A bola da vez

Foto: Guto Nunes

Setores naval e offshore brasileiros atraem cada vez mais empresas estrangeiras interessadas em investir no pré-sal e na indústria marítima

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O Brasil vive um bom momento econômico e diversos setores estão em expansão. Analistas de mercado e agências de classificação de risco têm confirmado isso e não é de hoje que o país vem sendo visto com bons olhos por investidores internacionais. Essa procura se intensificou após a recuperação da economia mundial pós-2008. Os mercados naval e offshore são considerados segmentos promissores e que vem despertando interesse das multinacionais. Enquanto ainda se confirmam os aportes a serem demandados pelo pré-sal e pela ampliação portuária e de estaleiros no Brasil, empresas estrangeiras começam a se instalar no país e a trazer não somente recursos, mas um pouco de seu know-how. Os próximos anos serão importantes para se constatar o quanto está valendo a pena investir nesses dois setores brasileiros.

De 2003 a 2010, os investimentos aplicados no setor de transportes totalizaram R$ 128,6 bilhões, segundo a Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib). No mesmo período, os aportes para o segmento de petróleo e gás somaram R$ 347,4 bilhões. Para o período 2011-2015, a Abdib aponta a necessidade de R$ 922 bilhões em investimentos para infraestrutura, sendo R$ 172 bilhões em transportes e logística. Outros R$ 424,5 bilhões precisam ser destinados à área de petróleo e gás, de acordo com estimativas da associação. Em 2010, o setor de infraestrutura realizou R$ 146,5 bilhões em investimentos, ante R$ 131,4 bilhões em 2009, conforme levantamento da entidade.

O presidente do Sindicato da Indústria e Construção Naval de Manaus (Sindnaval), Matheus Araújo, conta que as feiras e eventos que têm sido realizadas para tratar do tema têm evidenciado o interesse de empresas estrangeiras nos setores naval e offshore brasileiros. Ele lembra que, em recente visita que ele fez à Espanha, investidores locais demonstraram vontade de apostar tanto no pré-sal quanto em oportunidades de construção na área naval. Araújo destaca que os Estados Unidos também têm manifestado interesse em expandir o comércio com o Brasil, o que pode ser interessante para o segmento de petróleo e para a construção naval. “O Brasil era o patinho feio da economia mundial e agora vislumbra desenvolvimento. Olhando o Brasil, com o advento do pré-sal, somos realmente a bola da vez”, acredita.

Segundo Araújo, o Amazonas está na expectativa pelo novo polo naval, que concentrará os estaleiros da região de Manaus. Com o futuro complexo, ele acredita que será evitado o problema das cheias, que atrapalha os trabalhos de alguns estaleiros da região. Araújo explica que, atualmente, há casos em que as chuvas permitem trabalho durante apenas quatro meses. A área do novo polo deve ocupar cerca de 1,9 mil hectares. “Buscamos uma área que não tenha esse problema de cheia. Em Manaus, temos um potencial enorme de construção naval para fomentar”, comenta. Araújo diz ainda que também precisa ser criada uma política para o setor naval local.

A meta é que, entre o segundo semestre de 2012 e o início de 2013, o polo naval de Manaus já esteja operando. A expectativa, de acordo com Araújo, é de que o novo complexo, discutido pelas autoridades desde 2008, gere 50 mil empregos entre diretos e indiretos em 2015, quando deverá operar plenamente. Atualmente, a região possui 7,15 mil empregos diretos.

Um dos desafios para a implantação do novo complexo, segundo Araújo, é conseguir com que os estaleiros atendam a todas as exigências estabelecidas pelos órgãos ambientais para a concessão de licenças. O presidente do Sindnaval afirma que existem posseiros que serão removidos e indenizados pelo programa Terra Legal, do governo federal. No entanto, a questão do terreno ainda precisa ser resolvida junto à Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).

Araújo alerta que a transição dos estaleiros já instalados para o novo polo necessitará de financiamento e da criação de linhas de crédito. Ele explica que alguns componentes dos estaleiros que já operam atualmente não podem ser removidos para o novo local.

