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ANP “caça” petróleo no Paraná

Técnicos procuram há dois meses indícios de óleo e gás no Sudoeste do Paraná. Levantamento vai ajudar a definir blocos que poderão ser ofertados nos próximos leilões
Quase 200 homens percorrem, desde maio, áreas rurais do Sudoeste do Paraná em busca de vestígios da existência de petróleo e gás no subsolo da região. A centenas de quilômetros da costa brasileira, que há três décadas concentra as principais descobertas do setor, esses trabalhadores passam o dia abrindo picadas e detonando pequenas explosões em sítios e fazendas de municípios como Salto do Lontra, Itapejara do Oeste e Honório Serpa. Funcionários de uma empresa contratada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), eles estão fazendo o mapeamento sísmico da região, espécie de “ecografia” das camadas subterrâneas, para saber se elas têm condições de acumular hidrocarbonetos. Dependendo do diagnóstico, essas áreas podem, no futuro, se transformar em verdadeiros campos produtores de petróleo e gás.
O estudo exploratório da Bacia Sedimentar do Paraná – formação geológica que abrange quase todo o Sul do país e parte das regiões Sudeste e Centro-Oeste – faz parte do Plano Plurianual de Geologia e Geofísica da ANP. Incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ele receberá recursos de R$ 62,4 milhões até abril de 2011. Os trabalhos da equipe sul da Georadar, empresa mineira que venceu a licitação da agência reguladora, começaram em São José dos Ausentes, no nordeste gaúcho, em novembro do ano passado. A companhia chegou ao Paraná há dois meses, montando sua base em Coronel Vivida, e em agosto deve se mudar para Roncador, no Centro-Oeste do estado. Lá, os 280 trabalhadores da equipe sul vão se juntar aos 380 da equipe norte, que partiu de Mato Grosso do Sul.
Ao todo, o programa sísmico vai mapear uma extensão de 2.155 quilômetros, em 129 municípios de cinco estados. O Paraná concentra a maior parte dos estudos, com testes ao longo de 922 quilômetros em 55 municípios. O trabalho dará subsídios para a ANP decidir se vale a pena incluir áreas da bacia nos próximos leilões de concessão de óleo e gás.
Inexplorada
/ Detonação em sítio de Itapejara do Oeste: propagação do som ajuda a desvendar o subsolo Ampliar imagem
Detonação em sítio de Itapejara do Oeste: propagação do som ajuda a desvendar o subsolo
Exploração
Dificuldades inibiram prospecção
Pelo menos dois fatores desestimularam a prospecção de petróleo e gás na Bacia do Paraná. Um deles foi a descoberta, a partir da década de 1970, de grandes reservas na Bacia de Campos – região que passou a concentrar esforços e recursos do governo. Outra razão é de caráter técnico. Boa parte da Bacia do Paraná tem no seu “recheio” uma grossa camada de basalto, rocha bastante rígida derivada da intensa atividade vulcânica ocorrida na região há centenas de milhões de anos. Com espessura de até 1,6 quilômetro, essa camada dificulta a “visualização” e a interpretação das rochas sedimentares que ficam abaixo dela.
As bacias sedimentares são terrenos propícios à acumulação de petróleo e gás, mas a do Paraná é praticamente inexplorada. Desde o fim do século 19, quando um fazendeiro de Bofete (SP) contratou uma equipe norte-americana para explorar suas terras, foram perfurados apenas 124 poços na bacia, que tem 1,12 milhão de quilômetros quadrados. Em comparação, o Recôncavo Baiano tem cerca de 5,7 mil poços perfurados em seus 10 mil quilômetros quadrados, conta o especialista em geologia e geofísica do petróleo Raphael Ranna.
Funcionário da superintendência de definição de blocos da ANP, Ranna é o responsável pela fiscalização dos trabalhos da Georadar. Segundo ele, embora haja motivos para crer na existência de riquezas minerais na região, dificuldades técnicas e econômicas desestimularam sua exploração. Curiosamente, quem mais investiu foi a Paulipetro, estatal paulista criada pelo então governador Paulo Maluf – ela perfurou 69 poços entre 1980 e 1982, sem encontrar jazidas economicamente viáveis.
A escassez de informações sobre o potencial da bacia explica o baixo interesse das empresas petrolíferas. De 11 blocos ofertados pela ANP entre 1998 e 2008, oito nem sequer foram alvo de lances, e nenhum dos demais resultou em produção comercial. A norte-americana El Paso chegou a prospectar no Paraná, mas desistiu. Por enquanto, apenas o campo de gás da Petrobras em Pitanga, no centro do estado, tem chances de entrar em operação. Após vários adiamentos, o início de sua produção está marcado para 2011.
Forasteiros
À exceção de 29 motoristas contratados no Paraná, quase toda a equipe da Georadar é formada por nordestinos. O quadro administrativo está hospedado em hotéis e o pessoal de campo ocupa um alojamento alugado pela empresa. Se não chega a revolucionar a economia de Coronel Vivida, a presença de tantos “forasteiros” anima segmentos do comércio, que já lamentam a despedida prevista para o mês que vem. No Restaurante Ferraza, por exemplo, o movimento cresceu quase 50% no almoço e duplicou no jantar. “Toda noite, pelo menos 100 pessoas jantam aqui”, conta o proprietário, Gilmar Ferraza. “Não só restaurantes, mas panificadoras, postos de combustíveis, oficinas mecânicas e prestadores de serviços têm incremento em suas receitas”, diz o prefeito de Coronel Vivida, Fernando Gugik.
A intensa circulação de trabalhadores de campo, topógrafos, geofísicos e geólogos mexe com a imaginação dos pouco mais de 20 mil habitantes do município. Que, aliás, é visitado por profissionais da área desde 2004, quando se comprovou que a depressão existente no distrito de Vista Alegre foi provocada pela queda de um meteorito, há centenas de milhões de anos. “Com certeza tem tudo o que é minério aqui. O problema é que os colonizadores do município, italianos, muito tímidos, nunca deram muita bola, queriam saber mais da roça. Isso segurou o progresso”, opina o auxiliar de motorista Roque Ferreira. Não faltam interessados nos dividendos desse esperado progresso. Segundo o chefe da equipe sul da Georadar, Bruno Henrique Martins, é co­­mum agricultores insistirem para que suas áreas sejam visitadas – a legislação assegura aos donos de terras royalties de até 1% sobre a produção de campos terrestres.

Fonte: A Gazeta do Povo (PR)/Fernando Jasper


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