A Vale usará uma tecnologia inédita na América Latina, inspirada no sistema de exploração de petróleo, para extrair cloreto de potássio de sua mina do projeto Rio Colorado, na Província de Mendoza (oeste da Argentina). Será ainda, de acordo com a empresa, a primeira vez que ela usará essa tecnologia em suas operações próprias. "É uma mina subterrânea não-convencional", diz Francisco Cisne, principal executivo da Vale no país.
A novidade do projeto é que não haverá um único trabalhador no subsolo. Injeta-se vapor pressurizado nos poços, com 1.100 metros a 1.200 metros de profundidade, que produzem uma salmoura fervente. O produto disso, recolhido na superfície, ainda precisa ser separado entre cloreto de sódio (sal) e cloreto de potássio (matéria-prima para fertilizantes agrícolas).
Para executar a exploração, a Vale precisará de 1 milhão de metros cúbicos por dia de gás natural. Sabendo das dificuldades atuais no abastecimento da Argentina, que voltou a enfrentar escassez de gás durante o inverno, a mineradora brasileira negocia com petrolíferas o início de produção nova em uma jazida da região. "Estamos em conversações", despista Cisne, questionado sobre o nome das empresas. O Valor apurou que não é a Petrobras. A YPF, hoje controlada pela espanhola Repsol, tem a maior possibilidade.
Em janeiro de 2009, a Vale comprou ativos da anglo-australiana Rio Tinto por US$ 1,6 bilhão, que incluíam os direitos de exploração de potássio na Argentina e no Canadá, além da mina de ferro em Corumbá. Desde então, a empresa brasileira vem preparando a exploração e obteve recentemente a licença ambiental do empreendimento.
A Vale firmou uma ata-compromisso, já aprovada pelas duas instâncias legislativas de Mendoza, em que promete fazer capacitação de pessoal, priorizar a contratação de mão de obra local e dar preferência às empresas da Província, desde que, na comparação com outros fornecedores, haja igualdade de preços, prazos de entrega e condições de prestações de serviços.
"Nossa grande preocupação é estimular parcerias com empresas locais", frisa Cisne. A Vale também aceitou ceder 1% do faturamento anual bruto da mina, além dos 3% pagos como royalties, para a formação de um fundo de desenvolvimento socioambiental. Houve um desembolso inicial de 48 milhões de pesos (US$ 12 milhões) e, a partir do início da produção, ele deverá receber 44 milhões de pesos por ano. Os recursos serão destinados a investimentos em infraestrutura habitacional, de transportes e meio ambiente. Do total, 51% vão ser aplicados em Malargüe, município que sedia o projeto, e 49% no restante de Mendoza, hoje mais conhecida pela exportação de seus vinhos.
A Vale, como todas as outras mineradoras com interesse na Argentina, acompanha com bastante atenção a tramitação da Lei de Glaciares no Congresso Nacional. O projeto de lei, que visa garantir a proteção das geleiras argentinas, responsáveis por 70% do estoque de água doce do país, já tem meia sanção e será votado no Senado na última semana de setembro. A visão do setor privado é de que, tal como está redigida, a lei torna-se excessivamente abrangente ao referir-se às áreas de "pré-geleiras". Sem uma definição precisa do que seja isso, a avaliação é de que se poderá vetar qualquer tipo de empreendimento ou, no mínimo, haverá riscos judiciais.
A polêmica em torno da nova legislação fez com que a Câmara Mineira de Empresários Mineiros (CAEM) publicasse anúncios de página inteira, em todos os jornais de grande circulação, defendendo as conquistas da mineração para o país. Segundo a câmara empresarial, a atividade já representa 4% do PIB da Argentina, dez vezes mais do que há uma década. Nos próximos cinco anos, ainda de acordo com a CAEM, a expectativa é de receber investimentos de 32 bilhões de pesos (US$ 8 bilhões) e gerar 300 mil empregos. Em 2008, a presidente Cristina Kirchner vetou uma Lei de Glaciares aprovada pelo Congresso, com a justificativa de que traria prejuízos econômicos ao país.
Fonte: Valor Econômico/Daniel Rittner | De Buenos Aires
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