Araújo conta que existem estaleiros de outros países querendo se instalar na região. Além dos espanhóis, ele cita os chineses e holandeses como interessados, mas não revela o nome das empresas dispostas a vir para o polo. Na avaliação do Sindnaval, o Amazonas leva certa vantagem por conta da política de incentivo fiscal e da possibilidade de importação de equipamentos com 0% de alíquota. Ele diz que as empresas estrangeiras também estão entusiasmadas com as descobertas brasileiras offshore. “O pré-sal chama a atenção do mundo inteiro. Eles veem o Brasil como fronteira bastante promissora. Tem muita gente querendo vir para cá”, observa.

Em 2010, a Associação Brasileira das Empresas de Construção Naval e Offshore (Abenav) recebeu 35 delegações de países interessados em investir no Brasil. Desde janeiro até o final de junho deste ano, 40 grupos já visitaram o país, segundo a entidade. O presidente da Abenav, Augusto Mendonça, afirma que o pré-sal é um evento único que permitirá a geração de um grande volume de negócios e equipamentos offshore. Ele conta que, recentemente, uma delegação finlandesa esteve no Brasil e convidou os brasileiros para conhecerem suas instalações na Finlândia. Mendonça diz ainda que as empresas estrangeiras estão vindo ao país, apesar de muitas informações sobre o pré-sal ainda estarem truncadas.

“O pré-sal colocará o Brasil entre as maiores reservas mundiais. Todo o petróleo está no mar, em águas ultraprofundas. Estamos falando de um mercado de longo prazo. Vai durar mais de 50 anos. Hoje em dia, as empresas estão vendo o mercado e que é a hora e a vez do Brasil”, avalia.

Mendonça destaca que o governo brasileiro adotou uma política industrial que busca o crescimento econômico e que os resultados já começam a ser percebidos, com o aumento da produção industrial local. “As empresas de fora estão sentindo de fato. Todo mundo quer fornecer dentro de sua própria matriz. A indústria está percebendo que existe interesse dos fornecedores de se instalarem no Brasil. Eles sabem que têm que se instalar no Brasil”, diz

O presidente da Abenav analisa ainda que, apesar de sua importância, a indústria naval no Brasil não alcançou volume tão significativo a nível mundial. A expectativa da Abenav é que bons novos estaleiros sejam implantados nos próximos anos no Brasil. Entre os interessados em fabricar no país, ele conta que há empresas da Noruega, Inglaterra, Canadá, Japão, Coreia e Estados Unidos.

Mendonça revela que a Abenav e representantes do setor naval reuniram-se recentemente com o ministro Fernando Pimentel, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Na ocasião, foram discutidas políticas industriais, sobretudo no âmbito da segunda etapa do plano de desenvolvimento produtivo do governo federal, o chamado “PDP2”.

A Abenav defende que o Brasil precisa evoluir em questões fiscais, de mão de obra e cambial. Com isso, Mendonça acredita que os setores naval e offshore poderão se tornar mais competitivos. Outros pontos que preocupam a associação estão relacionados à tributação, à legislação complexa e ao licenciamento ambiental. Em contrapartida, ele conta que as delegações apontaram como pontos positivos do país o parque industrial instalado e a possibilidade de parcerias para fabricar produtos. “As empresas estrangeiras veem isso como um grande facilitador”, diz.

Mendonça analisa que o setor offshore pode caminhar mais facilmente se o foco das discussões do pré-sal deixar de ser a divisão dos royalties. “O pré-sal vem sendo pouco discutido na sociedade. O foco tem sido em torno dos royalties. Não deve existir qualquer empresário de qualquer atividade que não dê uma olhada no pré-sal. Entre cinco e 10 anos, isso vai ser uma realidade e as empresas precisam acordar”, alerta.

Petrobras. A Petrobras investirá US$ 224,7 bilhões em 688 projetos até 2015, conforme seu plano de investimentos aprovado no final de julho. US$ 127,5 bilhões, representando 57%, serão injetados na área de exploração e produção e, destes, US$ 117,7 bilhões no Brasil e US$ 10 bilhões no exterior. A Petrobras planeja fechar 2015 produzindo 543 mil barris de óleo equivalente (boe/dia) no pré-sal. O plano anterior, até 2014, era de 241 mil boe/dia. A companhia planeja ainda obter US$ 13,6 bilhões com a venda de ativos. Serão gastos US$ 12,4 bilhões nas áreas da cessão onerosa até 2015 e perfurados 10 poços exploratórios nas áreas cedidas. Esse movimento deve gerar uma cadeia de oportunidades para o setor. Em 2010, os investimentos da Petrobras somaram US$ 42,1 bilhões.

