A expansão da Vale no segmento de fertilizantes, confirmada ontem com a aquisição de ativos de mineração da Bunge no país, por US$ 3,8 bilhões em dinheiro, promete tornar-se ainda mais agressiva no futuro próximo. Já a Bunge, com o caixa cheio, tende a acelerar sua expansão no segmento de açúcar e álcool no país, no qual já é a terceira maior.
Esta é a opinião de analistas e executivos consultados pelo Valor, que enxergam nos dois movimentos mudanças estruturais importantes.
De um lado, dizem os especialistas, a tacada da Vale, que inclui a fatia de 42,3% da Bunge na Fosfertil - entre participação na holding controladora da empresa (Fertifos) e presença direta -, quebra o domínio das grandes multinacionais na produção de matérias-primas para fertilizantes no Brasil e sugere uma ampliação mais agressiva de investimentos na expansão de capacidade.
De outro, a presença de grandes grupos como Bunge e Louis Dreyfus em açúcar e álcool colabora para a profissionalização e expansão do segmento, liderado pela brasileira Cosan e que também tem bom cenário de avanço em ambas as frentes.
Para conseguir dar o salto estratégico de se transformar em líder global em fertilizantes, a Vale terá que partir para novas compras no Brasil e no exterior. Para Marcos Assumpção, analista do Itaú, a brasileira Copebrás, colocada à venda pela sul-africana Anglo American, poderá seguir no foco da mineradora, apesar do negócio com a Bunge e do valor estimado para a transferência de seu controle, de até US$ 1,5 bilhão.
Assumpção não crê que a Vale terá problemas no Cade por causa da Copebrás, já que a demanda brasileira depende de importações. Pedro Galdi, analista da SLW, acredita que a Vale tentará comprar as participações das multinacionais Mosaic (controlada pela americana Cargill) e Yara (Noruega) na Fertifos, avaliadas no mercado em US$ 1,8 bilhão.
"A Vale tentará comprar as partes da Mosaic [33,43%] e Yara [12,77%] na Fertifos [que tem 81,53% da Fosfertil] e a participação direta [8,65%] da Yara na Fosfertil. Há diferenças de gestão entre as múltis e a Vale e a Yara, que não foi consultada pela Bunge no negócio com a Vale, só comprou suas fatias na Fosfertil para evitar um domínio maior da Bunge", afirmou um executivo do setor.
Segundo a Bunge, a Vale pagou US$ 1,65 bilhão pela Bunge Participações e Investimentos, holding criada só para o negócio confirmado ontem. Esta frente, que inclui negócios independentes da Fosfertil, envolve duas minas de rocha fosfática e quatro plantas de produção de fertilizantes fosfatados. A estrutura de vendas ao consumidor final continua com a Bunge, que também segue com ativos não-minerais em Argentina e Marrocos.
Conforme a multinacional, a Vale pagou US$ 2,15 bilhões pela fatia total de 42,3% na Fosfertil, que opera três minas de rocha fosfática e cujo valor de mercado, segundo Galdi, está em US$ 4,9 bilhões. "Na ponta do lápis, o percentual adquirido pela Vale valia US$ 2,07 bilhões. Houve um pequeno prêmio pelo ativo".
"Foi forte a pressão da Vale sobre nós no último ano. Só tínhamos mina no Brasil, e quando consideramos o valor justo, concordamos", disse o brasileiro Alberto Weisser, CEO da Bunge, ao Valor, que confirmou que o principal foco da empresa no país no momento está em açúcar e álcool.
Para os analistas Galdi e Assumpção, os planos de expansão da Vale em fertilizantes incluirão novas aquisições no exterior. Em 2009, especulou-se sobre um namoro com a Mosaic envolvendo minas no exterior, mas a Vale negou. Para o Itaú, a Vale vai se interessar mais pelo fosfato, onde pode ser líder mais facilmente.
Em comunicado, Roger Agnelli, presidente da Vale, confirma: "Esta operação é de fundamental importância para a consolidação da estratégia da Vale em focar o Brasil como o grande mercado de sua produção de fosfatados, tendo em vista o potencial das minas locais, bem como o crescimento associado aos projetos desenvolvidos no exterior, como Bayóvar e, no futuro, Evate, todos com produção prioritariamente destinada ao mercado brasileiro". (Fonte: Valor Econômico/ernando Lopes e Vera Saavedra Durão, de São Paulo e do Rio)
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