Criação da Embrapii abre perspectiva do desenvolvimento de tecnologias e soluções para o setor naval
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Apoiar a indústria nacional no desenvolvimento de projetos de inovação tecnológica: este será o objetivo da recém-criada Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Com previsão de iniciar o projeto piloto de Aliança Estratégica Pública e Privada até o primeiro trimestre do ano, a empresa terá como foco inicial as áreas de processos e automação, nanotecnologia e petróleo e gás. No entanto, a ideia é que sejam abertas oportunidades para diversos setores da economia e a indústria naval é um dos segmentos que poderão ser beneficiados com recursos da Embrapii.
“Demandas de inovação deste setor serão bem-vindas, devemos ter condições de aportar recursos. Temos todo o interesse em trabalhar com este segmento, visto que as nossas competências estão relacionadas a ele”, diz o diretor do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), Domingos Naveiro. Unidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação localizada no Rio de Janeiro, o instituto tem representantes que fazem parte do grupo de trabalho instituído para a criação da Embrapii.
Quem também tem membros no GT é o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo. De acordo com o presidente da entidade, João Fernando de Oliveira, foi definido no modelo Embrapii que cada instituição tivesse um plano de negócios com foco em uma área específica. Mas passada a fase piloto, que vai durar 18 meses, os institutos conveniados poderão propor a inclusão de novos setores. “O sistema Embrapii vai ser aberto a proposições daqueles que desejam ingressar através de planos de negócios. No piloto, o IPT decidiu focar na nanotecnologia, que tem aplicações em várias áreas específicas, como a engenharia naval. Então nós vamos ter sim alguma coisa aplicada ao setor, mas não vai ser o foco temático do IPT inicialmente”.
Entre as aplicações da nanotecnologia que poderão ser utilizadas na área naval estão os sistemas para minimizar a possibilidade de corrosão de chapas. Um dos problemas da área naval, destaca Oliveira, está relacionado aos materiais utilizados nas embarcações para pintura, por exemplo. “Fazer, por exemplo, um nanorecobrimento em uma chapa de um componente antes de pintar pode fazer aumentar sua vida útil, reduzir custos e o tempo de parada para manutenção. Teremos trabalho focado em materiais que impactam na indústria naval”, declara.
Já o foco do INT será a área de petróleo e gás que também tem uma vertente relacionada ao setor naval, como os equipamentos utilizados na produção de petróleo, por exemplo. Para Naveiro, ainda existem gargalos tecnológicos quando se discute a exploração do pré-sal. Questões que envolvem a logística, em função da distância da costa, e a segurança estão entre eles. Formado por cerca de 650 pessoas, o INT conta com mais da metade desse pessoal focado nas suas áreas técnicas. Entre elas estão corrosão e degradação; ensaios em materiais e produtos; inovação e prospecção tecnológica; e catálise e processos químicos.
Junto com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial da Bahia (Senai Cimatec), o INT e o IPT são os três institutos selecionados para estes primeiros 18 meses. Mas a meta do governo é atingir 30 institutos de pesquisa do país até o final de 2014. A Embrapii contará com orçamento inicial de R$ 90 milhões, que serão repassados pela Finep, e os recursos serão divididos igualmente entre os três institutos.
O modelo de gestão da Embrapii também já foi definido. Os recursos serão distribuídos da seguinte maneira: um terço do valor integral do projeto poderá ser pago pelos recursos alocados da Embrapii, outra terça parte virá das instituições tecnológicas através de infraestrutura e pessoal e um terço restante será proveniente de recursos próprios da empresa interessada na inovação. “Estamos criando um estímulo para que as instituições de pesquisa aplicada procurem clientes para seus projetos, façam mais aplicações tecnológicas e aumentem a taxa de inovação dessas empresas”, comemora Naveiro. Oliveira complementa. “A Embrapii deve potencializar projetos de R$ 270 milhões. O governo abre o programa, investe R$ 90 milhões e a expectativa é que aconteçam projetos com valor três vezes maior.”