Em 2010, a Petrobras Transporte S.A. (Transpetro) transportou, por meio de 52 navios, 48,9 milhões de toneladas de petróleo e derivados, volume cerca de 15% inferior ao registrado um ano antes. Nos seus 48 terminais (20 terrestres e 28 aquaviários), foram movimentados 704 milhões de metros cúbicos de líquidos — volume 4% superior ao de 2009 —, além de uma média de 51,4 milhões de metros cúbicos/dia de gás natural — 45% maior que a registrada no ano anterior. A estatal identifica a construção naval como um dos gargalos a serem solucionados no país, segundo o Relatório de Sustentabilidade 2010 da companhia.

Robin de Rooy, consultor para assuntos econômicos do consulado da Holanda no Brasil, destaca que a construção naval e offshore estão muito interligadas. Há pouco mais de um ano, o consulado fez uma estimativa de que as empresas holandesas possuem o potencial de investimentos da ordem de US$ 8 bilhões no Brasil num período entre cinco e 10 anos. A maior parte desse montante, segundo ele, será aplicada nos setores de construção naval, petróleo e gás e offshore, podendo incluir também a infraestrutura de portos.

Rooy destaca que as empresas holandesas já possuem experiência na construção e gestão de portos e que o Brasil é um polo que atrai o potencial de empresas estrangeiras. Ele relata que as companhias holandesas reclamam da burocracia no Brasil. Segundo o consultor, elas classificam o país como “moroso e complicado” nesse aspecto. Apesar disso, Rooy ressalta que existem muitas empresas holandesas de diversos ramos instaladas no Brasil e que estão bem adaptadas ao país. “Se muitas empresas encontraram a forma de se instalar aqui e conviver com isso, não é impossível. As empresas holandesas novas não conseguirão mudar o Brasil, vão ter que se adaptar”, acredita.

De acordo com o adido comercial holandês, enquanto o Brasil for um mercado atraente, as empresas continuarão investindo aqui, apesar da burocracia. Entretanto, ele diz que isso é um risco, caso o país perca essa atratividade algum dia. Mas, no atual momento econômico mundial, Rooy destaca que a América do Sul e África oferecem muitas oportunidades, sobretudo por conta dos efeitos da crise de 2008, que ainda afetam Europa e Estados Unidos. Ele aponta como solução para a adaptação das multinacionais no Brasil a criação de parcerias com empresas locais.

O grupo luso-holandês Lankhorst Euronete Brasil, do ramo de cordas marítimas e offshore, aposta numa fábrica no distrito industrial de Queimados (RJ). Presente em vários países no mundo, a empresa fabricará cabos para navegação marítima e para plataformas petrolíferas. Recentemente, a Lankhorst venceu licitação da Petrobras para produção de cabos. Ao todo, serão fornecidas à estatal brasileira cerca de 11 mil toneladas de cabos para várias plataformas nos próximos quatro anos. O valor do contrato não foi divulgado.

“Achamos que a expansão acontecerá neste e nos próximos anos. Estaremos presentes com produção local e temos a possibilidade de conseguir uma cota de mercado maior. Procuramos investir no Brasil para ocupar um lugar que nos permita fornecer”, detalha o presidente do grupo, José Luis Gramaxo. Segundo ele, chama atenção da empresa a possibilidade de desenvolver atividade em um mercado em “franca expansão”. Ele conta que a Lankorst já fornece produtos ao Brasil desde abril de 2010 e que pretende começar a produzir em sua nova fábrica no início do segundo semestre. A empresa espera fechar novos contratos, sobretudo por conta dos equipamentos e investimentos que a Petrobras demandará nos próximos anos. O executivo lembra que a estatal brasileira pretende operar mais de 40 novos FPSOs até 2020.

