A Vale vai revisar para baixo estimativas de preços de minério de ferro e metas de produção de metais em meio ao enfraquecimento da demanda por produtos e à suspensão das operações de unidades de níquel da companhia, revelaram executivos da empresa nesta quinta-feira.
Entre outros desafios, a mineradora também deverá enfrentar nova batalha envolvendo a cobrança de royalties junto ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), em meio a pressões do mercado por melhores resultados.
O grupo de trabalho criado entre a Vale e o DNPM reduziu a base de cálculo dos royalties da mineração que não teriam sido pagos na íntegra pela mineradora. A conclusão sobre a base definitiva abre caminho para o DNPM realizar cobranças que ainda não haviam sido realizadas por falta de consenso sobre o assunto, relativas aos últimos três a quatro anos, afirmou o diretor financeiro da empresa, Tito Martins.
A cobrança do DNPM é um dos temas mais aguardados pelo mercado neste trimestre, segundo indicam relatórios de bancos. Os analistas também aguardam com lupa o movimento dos preços do minério de ferro, carro-chefe da receita da Vale.
As ações da Vale fecharam em alta de 0,77 por cento, recuperando perdas do início da sessão, enquanto o Ibovespa subiu 2,65 por cento.
MENORES QUE O ESPERADO
Os preços do minério de ferro neste ano serão menores do que o esperado anteriormente pela Vale como reflexo do agravamento da crise internacional, disse nesta quinta-feira em teleconferência o presidente da companhia, Murilo Ferreira.
Apesar da revisão, a Vale espera uma recuperação nos preços do produto em breve, uma vez que os patamares atuais, em torno de 120 dólares por tonelada, já estão perto de um piso, afetando produtores chineses com custos mais elevados, disse o diretor executivo de Ferrosos e Estratégia da companhia, José Carlos Martins.
Para a Vale, as medidas de estímulo à economia adotadas pelo governo chinês deverão surtir efeito no segundo semestre, avaliaram os executivos, que participaram de teleconferências nesta quinta-feira para detalhar os resultados da mineradora no segundo trimestre, divulgados na noite anterior.
O lucro da mineradora desabou no segundo trimestre e um dos principais motivos foi a queda no preço do minério de ferro.
"Os preços desceram a patamar de limite inferior e acreditamos que, uma vez chegado nesse nível, muitos produtores de custos mais altos acabarão saindo do mercado..., e com isso a oferta tende a reduzir e os preços se repuperarem", afirmou Martins, em teleconferência com jornalistas nesta tarde.
"Estou otimista com o segundo semestre, a economia chinesa está em processo de ajustamento", acrescentou.
Com custo baixo, a Vale avalia ainda que seria a última a ser afetada por eventual redução no volume de vendas, no caso de um agravamento da crise.
A companhia continua trabalhando com cenário de 120 dólares por tonelada para o piso de venda do produto no mercado internacional, disse Martins, acrescentando ainda que a recuperação esperada para os preços não deverá levar o produto para o nível de 180 dólares, registrado no passado.
Mas o preço praticado pela Vale tem ficado bem abaixo do valor vendido à vista no mercado internacional, entre outras razões, pela queda na qualidade do minério em algumas minas da empresa, processo que a Vale espera reverter com a entrada em operação de novos projetos.
O tombo no lucro da Vale ocorreu em meio a uma queda de 28,9 por cento no preço do minério de ferro na comparação com o segundo trimestre do ano passado, para 103,29 dólares por tonelada.
PROJETOS
A Vale, que já é número um em produção de minério de ferro, adiou a meta de alcançar a liderança em níquel, anteriormente prevista para até o próximo ano, em meio a problemas em novos projetos do metal.
O adiamento na meta ocorre após problemas em algumas unidades da companhia.
A empresa trabalha para retomar as atividades da unidade de níquel de Nova Caledônia no quarto trimestre do ano, enquanto outra operação do metal, no Pará, deverá ficar interrompida por mais alguns meses, disse o presidente da mineradora, Murilo Ferreira.
As metas de produção de níquel e cobre deste ano, de 300 mil toneladas e 340 mil toneladas respectivamente, certamente não serão cumpridas, admitiu a companhia.
O presidente da empresa disse ainda que projeto de potássio Rio Colorado, na Argentina ainda depende de fatores que precisam ser superados, sinalizando que o empreendimento de 5,9 bilhões de dólares continua sendo avaliado, apesar dos investimentos já realizados.
"Não vamos descuidar de alguns fatores para dar continuidade a Rio Colorado", disse o executivo.
A Vale avalia ainda buscar um parceiro para desenvolver o projeto de potássio na Argentina, que esteja disposto a assumir os riscos do empreendimento, segundo o diretor executivo de Fertilizantes e Carvão, Roger Downey.
Fonte: Reuters / Sabrina Lorenzi
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