À espera de um bom ano

Fabricantes e fornecedores de fios, cabos e conectores passaram pela crise de maneira desigual. Mas todos fazem boas apostas para o ano que vem

Fios, cabos e conectores elétricos para a indústria naval precisam ter especificações que atendam às particularidades do setor. Produtores e distribuidores comemoram a boa fase apontada para 2010, apresentando produtos mais eficazes e seguros para a transmissão de energia dentro de embarcações e outros projetos navais. O mercado brasileiro está crescendo com o aumento da demanda interna, afirmam.
A Nexans adquiriu em outubro de 2008 a Ficap, passando a atender 50% do mercado brasileiro de fios, cabos e conectores para o setor naval. Chaim Tencer, diretor comercial da agora chamada Nexans Ficap, conta que 2009 foi um bom ano, com grande volume de compras, e espera que 2010 tenha o mesmo rendimento. “Crescemos cerca de 15 % em 2009, e com a união entre a Nexans e a Ficap, poderemos fornecer aos clientes a vantagem de dispor da tecnologia internacional da Nexans.”
O executivo lembra que normalmente os estaleiros não compram com antecedência os fios, cabos e conectores, mesmo já estando no projeto. “Os cronogramas já preveem as compras, mas estas são realizadas ao longo do tempo, de acordo com suas necessidades. Temos nossa produção voltada para o setor naval localizada no Rio de Janeiro, e assim podemos atender rapidamente aos estaleiros da região quando precisam”, conta Tencer.
Fernando Berardo, diretor comercial da Wirex Cable, conta que o mercado, mesmo com grande participação internacional, começa a abrir mais espaço para a produção nacional. “A Petrobras tem ajudado no desenvolvimento do mercado, ao exigir que a maior parte dos equipamentos seja nacional. Há uma demanda crescente para navios e em 2008 passado lançamos um cabo que atende a este setor”, conta. A Wirex, com 25 anos de atuação com cabos navais, está com encomendas  para embarcações nos estaleiros Inace, Atlântico Sul e Mauá.
Na Induscabos, as atividades offshore começaram com o novo ano. A empresa, especializada em cabos para trabalhos onshore, está levando adiante todos os processos de certificação para começar a operar na outra modalidade também. Além disso, está com um novo produto que poderá ser adaptado para o setor naval.
“Estamos com um novo produto que mistura o cobre com o alumínio, uma liga mista, fazendo um produto mais barato e com maior resistência. Custará uns 20% menos do que os produtos que levam o cobre puro em sua formulação. Além disso, a venda como sucata atrai pessoas para roubar cabos de cobre. Esta nova liga desenvolvida, quando derretida, contamina o cobre, inviabilizando sua venda. Já produzimos em pequena escala para os clientes de concessionárias de energia, mas o projeto pode ser adaptado para projetos da área naval”, conta José Alexandre Almeida Luiz Junior, diretor administrativo da Induscabos.

Mudanças. Jorge Minas, diretor de Marketing Institucional da Prysmian, lembra que as mudanças na indústria naval estão sendo sentidas agora.  “O mercado de cabos para aplicações em embarcações, navios e plataformas está crescendo no Brasil. Há 20 anos havia no Brasil uma indústria naval forte, mas que praticamente desapareceu. Nos últimos anos, puxado principalmente por investimentos na prospecção e produção de petróleo, este mercado está crescendo e se consolidando”, exulta ele.
Para atender a este mercado crescente, a Prysmian investiu cerca de US$ 5 milhões nos últimos anos, principalmente em novos equipamentos para aumento da capacidade produtiva e nas certificações de terceira parte, indispensáveis neste tipo de atividade.
O gerente de produtos para a América Latina da Anixter do Brasil, João César Signorini Cardoso, sente um movimento de retomada de projetos, após a retração do mercado causada pela crise. “Muitos projetos foram postergados, mas já sinto um movimento de retomada, espero que o mercado de petróleo e gás cresça, com os consórcios de plataformas e offshore”, comenta.
Cardoso também lembra que o mercado é exigente e demanda produtos diferenciados. “Todos os materiais precisam ser reforçados e prontos para trabalhar em ambientes agressivos, sofrendo ação da água, ácidos, graxa. Trabalhamos com toda a linha, energia e automação, para plataformas e indústria petroquímica, conectores especiais”, explica.
Minas, da Prysmian, lembra também que 2009 foi um ano de crise, com forte redução de volume de negócios. Para ele, o mercado vive de encomendas de longo prazo, o que dificulta uma rápida recuperação. “O mercado ainda está em desenvolvimento, e oscila entre médio e muito bom. Estamos prevendo um desempenho igual a 2009 para 2010, mas há expectativas de melhorar ao longo do ano”, explica.

Pronta entrega. Além dos fabricantes, o setor de fios, cabos e conectores conta com distribuidores, que atendem aos pedidos de emergência ou de menor volume. Rogério Fernandes, gerente comercial da Sandler, comemora o fato de não haver cancelamentos em um ano tão conturbado. “O mercado parou por conta da crise, mas a tendência é melhorar. Muitos investimentos pararam, mas não houve cancelamentos”, conta Fernandes.
O executivo lembra que normalmente os estaleiros e outras empresas encomendam os fios, cabos e conectores elétricos diretamente com os fabricantes, apresentando seus projetos. Mas, no caso de mudanças de projeto ou necessidade de mais material, é mais rápido recorrer aos distribuidores.
“Já temos projetos para 2010, o estaleiro Atlântico Sul está com várias encomendas, as perspectivas são boas. Uma característica que destacamos em nossa empresa é que atende a demandas pontuais dos estaleiros, já que somos revendedores”, explica Fernandes.
John Lopes Horce, gerente de vendas da Alpha Marktec Cabos e Produtos Elétricos, tem uma visão mais pessimista do ano que acabou. “O ano de 2009 não existiu. No período entre 2008 e 2009, houve uma queda no faturamento. Em 12 anos de crescimento, nunca havia visto uma crise como esta”, avalia.

