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Navalshore

A crise setor naval em Pernambuco

Os estaleiros instalados em Suape passam por uma situação difícil: a falta de encomendas que põem em xeque o setor. “A nossa preocupação maior é se os empreendimentos vão fechar ou não. Na semana passada, ocorreram pelo menos 40 demissões no Estaleiro Atlântico Sul (EAS) e estamos caminhando para o desligamento de aproximadamente 900 pessoas pela empresa entre o final de maio e começo de junho”, diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco (Sindmetal-PE), Henrique Gomes. O Estaleiro Atlântico Sul (EAS) e o Vard Promar já chegaram a empregar cerca de 12,7 mil pessoas quando estavam a todo vapor.

O EAS já teve um quadro formado por cerca de 11 mil funcionários em 2011, enquanto o Vard Promar chegou a contar com 1,7 mil trabalhadores em 2015/2016. “Agora, a expectativa é de que o EAS fique com 125 pessoas”, afirma Henrique. Atualmente, são 1,2 mil funcionários no Atlântico Sul e cerca de 90 empregados no Vard Promar.


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Há conversas entre a direção do EAS e de um grande armador (empresa que faz o transporte marítimo e é dona de embarcações) para uma futura encomenda de dois navios porta-contêineres. “Caso essa negociação avance, poderiam ocorrer novas contratações a partir de dezembro deste ano para a construção dessas duas embarcações pelo EAS”, afirma Henrique. “São muitos pais de família desempregados. E esses grandes profissionais estão indo para o mercado informal e isso está precarizando a economia das cidades onde moram esses ex-trabalhadores”, lamenta. Muitos moram no Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca e Jaboatão dos Guararapes.

O cenário de dificuldades dos estaleiros começou a se delinear em 2017, quando começaram os rumores da falta de encomendas que ocorreria a partir de 2019. O setor emprega muita gente, porque cada estaleiro funciona como uma grande montadora, fazendo as diversas partes de um navio.

DESESPERANÇA

Este ano começou triste para a montadora de andaime Mirelle Maria da Silva Jorge, desligada do EAS no último dia 4 de janeiro. “Passei uma vida inteira ali dentro. Foram 10 anos e oito meses. O estaleiro me deu casa própria, cursos profissionalizantes. Num primeiro momento, pensei: ‘minha vida acabou’. Em quatro meses de desemprego, já cortei vários gastos, como o lazer. Minha filha estudava em escola particular e agora está numa pública”, desabafa. Até abril de 2018, o EAS havia entregue 11 navios.

A crise provocada pela falta de encomendas não fica restrita aos dois estaleiros. “O governo federal falhou brutalmente. Prometeu, incentivou, exigiram muitos requisitos para as empresas locais serem fornecedoras do setor, o que demandou investimento na área de pessoal, controles e acabamento. Isso encareceu o custo de produção e depois as encomendas foram embora”, resume o presidente em exercício da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Alexandre Valença. Empresário do setor mecânico, ele chegou a ter uma empresa que forneceu 1,2 mil toneladas de sub-blocos para o EAS. Por falta de encomendas, a fábrica fechou, desempregando cerca de 200 pessoas. “São pessoas altamente qualificadas que estão sendo afastadas”, lamenta, referindo-se à mão de obra treinada para as ocupações específicas do setor. A assessoria de imprensa do EAS foi contatada, mas não se pronunciou.

O presidente do Vard Promar, Guilherme Coelho, conta que a italiana Fincantieri – dona do Vard Promar – está firme no propósito de permanecer no Brasil e enxerga o País como uma aposta de longo prazo. “Vamos focar reparos. Existe um mercado para isso, porque não há muitas opções na região”, revela. A empresa não tem novas encomendas, mas está participando de um pedido de informações para a construção de um navio antártico que pode ser encomendado pela Martinha.

O Vard Promar concorreu na licitação de quatro corvetas a serem compradas pela Marinha cujo resultado foi divulgado no fim do mês passado. Não ganhou a concorrência, que ficou com o consórcio Águas Azuis, de um estaleiro de Santa Catarina. “Ficamos decepcionados porque acreditamos muito na nossa proposta, mas a decisão da Marinha é soberana”, comenta Guilherme. A contratação das corvetas era vista pelo setor como uma das formas do Promar fazer novas contratações de pessoas e serviços. Estima-se que até seis mil empregos poderiam ser gerados, entre diretos e indiretos.

O setor de estaleiros estava praticamente ausente do Brasil até o governo do presidente Lula (PT). Com a descoberta do pré-sal e o alto preço do barril do petróleo no mundo, o governo federal lançou um programa de modernização da Frota (Promef) da Transpetro, o braço de transporte da Petrobras. Inicialmente, foram encomendadas 49 embarcações a quatro estaleiros. Desse total, 22 seriam fabricados pelo EAS e dois pelo Vard Promar. A partir de 2015, a Petrobras começou a suspender as encomendas. Depois, a Petrobras alterou a sua política, preferindo alugar navios do que comprar.

“A crise na construção naval ocorre no mundo e não somente no Brasil. Estaleiros estão fechando na China e na Coreia do Sul. O problema dos estaleiros do País é maior pela crise econômica e política”, lembra o professor da área de engenharia civil da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Silvio Melo. O Brasil passou pela maior recessão da sua história e há uma crise política/fiscal instaurada desde 2015. Quando os estaleiros estavam em pleno vapor, Sílvio dizia que não era sustentável um setor depender somente dos contratos com a Petrobras... E ele estava certo.

Fonte: JC






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