Promef. Criado pela Transpetro para revitalizar a indústria naval nacional em bases globalmente competitivas, o Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef) abarrota a carreira de estaleiros nacionais com a construção de 49 navios, em duas fases, que acrescentarão quatro milhões de toneladas de porte bruto (tpb) à capacidade da frota atual. Em maio de 2010, o programa registrou o lançamento ao mar do primeiro navio-tanque do programa, o NT João Candido. A segunda e terceira embarcações — NT Celso Furtado e NT Sergio Buarque de Holanda, respectivamente — foram ao mar em junho e em novembro. Em 2011, estão previstas as entregas de quatro navios do Promef.

A segunda fase do programa prevê a construção de 26 embarcações, das quais 18 já estão contratadas. Sete delas são aliviadores de última geração, que serão construídos pela primeira vez no Brasil — três destinam-se ao transporte de bunker e oito são gaseiros, para transporte de gás liquefeito de petróleo (GLP). Os oito navios restantes estão em processo de licitação. A Transpetro também investiu para ampliar seus terminais. A infraestrutura marítima também será acrescida, com investimentos de R$ 419 milhões.

“A indústria marítima no Brasil está se desenvolvendo numa rapidez nunca vista com as necessidades que a Petrobras tem. Com os investimentos em curso e anunciados,  uma quantidade muito grande de cabos será necessária. Por isso achamos que é oportuno investir no mercado brasileiro”, comenta Gramaxo.

A Lankhorst pretende investir cerca de R$ 10 milhões até o final deste ano, incluindo os valores da fábrica e da compra de máquinas. A empresa possui dois sócios brasileiros com experiência no setor, o que Gramaxo classifica como uma parceria importante para a multinacional se adaptar à realidade nacional. O executivo diz que no Brasil existe muita burocracia e altos custos em relação a outros países, o que torna as negociações mais complexas. “Achamos o Brasil complicado para se investir, mas também atrativo. Portanto, uma coisa compensa a outra”, avalia. A matriz da Lankhorst detém 80% da filial brasileira, enquanto os demais sócios concentram os outros 20%.

Gramaxo lembra que a Europa sofreu bastante entre o final de 2008 e 2009 com a crise econômica e com a queda nas exportações. Ele destaca que a empresa conseguiu crescimento de 16% em 2010 e espera manter esse patamar em torno dos 15% este ano. Com a entrada em operação da fábrica brasileira, a Lankhorst poderá ampliar seus resultados já a partir do ano que vem. “As atividades no Brasil se refletem apenas a partir de 2012”, explica.

O cingapuriano Jurong investirá R$ 500 milhões na construção de um estaleiro no município de Aracruz (ES), com foco no fornecimento de sondas de perfuração e navios-plataforma para os campos do pré-sal. O projeto ocupará uma área de 825 mil metros quadrados e contará com instalações para processamento de quatro mil toneladas de aço por mês. O estaleiro terá ainda um dique seco para embarcações de grande porte. Com isso, o empreendimento estará equipado para converter cascos de petroleiros em FPSOs, além de construir e reparar unidades offshore tais como plataformas de produção, FPSO ou SS, embarcações de apoio, unidades de perfuração, entre outros.

“A expectativa do Jurong é de que o estaleiro se torne um grande fornecedor de serviços, não só para a Petrobras, mas também para outras empresas do setor que produzam e explorem em águas brasileiras, sulamericanas e/ou africanas”, conta a relações públicas do Jurong, Endora Barboza. Um dos entraves para a obra do estaleiro foi a emissão da licença de instalação, concedida no final de 2010. A Jurong acredita que, até o final desse ano, se iniciem as obras do empreendimento, com a fase de terraplenagem.

Com experiência internacional em construção de semissubmersível de perfuração para águas profundas, a Jurong prestou serviços de 15 unidades construídas e em operação nos campos de produção brasileiros. Em 1997, a empresa prestou serviço para a Petrobras na conversão da unidade P-37. “A decisão do Jurong de investir no seu próprio estaleiro foi tomada bem antes da descoberta do pré-sal, portanto, essa decisão consolida uma parceria estabelecida com a Petrobras há mais de 20 anos”, destaca.

