As vendas de máquinas de linha amarela, como escavadeiras, retroescavadeiras e pás carregadeiras, terão queda de até 10% no ano que vem, na projeção mais recente da Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema), após um crescimento de dois dígitos neste ano. "O que mais nos preocupa não é o índice de queda, mas o viés negativo", disse ao Valor o vice-presidente da entidade, Eurimilson Daniel.
Apesar de acreditar que o país terá mais obras de infraestrutura, que não devem ser interrompidas por causa da Copa do Mundo e das eleições do país, ele afirma que a Sobratema não conseguiu identificar, em conversas com empresários, algum sinal claro de que o país vai deslanchar. "Vai ser um ano morno", afirmou Daniel.
Segundo ele, a redução das compras de máquinas de linha amarela pelo governo brasileiro vai contribuir para a piora do desempenho do setor. Neste ano, quase um quinto (18%) do volume de vendas esperado é referente a encomendas do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para seu programa de entrega de equipamentos para municípios com até 50 mil habitantes. A Sobratema estima a venda de perto de 30 mil unidades em 2014, abaixo das 33,3 mil projetadas para este ano e que significa um crescimento de 13% sobre 2012.
"Se o governo não tivesse comprado as máquinas neste ano, teríamos uma queda significativa nas vendas do setor em relação ao ano passado" afirmou Daniel.
Em seu último levantamento, consolidado no Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos para Construção, a entidade calcula um crescimento de 16% nas vendas de retroescavadeiras e de 177% na comercialização de motoniveladoras neste ano, números puxados pela demanda do MDA.
O programa de distribuição de máquinas continua em 2014, mas com um volume menor de pedidos. A licitação já ocorreu e as entregas estão previstas para até abril do ano que vem. Desta vez, o pacote não inclui retroescavadeiras, o que leva a Sobratema a projetar uma queda de 20% nas vendas deste produto em 2014.
Nas projeções de longo prazo, o estudo aponta um crescimento anual de 5,5% nas vendas de máquinas até 2018. O número foi calculado considerando as projeções de máquinas de linha amarela e também gruas, guindastes, compressores portáteis, plataformas aéreas, manipuladores telescópicos, tratores agrícolas e caminhões utilizados por construtoras.
A associação pondera, porém, que o crescimento dos próximos cinco anos depende dos investimentos previstos para o país e da viabilização efetiva dos projetos que têm o objetivo de reduzir os gargalos da infraestrutura.
Outra pesquisa encomendada pela Sobratema mostra que há R$ 500 bilhões de investimentos confirmados para serem realizados no país até 2018. Outros R$ 700 bilhões são previstos para projetos que ainda estão no papel.
Ainda assim, os fabricantes de máquinas e equipamentos estão preocupados, afirma Daniel. "O setor está apertado, com os mesmos salários, um índice de inadimplência que não é confortável e os custos operacionais continuam subindo. Mesmo os R$ 500 bilhões não estão deixando o mercado feliz", disse o vice-presidente da Sobratema. Segundo ele, as empresas estão muito alavancadas, após investimentos feitos nos últimos anos na expectativa de uma demanda maior no país.
Entre os segmentos que podem ter desempenhos melhores, Daniel destacou o de equipamentos menores, como mini escavadeiras e mini pás carregadeiras. "O Brasil ainda é jovem neste setor. Com o alto custo da mão de obra na construção civil, essas máquinas estão ocupando uma fatia maior do mercado", afirmou.
Com 33,3 mil máquinas vendidas, o Brasil representa cerca de 3,5% do mercado mundial de equipamentos, que deve terminar o ano com 940 mil unidades vendidas, movimentando US$ 97 bilhões, segundo estimativas da consultoria Off-Highway Research.
Fonte: Valor Econômico/Olivia Alonso | De São Paulo
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