Depois de anunciar um investimento de US$ 1 bilhão na aquisição de 45% dos ativos da novata HRT na Amazônia, o próximo movimento da petrolífera anglo-russa TNK-BP é abrir um escritório no Brasil. Já criou a TNK-BP Brasil e não há decisão ainda sobre a cidade que abrigará a sede da subsidiária brasileira, que terá uma estrutura independente da operação no Solimões.
O vice-presidente executivo da TNK-BP responsável pela área de exploração e produção, Alexander Dodds, disse que inicialmente será aberto um escritório de representação que poderá ficar no Rio ou em Manaus. "Vamos ter um representante para construir a reputação da empresa, interagir com a ANP e autoridades brasileiras, para mostrarmos que somos a TNK-BP e que queremos nos estabelecer no Brasil", explicou.
Dodds mencionou interesse em novos ativos não só no Brasil como também em outros países da América do Sul, mas deixou claro que no momento o foco é o Solimões. O primeiro trabalho será focar na análise técnica dos ativos na Amazônia, como imagens sísmicas, análise das rochas e o melhor desenho para perfuração de poços na região. Foi a pedido dos russos que a HRT pôs o pé no freio no seu programa de perfurações este ano.
Chris Eichcomb, vice-presidente de projetos e exploração da área internacional da TNK-BP, será o responsável direto pela operação no Brasil, respondendo a Dodds. Ambos continuarão baseados em Moscou, onde fica a sede da TNK-BP. É de lá que vão partir as primeiras análises e sugestões sobre a exploração dos 21 blocos amazônicos, dos quais comprou 45% esta semana. Ainda não há decisão sobre o time de executivos da operação brasileira. Só que serão comandados por Eichcomb.
A TNK-BP produz 1,77 milhão de barris de óleo equivalente por dia e suas cinco refinarias são capazes de processar 46% do óleo extraído por ela. Parte dessa produção é obtida na Sibéria, região de clima extremo que sofre variações de temperatura de 100 graus centígrados, de 60 graus negativos a 40 graus positivos. A empresa é a décima no ranking das maiores petrolíferas do mundo - quatro posições abaixo da Petrobras - se consideradas apenas as de capital aberto. Isso exclui, por exemplo, a gigante Saudi Aramco, da Arábia Saudita, PDVSA e Pemex.
Dodds, um escocês que morou no Qatar por sete anos trabalhando na ExxonMobil e antes disso morou no Canadá e teve passagem, inclusive, pelo Brasil, disse que a empresa quer estar presente no país. Para cuidar dos ativos em comum com a HRT, as duas sócias vão começar a se conhecer melhor. O presidente da HRT, Marcio Mello, fez questão de frisar, na terça-feira, que as duas companhias vão somar forças na exploração e produção na Amazônia. "Eu sei descobrir petróleo e eles sabem produzir", afirmou.
O presidente da HRT negou enfaticamente que a empresa deixará de ser operadora do projeto no Solimões em 30 meses se a TNK-BP exercer a opção que a permite adquirir uma participação adicional de 10%, o que tornaria a russa majoritária no projeto, com 55%. "A TNK-BP reconhece a HRT como operadora. É uma relação de transparência e flexibilidade. [A troca de controle] pode ocorrer ou não. Mas o pensamento hoje é que do jeito que as coisas serão, isso não vai ocorrer", disse Mello.
O executivo, e acionista, que tem uma relação absolutamente emocional com a empresa que criou, evitou de todo modo admitir que no vencimento da opção possa perder o controle operacional da HRT no Solimões.
Uma fonte próxima das negociações explicou assim a cláusula: "Essa opção possibilita que quem tiver mais capacidade para gerir o projeto seja o gestor. É um direito. Se a TNK-BP entender que a HRT não está fazendo um bom trabalho tem o direito de comprar mais 10% e passar, com aprovação da ANP, a ser operadora do projeto", explicou, garantindo que a opção pode não ser exercida se a TNK-BP estiver satisfeita com a condução da operação no Solimões.
Na entrevista ao Valor, Dodds deixou claro que ainda não seria possível assumir a operação da HRT na Amazônia se a anglo-russa exercesse essa opção hoje. Mesmo a contratação de pessoal para a operação brasileira também não está definida. Eichcomb explicou que a TNK-BP ainda não tem uma estrutura internacional organizada, pois apenas no ano passado adquiriu ativos no Vietnã e na Venezuela, onde produz 35 mil barris por dia em quatro projetos em parceria com a PDVSA. "Só agora estamos olhando para o exterior."
O executivo mencionou ainda duas questões importantes que, segundo ele, são relevantes para a internacionalização da TNK-BP, que tem apenas oito anos de existência. A primeira é a da língua. "Os russos não falam inglês. E há uma questão cultural, pois a maioria deles só trabalharam na Rússia. Não entendem negócios internacionais e o que vamos ganhar. Então, para tentar estabelecer uma organização [internacional], temos de levar em conta língua e cultura."
Eichcomb destacou que mesmo quando a empresa chegar a um nível que permita ter funcionários expatriados, o número deles será pequeno. "Não quer dizer que vamos ter duas mil ou três mil pessoas, provavelmente serão 100 pessoas [no Brasil]. Aconteça o que acontecer, a organização está aprendendo com esse projeto". Por disso, frisou, não interessa quem vai ser o operador [na Amazônia]."
Fonte: Valor Econômico/Por Cláudia Schüffner, Juliana Ennes e Guilherme Seródio | Do Rio
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