Esse será o primeiro estaleiro da Jurong no Brasil. Antes disso, a empresa foi parceira do estaleiro Mauá, no Rio de Janeiro. A parceria foi desfeita em 2007. Endora destaca que o foco é o Espírito Santo, considerado pelo Jurong um estado que está crescendo com a descoberta do pré-sal e com a instalação de outros empreendimentos na região onde será construído o estaleiro. “A construção naval andou adormecida por um tempo. Quando chegamos ao Brasil, trabalhamos no estaleiro Mauá (joint venture). Desde aquela época, sentimos que o mercado já estava muito aquecido. O Brasil está sendo a bola da vez para muitos empreendimentos e principalmente para a construção naval”, lembra. “O Brasil é a menina dos olhos do grupo Jurong. Existe muita expectativa [da matriz – Jurong Shipyard] que esse estaleiro dará certo”, complementa.

Especializada em consultoria de engenharia, a holandesa Royal Haskoning também está de olho no mercado brasileiro. Recentemente, a empresa que atua em mais de 40 países convidou o executivo Tom Musters, ex-Alewijnse do Brasil Participações, para dirigir a filial brasileira. “Decidimos vir para o Brasil porque precisamos crescer em termos de infraestrutura e o Brasil é importante. Temos experiência mundial e queremos usá-la no país”, afirma. De acordo com Musters, os motivos mais importantes para a empresa se estabilizar no Brasil são o desenvolvimento na área naval e marítima em geral, as oportunidades de negócios, além de maior proximidade de clientes globais da empresa, como a Petrobras e a Vale.

Entre as prioridades, Musters destaca que a empresa pretende se estabilizar no Brasil e realizar parcerias com companhias de engenharia com experiência na área naval. O primeiro passo está sendo apresentar a empresa ao mercado nacional e criar uma rede de contatos. Nesse processo de networking, a Royal Haskoning visitou, dentre outras empresas, a Transpetro. “O foco no Brasil é o mercado marítimo em geral”, diz Frank Heemskerk, do conselho de administração da companhia.

Fundada em 1881, a Royal Haskoning possui cerca de 3,9 mil profissionais entre consultores, arquitetos e engenheiros em todo o mundo. Em 1981, foi concedido o título de companhia real à empresa. Com resultado de oito milhões de euros em 2010, a empresa pretende expandir seu mercado no Brasil, oferecendo soluções de design e logística para transporte marítimo. A base de clientes da companhia inclui desde governos nacionais e regionais, autoridades portuárias e operadores de terminais até empresas de mineração, marinha, indústria de petróleo e gás e empreiteiros.

Atualmente, a Royal Haskoning atua em países como Reino Unido, Rússia, Tailândia, Vietnã e parte da África e Ásia. As linhas de negócios da companhia preveem investimentos da ordem de 340 milhões de euros, sendo 80 milhões de euros para planejamento e transporte e 70 milhões de euros para área marítima e de hidrovias. “Somos envolvidos no projeto quando só se tem uma ideia. Ajudamos nossos clientes a visualizar o que eles querem”, explica Tom Musters.

No porto de Ras Laffan, no Qatar, a empresa desenvolveu projeto que inclui estudo de viabilidade para implantação de estaleiro. A Royal Haskoning trabalhou ainda com a Nakilat — dona de uma importante frota mundial de gaseiros — para realizar o projeto detalhado e supervisão de construção de todas as instalações do estaleiro. No Azerbaijão, o New Port, em Baku, teve participação da Royal Haskoning no plano diretor, incluindo todos os trabalhos de investigação no local (batimetria, topografia, e investigações geotécnicas de solo), além de design do porto, compreendendo as obras de dragagem e recuperação, todas as estruturas marinhas, e instalações em terra.

