A Vale vai aplicar de forma inédita no minério de ferro tecnologia usada nas minas de carvão. A novidade consiste em utilizar correias transportadoras móveis ao invés de caminhões fora de estrada. Será a primeira vez que esse modelo de exploração funcionará em larga escala em uma mina de minério de ferro. O novo sistema irá operar em meio à Floresta Amazônica em um bloco do maciço de Serra Sul, em Canaã dos Carajás, no Sudeste do Pará. É o maior projeto da história da Vale, com produção de 90 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, a partir do fim de 2014, volume a ser garantido por investimentos de US$ 6,77 bilhões.
A tecnologia, que dispensa o uso de caminhões, é conhecida na mineração como truckless. O sistema vai ser desenvolvido no bloco de Serra Sul chamado S11D, uma faixa de cordilheira de 30 km de extensão por cerca de 1,8 km de largura. No futuro, esse tipo de exploração poderá ser estendido, em menor porte, a outras minas de ferro da empresa.
O truckless reduz custos operacionais e permite diminuir emissões de gás carbônico. Se a mina S11D fosse operada por caminhões fora de estrada, teria 100 veículos circulando, os quais iriam consumir 65 milhões de litros de diesel por ano. Com as correias, o consumo de diesel será de 15 milhões de litros anuais, economia de 77%. Só tratores de esteiras e outras máquinas auxiliares continuarão consumindo o combustível. Os principais equipamentos serão movidos a energia elétrica. Haverá redução de CO2 em idêntico percentual ao do diesel e deixarão de ser usados 174 pneus de grande dimensão que são trocados a cada ano nos caminhões (cada pneu tem mais de três metros de altura).
O projeto do truckless envolveu equipes de engenharia do Brasil, Canadá e Austrália, país que tem experiência nessa tecnologia e onde a Vale tem operação de carvão. Um dos desafios da Vale no S11D - projeto que levou cinco anos e exigiu US$ 100 milhões para ser desenvolvido - será formar mão de obra para trabalhar a mina de minério à semelhança da operação de carvão. O bloco em Serra Sul também vai inovar ao utilizar equipamentos que serão fabricados e instalados em módulos, conceito desenvolvido pela indústria de petróleo e utilizado pela Petrobras na montagem de plataformas marítimas.
Mas um dos principais ganhos da tecnologia, além da economia operacional e da redução nas emissões de gases do efeito estufa, será permitir instalar fora da floresta, em uma área de pastagem, a usina de beneficiamento que vai processar o minério, diz Jamil Sebe, diretor de projetos ferrosos da Vale no norte do país. Ao colocar a usina em área ocupada pelo homem, são reduzidos os impactos sobre a floresta causados pela atividade mineradora, como a produção de resíduos e de lixo.
"A aplicação do truckless no S11D vai representar um grande passo [em termos de sustentabilidade] e a tendência é de que o sistema seja um exemplo a ser seguido em outros projetos greenfield [novos]", diz Sebe. Segundo ele, o bloco foi escolhido para receber a tecnologia devido às suas características: uma lavra longilínea e cujo minério é bastante homogêneo em qualidade. Isso faz com que a realocação das frentes de lavra se dê em velocidade menor.
Ao todo, serão instalados no bloco 37 km de correias transportadoras distribuídas dentro da mina, incluindo ramais que vão se conectar ao tronco principal a ser estendido por 9,5 km até a usina de beneficiamento. O ponto máximo de coleta do minério poderá chegar a 15 km. O sistema inclui escavadeiras que coletam o material na mina e o jogam em britadores móveis que alimentam as correias. Entre o platô onde está o minério e a área onde será instalada a usina de beneficiamento, há um desnível de 450 metros. Essa é outra vantagem do sistema, pois a correia consegue vencer essa rampa de forma mais fácil do que o caminhão, que teria de "serpentear" para chegar ao destino. Os caminhões fora de estrada usados na mineração também não conseguem percorrer longas distâncias. O seu uso, portanto, tornaria inviável colocar a usina de beneficiamento fora da Floresta Nacional de Carajás, unidade de conservação dentro da Amazônia.
Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes | De São Paulo
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