos pelo Valor apontam para uma receita média, no caso da Vale, no quarto trimestre de 2015, de US$ 6 bilhões, queda de 33% sobre os US$ 9 bilhões registrados pela companhia no mesmo período do ano passado. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) deve situar-se, também em média, em US$ 1,47 bilhão no quarto trimestre, segundo projeção dos mesmos bancos. O número representa queda de 32% sobre o Ebitda de US$ 2,18 bilhões registrado de outubro a dezembro de 2014.
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As projeções para a última linha do balanço da mineradora variam. Vão de um lucro de US$ 80 milhões, no quarto trimestre de 2015, até um prejuízo de US$ 2 bilhões. A maioria das casas de análise aposta em um prejuízo, no período, que situa-se entre US$ 165 milhões e US$ 311 milhões. As projeções foram feitas pelos bancos Itaú BBA, Bradesco, Deutsche, Citi, HSBC, BTG Pactual e J .P. Morgan.
O J.P. Morgan estimou vendas de US$ 6,3 bilhões, Ebitda de US$ 1,7 bilhão e prejuízo de US$ 311 milhões para a Vale no quarto trimestre. Em relatório, os analistas do banco disseram que os investidores estarão interessados em atualizar informações sobre o caso Samarco e seu potencial impacto direto e indireto na Vale. A corretora Itaú BBA disse, em relatório, que o quarto trimestre poderá incluir ajustes não caixa e possíveis provisões relacionadas à Samarco. Não estimou, porém, o valor dessas provisões. Nas contas da Itaú BBA, a Vale deve registrar receita de US$ 6,3 bilhões, Ebitda de US$ 1,7 bilhão e lucro de US$ 165 milhões no quarto trimestre de 2015.
"O balanço vai mostrar a história dos preços [do minério de ferro] no mercado no ano passado", disse analista. Em 2015, o preço médio do minério com 62% de teor de ferro no mercado à vista da China situou-se em US$ 55 por tonelada, segundo analistas. Em 2014, esse mesmo preço médio havia sido de US$ 97 por tonelada. A queda no preço no mercado "spot" de um ano para o outro foi de 43%. O preço realizado pela Vale deve seguir padrão semelhante. Entre os analistas, há projeções de que o preço médio realizado pela mineradora no ano passado ficou na faixa de US$ 45 por tonelada, US$ 30 a menos do que o preço realizado em 2014, de US$ 75 por tonelada. A Itaú BBA, por exemplo, projeta média de US$ 40,4 por tonelada para os finos de minério, o principal produto da Vale, no quarto trimestre, queda de 13,1% sobre o terceiro trimestre do ano passado.
No acumulado de 2015, seis bancos preveem receita líquida média para a Vale de US$ 25,9 bilhões. O número representa queda de 31% sobre os US$ 37,5 bilhões registrados de receita pela Vale em 2014. O Ebitda projetado pelos bancos para o ano passado ficou, na média, em US$ 7,17 bilhões, redução de 46,3% sobre os US$ 13,35 bilhões de 2014. Para a última linha do balanço no acumulado de 2015, os bancos têm projeções diversas. Há coincidência que haverá prejuízo, mas a questão é o tamanho do rombo. As estimativas de prejuízo vão de US$ 972 milhões até US$ 8,1 bilhões, passando por números intermediários, na faixa de US$ 3,5 bilhões. O Bradesco previu receita de US$ 25,4 bilhões, Ebitda de US$ 6,87 bilhões e prejuízo de US$ 972 milhões em 2015. Já o Deutsche estimou receita de US$ 25,6 bilhões, Ebitda de US$ 6,9 bilhões e prejuízo de US$ 3,8 bilhões para a Vale no ano passado.
A desvalorização do real frente ao dólar em 2015 foi positiva para a Vale, pelo lado dos custos, uma vez que grande parte dos gastos da empresa são em reais. Mas a desvalorização cambial tem impacto negativo sobre a dívida em dólares da companhia. Para 2016, há bancos estimando receita na casa dos US$ 23 bilhões e Ebitda de US$ 6 bilhões para a Vale. Ainda será um ano difícil para a companhia.
Fonte:Valor Econômico\Francisco Góes | Do Rio