Outra empresa que pretende crescer no mercado naval brasileiro é a ABB. A finlandesa construirá uma fábrica de propulsores de navio do tipo Azipod, visando atender ao aumento da demanda na América Latina. A multinacional avalia que a América Latina tornou-se, em pouco tempo, um mercado estratégico para sua área de negócios naval. No Brasil, o objetivo principal é que a fábrica, que terá capacidade de produção anual de mais de 30 propulsores, atenda ao cronograma para as unidades de perfuração da Petrobras. O local da nova unidade ainda não foi escolhido, sendo que a empresa avalia Pernambuco, Santos e Rio de Janeiro. Além da fábrica, a ABB planeja para os próximos anos um centro de serviços marítimos e um centro especializado em unidades Azipod, que faz parte dos planos para 2014.

A ABB pretende oferecer soluções e produtos nos segmentos de navio de alto valor agregado, como navios-sonda, plataformas de perfuração semissubmersíveis, navios de apoio offshore e navios-tanque. “Nosso portfólio se encaixa bem nos planos e desenvolvimento da indústria naval brasileira, e os investimentos previstos pela ABB demonstram nosso compromisso e confiança no mercado local. Acreditamos que isso irá nos proporcionar um posicionamento preferencial no fornecimento de propulsores para as 28 unidades de navios-sonda da Petrobras”, comenta André Luiz Silva — gerente da unidade de negócios Marine & Cranes no Brasil da companhia.

A Wilhelmsem Ships Service do Brasil está revendo seus investimentos no país. Após instalar sua filial de soluções técnicas — a Wilhelmsem Technical Solutions — a norueguesa estuda a vinda de uma nova divisão para o país. Segundo o gerente geral do Brasil da Wilhelmsem, Álvaro Moraes, a empresa considera o mercado offshore brasileiro como bastante promissor. “Já está em andamento a vinda de mais uma divisão de negócios nossa voltada para o gerenciamento de embarcações e barcos offshore”, conta.

Moraes destaca que a empresa busca acompanhar a corrida da qual diversas empresas estrangeiras estão participando para fazer negócios no Brasil. O executivo explica que a Wilhelmsem Technical Solutions possui equipe própria, que funciona junto com a Wilhelmsem Ships Services, inclusive com alguns clientes da carteira em comum. “Trouxemos essa divisão e, em breve, devemos trazer outra divisão do grupo para cá”, comemora. Ele lembra que a Wilhelmsem está há mais de 50 anos no Brasil, desde quando se chamava Unitor.

Ele lembra que, no início do ano, um encontro promovido pela Câmara de Comércio Noruega Brasil trouxe cerca de 240 empresas norueguesas ao país. “A Noruega é um país com experiência nesse mercado e que está bastante interessada nas oportunidades geradas no Brasil. É uma prova de que a empresa aposta no Brasil”, observa.

Moraes acredita que o maior desafio da indústria naval e offshore no Brasil será atender à demanda por infraestrutura e por capacitação de pessoas. No entanto, ele classifica esse problema como uma preocupação natural e saudável. Nos próximos anos, Moraes conta que a Wilhelmsem terá como focos a expansão física de suas instalações no Brasil e na busca de parcerias com empresas nacionais. “Apostamos numa nova fronteira no Brasil com a indústria de óleo e gás, que acaba impactando também na indústria naval”, diz.

 

Mão de obra. Matheus Araújo, do Sindnaval, destaca que o Brasil ainda possui bastante potencial para crescer, o que vem sendo reconhecido pelas principais agências internacionais de classificação de risco, ao elevarem o grau de investimentos no país. Entretanto, ele reconhece que a mão de obra ainda é um gargalo a ser vencido. Entre as maiores necessidades, estão profissionais de delineamento, soldadores e de tecnologia da informação. Araújo diz que esse não é um problema exclusivo do Amazonas e defende o apoio de instituições de ensino para formar essa mão de obra. “Vejo que a qualificação profissional nas regiões Norte e Nordeste ainda é muito carente. O Brasil hoje não suporta um aumento de produção de 15%. Isso abre a economia, mas a indústria não está preparada”, avalia.

Rooy, do consulado holandês no Brasil, considera importante que os executivos conheçam a cultura de negócios no Brasil. Ele cita uma série de empresas holandesas que apostam na mão de obra brasileira. Segundo ele, apenas a experiência no segmento não é garantia de sucesso nos negócios longe da matriz. “Para empresas estrangeiras, muitas vezes aprende-se a conviver com características e peculiaridades do mercado brasileiro, contratando profissionais brasileiros”, diz.

