A Vale anunciou ontem novo recorde de produção de minério de ferro para um primeiro trimestre: de janeiro a março, a empresa produziu 74,5 milhões de toneladas, alta de 4,9% sobre igual período do ano passado. A mineradora também registrou recordes de produção para níquel e cobre nos três primeiros meses do ano. Entre analistas, a avaliação é que a mineradora vai continuar a aumentar a produção de minério de ferro, apesar das difíceis condições de mercado, pois está entrando na fase final de investimento em grandes projetos que vão lhe permitir ganhar ainda mais escala e reduzir custos. Ontem, o minério com teor de 62% de ferro negociado no porto de Tianjin, na China, avançou 4,1%, para US$ 52,90 a tonelada. Mas no ano a commodity ainda registra queda de 25,7%.
A recuperação do minério de ferro levou a ação da Vale a ter forte alta, ontem, na BM&FBovespa. A ação preferencial da companhia teve a maior alta da bolsa no dia e fechou cotada a R$ 16,46%, alta de 9,80% em relação ao pregão de segunda-feira. A ação ordinária fechou cotada a R$ 19,45, variação de 9,70% sobre o fechamento de segunda-feira. No ano, porém, a ação preferencial da empresa acumulava perda de 11,55% e a ordinária, de 8,73%, até ontem.
Mesmo com mais um aumento na produção, o que ajuda a pressionar a cotação da commodity, o mercado mostrou maior otimismo com ação da empresa. O fato se relacionou, segundo analistas, com a alta nos preços do minério de ferro na China. Há algum tempo a Vale vem sendo vista no mercado como uma referência do que acontece na economia chinesa. Assim, a ação da mineradora oscila de acordo com as notícias que vem da China. Em 2014, a Ásia representou 51,2% da receita bruta da Vale e a China sozinha, 33,1%. Em 2013, a participação chinesa individualmente havia sido de 40,1%.
Também ontem a BHP informou que seu projeto de remoção de gargalos na infraestrutura para embarques de minério de ferro no porto do Hedland, na Austrália, está atrasado. O projeto deve aumentar a capacidade em 20 milhões de toneladas anuais. O atraso ajudaria a aliviar levemente a expectativa de sobreoferta, mas Melinda Moore, do Standard Bank, disse que as vendas, para as maiores produtoras, seguem aumentando. Outro alívio para os preços vem da própria China, não pelo lado da demanda, mas da capacidade. Notícias sobre mais minas de alto custo no país que estão fechando suas operações circulam no mercado, tentando evitar o contínuo prejuízo com os atuais preços, disse Moore.
De acordo com Paul Gait, chefe de análise do setor para a Bernstein Research, nenhum investidor se anima com os recordes de volume de minério de ferro extraído pela Vale. Isso porque os projetos que adicionam capacidade, entre os quais os da Vale, contribuem para superar o crescimento da demanda chinesa e ajudam a derrubar os preços. As anglo-australianas BHP Billiton e Rio Tinto foram as primeiras entre as grandes mineradoras a adicionar capacidade. O acréscimo da Vale demorou mais para ocorrer, mas está em curso e ainda vai se intensificar.
Gait avaliou que os números de produção anunciados ontem pela Vale mostram que a companhia teria muito espaço para ganhar a cada recuperação dos preços do minério de ferro. Se a cotação avançar a patamares mais próximos do fim de 2014, por exemplo (US$ 71 por tonelada), certamente a ação da empresa subiria bem mais que a de suas concorrentes. "Mas eu nunca recomendaria se expor assim ao investimento como uma estratégia", afirmou. Um analista disse que a Vale é hoje uma empresa de margens baixas.
No mercado, a avaliação foi de que a produção da Vale no primeiro trimestre ficou dentro das expectativas. A produção de minério de ferro da empresa de janeiro a março, de 74,5 milhões de toneladas, foi 3,5 milhões de toneladas superior à produção de 71,1 milhões de toneladas registrada no mesmo período do ano passado, quando a mineradora também havia registrado recorde de produção. Os números excluem a compra de produto de terceiros e também a fatia atribuível à Samarco, empresa na qual a Vale detém 50%.
O bom desempenho operacional pode ser atribuído ao crescimento da produção em Carajás, em Parauapebas, no Pará. Carajás produziu 27,5 milhões de toneladas de minério de ferro de janeiro a março, a melhor performance para um primeiro trimestre. O volume ficou 4,2 milhões de toneladas acima do primeiro trimestre de 2014. O sistema sudeste da Vale, em Minas Gerais, manteve, de janeiro a março, a produção em linha com o primeiro trimestre do ano passado. O sistema Sul, também em Minas Gerais, registrou queda sobre igual período de 2014. Essa redução foi influenciada por chuvas registradas no primeiro trimestre do ano.
Em Carajás, a Vale está colhendo os frutos dos investimentos que fez para ampliar a produção na região. A chamada Planta 2 de beneficiamento de Carajás está em fase de crescimento da produção e deve estar trabalhando em ritmo de plena capacidade a partir do fim deste ano. Na Serra Leste de Carajás, município de Curionópolis (PA), a mineradora também investiu em sistema de beneficiamento que vai contribuir para o crescimento da produção na região.
Como perspectiva de curto prazo, a Vale conta ainda com a produção na mina N4WS, na serra Norte de Carajás, cujas operações começaram no fim de 2014. Essa mina permitirá à Vale produzir com menores custos obtendo produto com teor de ferro médio de 66,5%. Essa mina é importante para os planos de produção da Vale em 2015 e 2016. Produtos com maior teor de ferro, como o de Carajás, contam com prêmios em relação aos preços de mercado. O mesmo é válido para as pelotas, produto no qual a Vale registrou produção de 11,4 milhões de toneladas de janeiro a março, 1,5 milhão de toneladas acima do mesmo período de 2014 em função do aumento da produção na planta VIII de Tubarão, no Espírito Santo.
No níquel, a produção também está em crescimento. A Vale reportou produção de 69,2 mil toneladas de níquel no primeiro trimestre do ano, melhor performance para um primeiro trimestre. No cobre, a produção foi de 104.600 toneladas, alta de 21,7% sobre igual período de 2014.
Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes e Renato Rostás | Do Rio e São Paulo
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