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Aliança volta a construir navios no Brasil

Após anos de prospecções e análises de mercado, a brasileira Aliança Navegação e Logística, da alemã Hamburg Süd, tomou a decisão de construir, no Brasil, navios para o transporte de contêineres. A empresa teve aprovada ontem a "prioridade" pelo Fundo da Marinha Mercante (FMM), fonte de financiamento de longo prazo do setor naval, para construir no Estaleiro Ilha S.A. (EISA), no Rio, quatro navios porta-contêineres. O pedido de financiamento é de US$ 370 milhões, 90% do investimento total no projeto de cerca de US$ 400 milhões.

As embarcações, com capacidade de transportar 3 mil TEUs (contêiner equivalente a 20 pés), vão ter bandeira brasileira e serão usadas na cabotagem (a navegação costeira). Os navios vão permitir renovar a frota da Aliança na cabotagem, segmento que cresce acima do Produto Interno Bruto (PIB). Dados da Hamburg Süd indicam que a cabotagem deve crescer 7% em 2011 em relação ao ano passado, totalizando 540 mil TEUs. Para 2012, estima-se um aumento de 8% com o volume movimentado podendo chegar a 583,2 mil TEUs. Para a Aliança, um dos vetores de crescimento na cabotagem é o tráfego sul-norte, com destino Manaus, no Amazonas.

O crescimento da atividade estimula os armadores a expandir e renovar as frotas. A Log-In, empresa coligada da Vale que também atua na cabotagem, tem contratos para construir sete navios no mesmo estaleiro EISA por R$ 1 bilhão. Na encomenda, cinco navios são porta-contêineres, adquiridos por R$ 700 milhões, e dois são graneleiros comprados por R$ 300 milhões e dedicados ao transporte de bauxita na região norte do Brasil.

No caso da Aliança, os novos navios vão substituir parte da frota de oito embarcações que a empresa tem em operação na costa do Brasil, Uruguai e Argentina, a chamada grande cabotagem. A frota atual tem capacidade de transportar 3,7 mil TEUs por semana, volume que deve aumentar quase 15%. Isso porque os novos navios vão permitir agregar mais 500 TEUs por semana de capacidade a partir do momento em que os contratos se tornarem efetivos, antes mesmo da entrega das embarcações. Pela legislação brasileira, a empresa pode afretar navios no mercado enquanto estiver construindo navios de bandeira brasileira.

Julian Thomas, diretor-superintendente da Aliança, disse que o preço oferecido hoje no Brasil para construir esse tipo de navio é bem mais interessante do que no passado. Antes de definir a classe dos navios que agora pretende construir, a Aliança analisou a possibilidade de montar no país embarcações de menor capacidade, na faixa de 2,5 mil TEUs. Os últimos navios construídos pela Aliança no mercado brasileiro foram o Aliança Brasil e o Aliança Europa, em 1994, poucos anos depois de o grupo Oetker, dono da Hamburg Süd, adquirir a Aliança, em 1988.

No exterior, a Hamburg Süd, maior armador de contêineres da Costa Leste da América do Sul, tem um agressivo programa de construção de navios de grande porte para atender o transporte de cargas em diversos tráfegos. São navios de 7,1 mil TEUs e a próxima série de navios da empresa deve ter capacidade ainda maior, na faixa de 9,5 mil TEUs.

Thomas disse que a Aliança sempre manteve o plano de construir navios novamente no Brasil. Ele afirmou que entre a obtenção da prioridade pelo Fundo da Marinha Mercante e a efetivação dos contratos é preciso superar uma série de etapas, incluindo a negociação com o agente financeiro do fundo. A Aliança ainda não definiu qual será o agente repassador dos recursos, que deve ser definido entre Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Brasil e CEF. Um executivo da construção naval mostrou-se cauteloso. Disse esperar que agora, depois de tantas tentativas, a Aliança de fato consiga levar adiante o seu projeto de construção naval no Brasil.


(Fonte: Valor Econômico/Por Francisco Góes | Do Rio






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