2010. Para 2010, Horce projeta, no entanto, um crescimento de 10%, mas calculado em relação a 2008. Segundo o gerente, além do crescimento do mercado naval e offshore, bem como de toda cadeia ligada a Petróleo e Gás, os setores de mineração, papel e celulose irão crescer.
“Durante a crise, não demitimos ninguém, seguramos a equipe, para conseguir promover a retomada rapidamente, já que treinar novos funcionários é caro. Esperamos a volta de grandes empreendimentos confiantes para 2010”, resume Horce.
Depois de um ano modesto, diz Berardo da Wirex Cable, a esperança é de um 2010 melhor. “2009 não andou na velocidade prevista, mas a crise não afetou tanto o setor naval, pois o mercado já vinha se desenvolvendo”, lembra.
“Em 2009 criamos uma gerência específica no Rio, para cuidar do segmento naval. Acabamos de encerrar um ciclo de investimentos de US$ 10 milhões para produção de cabos isolados com compostos termofísicos. Estamos fechando grandes contratos para 2010, e esperamos exportar 5% de nosso faturamento, que em 2009 foi de US$ 200 milhões. O dólar baixo reduz os lucros com a exportação, mas não vamos desistir, pois queremos ampliar nossa atuação no exterior”, completa Berardo.
Na Induscabos, o foco é recuperar a perda ocorrida em 2009, que ficou em torno de 15%. O pré-sal também está na agenda da empresa, mas para um futuro próximo. “Ainda não temos projetos para 2010, mas as perspectivas são boas. Em 2008 começamos um projeto de ampliação, com investimentos antes da chegada da crise. Não paramos, tentamos segurar fazendo outros cortes, sem prejudicar a empresa como um todo. Acredito que 2010 será bem melhor. Ainda é cedo para falar em ganhos com o pré-sal, mas a área naval vem crescendo nos últimos anos com força”, conta José Alexandre.
Cardoso, da Anixter do Brasil, lembra que em outubro as consultas dos clientes voltaram a acontecer e projetos foram retomados. O Brasil é, para a multinacional, mercado muito interessante e que receberá mais atenção em 2010. “A Anixter está espalhada pelo mundo, e com atuação regional para a América Latina. O Brasil é o centro das atenções do mercado atualmente, pelas descobertas do pré-sal”, completa.
Antes de a crise estourar, a Prysmian estava investindo de olho na exploração do pré-sal. No final de 2009, a empresa anunciou a ampliação de sua unidade em Vitória (ES), para fabricação de tubos flexíveis. O investimento será da ordem de R$ 200 milhões. As instalações deverão ficar pronta no final de 2010. Um contrato inicial com a Petrobras estabelece a comercialização de US$135 milhões, em quatro anos, destes tubos flexíveis.
“Já prevíamos um aquecimento do mercado e desde 2007 estamos investindo na renovação para atuar no mercado de cabos especiais. Os cabos para a indústria naval são produtos bem específicos, para atender às necessidades especiais. Por exemplo, temos que colocar tranças de aço, para que roedores não danifiquem o cabo, e o afumex, que impede a propagação de fumaça caso o cabo entre em curto”, completa Minas. As vendas na América Latina correspondem a 9% do faturamento e as vendas mundiais ultrapassaram cinco bilhões de euros em 2008.

Pré-sal. O pré-sal é, para muitos executivos, a grande mola que irá alavancar o mercado nos próximos anos. Carlos Ney, diretor comercial da Fábrica Nacional de Condutores Elétricos (FNCE), conta que tem participado de eventos sobre o assunto e são fortes as perspectivas de melhoras. Segundo ele, o Brasil poderá passar, com o início da extração de petróleo em camadas mais profundas, de 12º a sexto produtor mundial.
“Já estão acontecendo muitas construções de navios e plataformas. Nossa empresa é pequena, mas temos alguns diferenciais. Buscamos estar sempre atualizados com as certificações, como a ISO 9000, que já possuímos, e a ISO 14000, que não é obrigatória, mas já estamos encaminhando nossa qualificação”, explica Ney.
Em 2009, segundo ele, houve muitas consultas, mas poucos negócios foram fechados. “Este mercado é feito com compras globais. No caso da Petrobras, eles fecham pacotes com fornecedores para períodos longos, de um ano, o que garante um preço fixo.” O executivo lembra ainda que em 2008 o mercado ainda aqueceu até agosto e setembro, quando a crise estourou no exterior, gerando a retração do mercado.
Já Tencer, da Nexans Ficap, não vê uma grande influência da exploração do pré-sal no mercado nos próximos anos. “No momento, o foco deve estar no crescimento da indústria naval local, que deve ocorrer em 2010. Eventualmente as descobertas de pontos para extração do pré-sal poderão agilizar projetos”, conclui.

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