“É fácil para nós ter em nosso  quadro brasileiros porque o contato com eles é feito na língua local. Acreditamos que eles desempenham melhor as funções e conhecem bem a área”, observa José Luis Gramaxo, da Lankhorst Euronete Brasil.

O estaleiro da Jurong no Espírito Santo deve gerar aproximadamente seis mil empregos entre diretos e indiretos. Para compor os quadros de funcionários, a Jurong Aracruz implementará um programa de transferência de know-how através de treinamentos teóricos e práticos nas dependências de Cingapura. O objetivo, segundo Endora Barboza, é dotar o estaleiro Aracruz de padrão e competitividade internacionais. O programa consistirá em um convênio entre o Instituto Federal de Educação do Espírito Santo (IFES) e um instituto de ensino de tecnologia naval de Cingapura, o Ngee Ann. O programa prevê o treinamento de alunos do IFES durante um ano nas dependências do Ngee Ann, além de estágio no estaleiro da Jurong em Cingapura. O financiamento desse programa será integralmente da Jurong e os alunos selecionados serão remunerados e assinarão contrato de trabalho com o estaleiro capixaba.

Além dessa iniciativa, outras ações visando a qualificação de mão de obra estão sendo tratadas no Espírito Santo, em parceria com o governo estadual. “O Jurong espera que dessa forma o estaleiro seja dotado de profissionais brasileiros com o know-how e cultura adquiridos em Cingapura e, no médio prazo, esses profissionais estejam preparados para implementar em níveis de gerências a filosofia do Jurong aqui no Espírito Santo, dotando o estaleiro de alta capacidade e competitividade de padrão internacional”, explica.

No Rio de Janeiro, a retomada da indústria naval offshore também tem gerado bastante expectativa. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços do estado estima que o Rio de Janeiro receberá investimentos da ordem de R$ 1,2 bilhão nos próximos anos, com a criação de 10,3 mil novos postos de trabalho, principalmente para atender à demanda gerada pelo pré-sal.

O estado também receberá investimentos em estaleiros novos, em fase de construção ou renovação das instalações atenderão, principalmente, à demanda da Petrobras e Transpetro por novas embarcações (sondas, barcos de apoio, plataformas, navios petroleiros e outros). O estaleiro Aliança, de Niterói, deve criar 1,5 mil novos postos de trabalho, com a construção de uma nova unidade em São Gonçalo. O Alusa/Galvão, em Campos dos Goytacazes, deve gerar outras três mil vagas; o Inhaúma, no porto do Rio, outras cinco mil; o Beneteau, em Santa Cruz, 600. Já o Intermarine, em Angra dos Reis, terá 200 oportunidades de trabalho.

O atual momento brasileiro vem atraindo investimentos para diversas aplicações. As fabricantes estrangeiras, por exemplo, não têm demonstrado interesse apenas em produção. No início de julho, a Siemens anunciou a ampliação dos investimentos no Brasil e a criação de um centro de pesquisa e desenvolvimento para petróleo e gás no Rio de Janeiro. Em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o centro deve receber cerca de US$ 50 milhões em recursos da empresa. A iniciativa faz parte dos planos da companhia em dobrar suas atividades com novos investimentos no país.

A companhia, que inaugurou oito fábricas nos últimos cinco anos, pretende continuar crescendo. De acordo com o CEO mundial da Siemens, Peter Löscher, serão investidos cerca de US$ 600 milhões na expansão das atividades de tecnologia e inovação e em novas fábricas no Brasil até 2016. ”O Brasil é um dos motores da economia global e esta tendência vai se manter nos próximos anos. Hoje nosso comprometimento se aprofunda ainda mais”, afirmou Löscher, no Rio de Janeiro, durante o anúncio do novo centro, que será instalado no parque tecnológico da Ilha do Fundão. Com previsão de ser inaugurado até o final de 2012, o centro será construído em uma área de quatro mil metros quadrados, operando inicialmente com 800 pesquisadores e engenheiros. A expectativa é de que sejam geradas vagas para pelo menos outros 200 profissionais até 2016.

 



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