Os institutos vão receber os R$ 30 milhões através de um contrato de gestão e serão avaliados, entre outros fatores, pela sua carteira de clientes. Por isso, os institutos já começaram a buscá-los. O IPT, segundo Oliveira, já listou um conjunto de 15 projetos possíveis de serem submetidos à Embrapii que somam cerca de R$ 60 milhões. Deste montante, o instituto já contabiliza cerca de R$ 6 milhões em fase final de negociação e R$ 45 milhões em negócios em etapa avançada. Os principais clientes destes projetos de bionanotecnologia são da indústria química, metalúrgica e do setor de medicamentos.
Na área de petróleo e gás, o IPT já está em negociação com cerca de oito a dez empresas a fim de implementar os projetos logo neste início de ano. Sem citar os nomes das companhias, Naveiro declara que os temas dos projetos estão relacionados à produção e transporte de combustíveis. “A cadeia de petróleo e gás é bem extensa e mantém sinergias com outras cadeias produtivas e outros segmentos, como o setor naval.”
Na avaliação dos representantes dos institutos, as empresas estão cada vez mais dispostas a pagar por inovações. Naveiro, do INT, destaca que o instituto está implementando um trabalho visando a uma maior aproximação do corpo técnico junto ao setor produtivo. Além disso, diz o executivo, o governo tem contribuído para incentivar a inovação nas empresas. “Inovação é risco, é preciso ter um fôlego financeiro, porque você pode ter um processo de inovação que não resulte em um produto novo. E aí vem o papel do governo, com a lei do incentivo, a lei do bem, a lei de inovação, e a própria Embrapii. São iniciativas para que o empresário se sinta mais apoiado no processo de inovação.”
A principal diferença entre o sistema tradicional de fomento à pesquisa e o do Embrapii, segundo Oliveira, do IPT, é que no passado as agências financiavam projetos, cujo ponto central era o seu resultado técnico. Já o foco da Embrapii é a capacidade institucional de produzir impacto na inovação das empresas. “Elas vão avaliar não pelo projeto, mas pela capacidade de captação de recursos de empresas para produzir inovação, e esse é o melhor indicador.”
Segundo Oliveira, o grupo técnico de trabalho tem se reunido quinzenalmente nos últimos seis meses, visando a criação da Embrapii. O comitê, destaca o diretor-presidente do IPT, já definiu as regras, as metodologias, o processo de desenvolvimento de plano de negócios dos institutos, como devem utilizar os recursos e como as instituições serão avaliadas. Na fase preliminar, a CNI vai operar como gestora da Empresa.
O objetivo principal da Embrapii é que sejam desenvolvidos projetos com cunho inovador. “Não é uma ação para atender, por exemplo, a serviços de rotina”, diz Naveiro, do INT. Se o projeto não tiver o conteúdo tecnológico que reforce o processo de inovação, não poderá ser submetido à empresa. Neste caso, afirma o diretor, a instituição tecnológica pode levar o projeto da empresa a outras agências de financiamento, como a Finep e o BNDES.
O tempo de desenvolvimento de um projeto, desde a ideia inicial até a sua finalização, varia de acordo com a sua complexidade. De acordo com Naveiro, caso uma empresa tenha interesse em algum projeto do INT que já esteja em fase de maturação, em pouco tempo o produto pode estar disponível no mercado. No entanto, caso a demanda tecnológica tenha que começar desde o marco zero, em menos de dois anos não se chega a uma solução completa.
Ao mesmo tempo em que os pesquisadores das instituições estão em busca da implantação de novas tecnologias para mostrar às empresas, estas também levam suas ideias aos institutos. “É uma via de mão dupla, na maior parte das vezes levamos os projetos, mas eles têm procurado muito, principalmente depois da divulgação do sistema Embrapii na mídia”, conta Oliveira.
A implantação da Embrapii teve como base duas referências: a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que mantém diversos centros de pesquisa e tem contribuído para aumentar a competitividade e eficiência do Brasil na agricultura, e a Fundação Fraunhofer, uma organização alemã de pesquisa, que conta com institutos espalhados pela Alemanha, cada um com foco em um campo diferente da ciência. n