A Vale está conseguindo recuperar terreno e até avançar em alguns pontos em relação às suas principais concorrentes: Rio Tinto, BHP Billiton e Fortescue Metals Group (FMG). As três mineradoras australianas vão enfrentar período de maior exaustão de minério de ferro em algumas de suas minas até o começo da próxima década e, como resultado, terão de investir mais para repor capacidade de produção. Já a Vale, que ficou muito tempo sem fazer expansões - e, por consequência, sem poder se beneficiar em maior escala do último ciclo de alta das commodities -, entra agora em nova etapa: vai colocar em operação em janeiro de 2017 o S11D, o maior projeto de minério de ferro da companhia, e não prevê investir em novas reposições de capacidade até 2022.
Relatório recente do banco J.P. Morgan mostrou que o declínio da produção das três maiores mineradoras australianas nos próximos cinco a sete anos ficará na casa de dois dígitos. A Rio Tinto deve registrar exaustão de 50 milhões de toneladas no período, equivalente a 15% de sua produção atual. A BHP Billiton tende a sofrer redução de 80 milhões de toneladas em sete anos, o que corresponde a 31% da produção de 2016. A FMG deve registrar "perda" natural de 25 milhões de toneladas em sete anos, algo como 15% da produção atual.
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No caso da Vale, a exaustão prevista é de 14 milhões de toneladas a partir de 2022, igual a 4% da produção de 2016. Esse volume seria reposto com investimento entre US$ 300 milhões e US$ 400 milhões - ainda não aprovado pelo conselho de administração da companhia - só daqui a sete anos. O maior desembolso para repor capacidade entre as mineradoras australianas seria da Rio Tinto (entre US$ 2 bilhões e US$ 3,5 bilhões), seguida da BHP Billiton (US$ 1,6 bilhão e US$ 3,2 bilhões) e da FMG (US$ 1 bilhão e US$ 1,5 bilhão).
Somados, os investimentos das três mineradoras australianas em reposição de capacidade de produção, alcança valores entre US$ 4,6 bilhões e US$ 8,2 bilhões, segundo o J.P. Morgan. A variação se explica pois são considerados valores mínimos e máximos por tonelada para calcular a expansão. No caso da Rio Tinto, o custo de reposição é estimado entre US$ 40 e US$ 70 por tonelada, diz o banco.
Para um analista, o mais importante é que a Vale sinalizou com investimentos totais menores em 2016 e em 2017, de US$ 5,8 bilhões e US$ 4,5 bilhões, respectivamente. Em 2015, os investimentos totais da companhia ficaram em US$ 8,4 bilhões. "Do investimento previsto [pela Vale] para o ano que vem, US$ 1,5 bilhão deve ser para o S11D, o que mostra que o investimento corrente da empresa em 2017 seria de US$ 3 bilhões, o que é positivo", disse um analista.
No minério de ferro, a companhia vai se concentrar até o fim da década em investimentos em manutenção. A previsão é que a mineradora invista no negócio entre US$ 1,3 bilhão e US$ 1,7 bilhão em 2022, cerca de 85% a menos do que em 2011. O S11D, cuja operação comercial começa em janeiro, terá 90 milhões de toneladas de capacidade, mas esse volume não deve entrar integralmente no mercado até 2020. Dependerá do mercado.
No atual cenário de preços, a prioridade da Vale é reduzir a dívida, o que passa pela venda de ativos e pela melhoria da competitividade. Por essa visão, a Vale conta com uma operação mais flexível segundo a qual a empresa consegue mudar seus planos de lavra (produção) dependendo da demanda. Nessa estrutura, o frete é um dos fatores importantes na estrutura de custos do minério. Como está mais longe da China do que os australianos, a Vale tem um custo mais alto e um tempo de viagem maior até o mercado chinês.
A analistas, em recente encontro, no Rio, a Vale sinalizou que pode aumentar o afretamento no mercado "spot" para aproveitar os preços mais baixos do frete marítimo. Na China, A Vale quer usar centros de distribuição nos portos para vender para um maior número de clientes, inclusive na moeda local (Remimbi).
Na análise comparativa feita pela Vale em relação aos seus principais concorrentes, a mineradora brasileira afirmou aos analistas que fechou o primeiro semestre do ano com o maior lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) no negócio minério de ferro entre as quatro grandes do setor. A Vale registrou Ebitda de US$ 3,9 bilhões de janeiro a junho no segmento minério de ferro ante US$ 3,4 bilhões da Rio Tinto, US$ 2,8 bilhões da BHP Billiton e US$ 1,9 bilhão da FMG.
Fonte: Valor Econômico/ Francisco Góes | Do Rio