O segundo adiamento do anúncio do novo plano de negócios da Petrobras, na sexta-feira, já afetam as ações da companhia. Os papéis fecharam ontem a R$ 23,10, o que representa uma queda de quase 10% sobre os R$ 25,48 que valiam no dia da capitalização, 24 de setembro do ano passado, já descontados os dividendos. Desde o fim de 2010 a empresa perdeu R$ 61 bilhões em valor de mercado - passou de R$ 380,24 bilhões no dia 30 de dezembro para R$ 319,19 bilhões ontem, numa baixa de 16%.
Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que preside o conselho da Petrobras desde o ano passado, evitou dar respostas objetivas sobre o tema. Disse que o conselho não "rejeitou nada" e negou a existência de divergências com a diretoria da estatal.
"Não há pontos de divergência, você tem que amadurecer determinados pontos, ajustar cronogramas, verificar se estão corretos, procurar reduzir custos e sempre melhorar desempenho. Mas não é assunto que vou tratar aqui, porque nem posso, é a própria Petrobras, quando tivermos o plano definido, que fará o anúncio, como sempre faz", disse Mantega.
Apesar das evasivas do ministro, é notório que companhia vive vários dilemas aparentemente não solucionados em duas reuniões consecutivas de avaliação do plano estratégico, a primeira no dia 20 de maio e a segunda no dia 17 de junho. Os problemas foram agravados recentemente pela percepção do mercado de que o conselho perdeu objetividade com a saída de Antonio Palocci. O ex-ministro participou apenas de uma reunião do conselho antes de se afastar do cargo de chefe da Casa Civil.
"Pela primeira vez vejo o conselho de administração da Petrobras em posição antagônica em relação à diretoria-executiva", afirma o economista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (Cbie).
Entre 2011 e 2015 a Petrobras precisa colocar em prática bilionários investimentos para aumentar a produção de petróleo e começar a explorar comercialmente as descobertas no pré-sal sem deixar de lado a exploração dos campos no pós-sal das Bacias de Campos, Espírito Santo e Sergipe-Alagoas, onde o retorno do investimento será mais rápido.
O plano estratégico atual prevê investimentos de US$ 224 bilhões até 2014, mas não inclui a exploração dos 5 bilhões de barris adquiridos no processo de cessão onerosa e posterior capitalização - orçados em no mínimo US$ 10 bilhões - nem a fase mais pesada de investimento nas novas refinarias. Também é preciso lembrar o objetivo do governo de aumentar os índices de nacionalização dos equipamentos utilizados pela estatal. Ela vai precisar construir dezenas de plataformas e sondas de perfuração para águas ultraprofundas no país.
Todos esses projetos levaram o mercado a atualizar o plano estratégico até 2015 para algo entre US$ 260 e US$ 265 bilhões. Mas o conselho pediu para reduzir investimentos ou, nas palavras do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que ele atribuiu a Guido Mantega, que a empresa apresentasse um plano "mais realista". Ontem, em relatório para clientes, os analistas do Itaú BBA afirmavam não ver muito espaço para reduzir os investimentos abaixo da faixa de US$ 240 bilhões a US$ 250 bilhões.
Um ponto nevrálgico é o preço dos combustíveis. Para colocar seus projetos em marcha sem comprometer seu grau de investimento, a Petrobras precisa fazer caixa. Mas o governo resiste em aceitar aumentos de preço da gasolina e do diesel que pressionem ainda mais a inflação.
O governo recusou uma proposta que sugeria aumentar o preço dos combustíveis reduzindo em 10% a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide). Desde maio de 2010 até o mês passado o governo arrecadou R$ 9 bilhões com esse tributo, lembra Pires.
A área de abastecimento da Petrobras é uma das que mais causam mau humor no mercado. A companhia tem planos de investir em quatro novas refinarias para processar petróleo produzido no país e atender ao aumento de consumo nacional sem importações. Mas enfrenta uma escalada de preços dos equipamentos e a falta de dinheiro para tantos projetos simultâneos. Os acionistas privados gostariam que as refinarias premium do Maranhão e Ceará fossem adiadas. E sem as novas refinarias o país não poderá evitar déficits da balança comercial de derivados.
Na opinião de Adriano Pires o governo está atribuindo responsabilidades para a Petrobras que podem sufocar a empresa no longo prazo. Citou como exemplo declarações recentes do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, de que a estatal precisa ter 15% do mercado brasileiro de etanol para funcionar como "regulador eficiente" do mercado. "A Petrobras tem que regular o mercado de etanol, aumentar a produção de petróleo, construir cinco novas refinarias, desenvolver o pré-sal, fazer novas termelétricas, criar um parque de fornecedores nacionais. É muita coisa para uma empresa que não pode vender os seus produtos a preços de mercado", ressalta Pires. (Colaborou Azelma Rodrigues, de Brasília)
Fonte:Valor Econômico/Cláudia Schüffner | Do Rio
PUBLICIDADE