Motores: Próximo passo da fabricante catarinense, fundada por alemães há quase 50 anos, é entrar no Leste Europeu
A discrição sempre foi uma forte característica do povo alemão, símbolo da colonização em Santa Catarina. Talvez por isso nunca se fez muito estardalhaço em torno do acelerado processo de expansão da WEG, que há tempos ultrapassou a fronteira da sua sede, em Jaraguá do Sul, e do Brasil. O processo de aquisição de empresas continua. O próximo passo vai seguir em direção ao Leste Europeu. Da mesma forma, a empresa continua em busca de oportunidades de novos negócios no mercado brasileiro. O envolvimento em projetos de carros elétricos é um deles.
"Há muito tempo estamos explorando novos mercados e queremos continuar a dar passos importantes", afirma o presidente da empresa, Harry Schmelzer Jr. Segundo ele, embora nada tenha sido definido ainda, a estratégia é seguir para o Leste da Europa.
"No passado era difícil para uma empresa brasileira ser uma multinacional. Mas o conceito do Brasil mudou. Em menos de dez anos, deixamos de ser simplesmente o país do futebol", diz o executivo. Este ano, aliás, a companhia aproveitou o futebol em outro país para vender seus produtos. Transformadores WEG foram usados para aumentar a capacidade de transmissão de energia na África do Sul, necessária para poder iluminar as partidas da Copa do Mundo.
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A WEG é frequentemente apontada por engenheiros do setor automotivo como a empresa mais capacitada a participar de um plano nacional de desenvolvimento de carro elétrico, o futuro da mobilidade individual no mundo. Seguindo a linha discreta, Schmelzer não revela detalhes. Mas confirma que a empresa tem trabalhado no assunto, como os testes em automóveis movidos a motor elétrico na usina de Itaipu. "Ainda há muitas definições a serem feitas", diz. "Acredito que teremos carros híbridos e elétricos e as mudanças deverão acontecer gradativamente", completa. A empresa também está de olhos no mercado da energia eólica e solar.
Este ano, a WEG já deu dois passos importantes fora do Brasil: adquiriu o controle acionário do ZEST Group, na África do Sul, e da fabricante de transformadores mexicana Voltran. O grupo ZEST é formado pela distribuidora líder em motores elétricos naquele mercado e por companhias especializadas na montagem de painéis elétricos industriais. Com receita anual de mais de US$ 200 milhões, o grupo ZEST se tornou a 24ª subsidiária da WEG no exterior.
A parceria com a Voltran, dona de um faturamento de US$ 70 milhões em 2009, começou em 2006, quando a WEG adquiriu 30% do capital da companhia mexicana. Em maio passado, elevou a fatia para 60%.
Schmelzer não esconde o interesse da WEG em usar o México para entrar no mercado de energia nos Estados Unidos. "Precisamos estar mais mais próximos dos mercados. O custo da logística a partir de Jaraguá do Sul é muito alto", destaca o executivo.
No Brasil, a aquisição mais recente foi há um mês. A Instrutech, empresa paulista de controle familiar, especializada em automação industrial e receita anual de R$ 10 milhões, passou para as mãos da WEG por um valor não revelado.
Apesar de pequena para o tamanho atual da empresa, Jaraguá do Sul tem uma relação histórica e, de certa forma, afetiva com a WEG. O museu da empresa está na lista de atrações turísticas. Localizada a 45 quilômetros de Joinville e a 190 de Florianópolis, Jaraguá do Sul tem na WEG e empresas têxteis, como a Malwee, as principais fontes de trabalho para a população, próxima de 130 mil habitantes. Ali somente a fabricante de motores elétricos emprega quase 10 mil pessoas.
Por sorte, a fachada da fábrica onde a empresa foi fundada, em 1961, permaneceu intacta desde então. Agora ali funciona o museu que conta a história do motor elétrico e dos fundadores da WEG.
O nome WEG - iniciais dos fundadores - foi registrado algum tempo depois que Werner Ricardo Voigt, Eggon João da Silva e Geraldo Werninghaus - um eletricista, um administrador e um mecânico - criaram a Eletromotores Jaraguá. Em alemão, WEG também significa caminho.
Prestes a completar 80 anos de idade e ainda envolvido com a empresa, Werner Voigt é um descendente de imigrantes alemães que começou a vida abrindo uma pequena oficina para montar rádios e instalar geradores. Eggon da Silva é o pai de Décio da Silva, presidente executivo da WEG por 18 anos e hoje presidente do conselho. Geraldo Werninghaus cresceu sob a influência de uma família alemã que trabalhava com oficina mecânica. Além da WEG, atuou na política e morreu, num acidente de carro, em 1999, antes de concluir o mandato de prefeito de Jaraguá do Sul.
As ações da WEG começaram a ser negociadas em Bolsa em 1971. Em 2009 a receita operacional bruta consolidada atingiu R$ 5,1 bilhões, com queda de 6,6% em relação ao ano anterior. O lucro líquido do exercício atingiu R$ 548,4 milhões, 2,1% inferior ao obtido em 2008. Schmelzer comenta que a empresa ainda sente o impacto da crise na virada de 2008 para 2009. "Para nós ainda não houve crescimento", diz. A crise no crédito teve seu impacto, já que a WEG também produz motores para lavadoras de roupas. A chamada linha branca representou 12% da receita em 2009, segundo relatório distribuídos aos acionistas.
A WEG foi fundada para produzir exclusivamente motores. E foi com eles que começou a exportar, em 1970. A diversificação das atividades veio uma década depois. Hoje, a maior fabricante latino-americana de motores elétricos também atua nas áreas de comando e proteção, automação de processos industriais, geração e distribuição de energia e tintas e vernizes industriais. Verticalizada, ela controla todas as etapas de sua produção, fundição e estamparia, até a esmaltação e embalagem.
Com cerca de 19 mil empregados, são oito fábricas no Brasil (Guaramirim, Blumenau, São Bernardo, Manaus, Gravataí, Hortolândia e dois em Jaraguá do Sul), três na Argentina, duas no México, uma na China e outra em Portugal. Segundo Schmelzer, 35% do faturamento da companhia vêm das receitas obtidas nos mercados internacionais.
"Queremos nos fortalecer para criar uma empresa global, cada vez mais completa", diz Schmelzer, que trabalha na WEG desde 1980 e confere às suas declarações o tom discreto que norteou a empresa ao longo da sua história. A direção da empresa não informa, por exemplo, os valores das aquisições.
Mas além das aquisições, a companhia está em fase de construção de fábricas no Brasil e Índia para ampliar a capacidade de produção de motores. No Brasil, a empresa escolheu o município de Linhares (ES) para investir R$ 160 milhões, num projeto que recebe incentivos da Sudene. A empresa iniciará em setembro a seleção de pessoal para essa fábrica, que deverá começar a operar em 2011. Na Índia, serão aplicados US$ 50 milhões na construção de uma unidade de motores de grande porte. O plano inicial era começar a produzir ainda este ano. Mas a crise fez a empresa postergar o projeto para meados de 2011.
Seja pelo caminho de novos negócios ou mais aquisições, a empresa de Jaraguá do Sul vai continuar crescendo, afirma Schmelzer. "Isso não tem fim", diz. "Há muitas oportunidades e queremos fazer desse negócio algo maior do que ele é hoje". E qual será a próxima aquisição? "Em todas as áreas em que a WEG atua há oportunidades."
Fonte: Valor Econômico/ Marli Olmos e Júlia Pitthan, de Jaraguá do Sul
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