As distribuidoras de aço enfrentam um momento bastante difícil, pressionadas entre um mercado encolhido e perdas da participação de mercado, revelou ontem o presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, após apresentar os números da rede associada durante abril.
O momento, para piorar, é incerto para se prever o consumo de produtos siderúrgicos daqui para frente. A crise política, renovada pelas acusações ao presidente Michel Temer, colocou o setor em compasso de espera, afirmou Loureiro. "As distribuidoras estão sem saber para onde o mercado vai. A ordem é segurar tudo que puder e comprar apenas o essencial", declarou, em entrevista coletiva.
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De janeiro a abril, as distribuidoras filiadas ao Inda venderam 922 mil toneladas de aços planos, queda de 9,8% na comparação anual. O consumo aparente, por outro lado, que também inclui outros embarques internos das siderúrgicas e as importações, subiu 13,1%, para 2,9 milhões de toneladas. A participação do produto estrangeiro no total saltou de 5,9% em 2016 para 12,7%.
Em abril, houve queda de 15,9% perante março, para 213,7 mil toneladas. Ante um ano atrás, o recuo registrado foi de 13,2%.
"O que ocorre é que muitas fabricantes de autopeças, por exemplo, agora preferem comprar direto das montadoras, não da distribuição, porque está mais barato", explicou Loureiro. Esse fenômeno foi causado por um descasamento entre os reajustes para o setor automotivo - que fecham contratos anuais - e para clientes industriais e a distribuição nos últimos anos. "Outra parcela está perdendo espaço para a importação e nossa fatia dos importados também diminuiu."
As dificuldades do segmento derrubaram a aposta do Inda para 2017. A entidade previa aumento de 5% nas vendas durante o ano, mas novos cálculos levaram o instituto a acreditar agora em queda de 2% para o ano. Só no segundo semestre alguma melhora pode ser sentida. "Dificilmente a queda nas nossas vendas neste semestre não será de dois dígitos", estimou.
Ao menos na segunda metade de 2017 a concorrência com as importações deve parar de ser um problema. Com a alta dos preços lá fora e a disparada do dólar ante o real por aqui, o prêmio do aço nacional - ou o quanto ele é mais caro do que um importado - diminuiu. Para laminados a frio e zincados, não protegidos por barreiras comerciais, está pouco acima de 20%. Em laminados a quente, gira entre 12% e 15%, contou Loureiro.
Para o presidente do Inda, dadas as incertezas atuais, comprar do exterior tornou-se arriscado demais. "Definitivamente quem busca importar hoje tem que fazer hedge. Só aí perde cerca de 1% do prêmio. Para receber daqui a 150 dias, o custo aumenta para algo perto de 7%", disse. Para os próximos três meses, volumes de importados já estão contratados para chegar ao país, por isso o efeito é mais no médio prazo.
Fonte: Valor