O Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), projeto da Petrobras em Itaboraí que teve as obras suspensas em 2015, voltou a contratar. É passo inicial para a retomada do setor de óleo e gás e da economia fluminense, num momento em que o estado corre o risco de perder o socorro fiscal da União. Com a estimativa de gerar três mil emprego diretos e indiretos até o fim de 2019, segundo a Firjan, é ainda um movimento tímido, mas que abre perspectiva positiva no mercado de trabalho e nos negócios a reboque de projetos que virão nos próximos anos.
Um dos maiores símbolos do esquema de corrupção revelado pela Lava-Jato, o Comperj volta à ativa com a construção da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN), para onde seguirá o gás natural produzido no pré-sal na Bacia de Santos. A estatal contratou o projeto junto à chinesa Shandong Kerui Petroleum e à brasileira Método Potencial, por R$ 1,9 bilhão. As contratações tiveram início e devem alcançar 1.300 empregos diretos no fim de 2019.
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- A oferta maior virá com a refinaria do Comperj (em negociação entre a Petrobras e a chinesa CNPC). Mas é real a possibilidade de retomada num cenário com um número maior de players em óleo e gás. Em uma década, o Rio terá maior produção e demanda por profissionais e empresas - avalia Karine Fragoso, gerente de petróleo, gás e naval da Firjan.
Royalties subiram 71%
Esse alento, contudo, pode cair por terra caso o estado seja excluído do Regime de Recuperação Fiscal firmado com a União. Segundo o secretário de Fazenda e Planejamento, Luiz Cláudio Lourenço Gomes, a aprovação pela Alerj de aumentos para os servidores do Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria, o que é vedado pelo programa fiscal, terá efeitos sufocantes para a economia fluminense:
- Não existe composição para bancar a saída do plano. O Estado teria que pagar R$ 18 bilhões à União. O crescimento da cadeia de óleo e gás tem efeito positivo dentro do Regime. A recuperação começou com a volta dos investimentos da Petrobras no Estado.
A arrecadação do estado com royalties e participações especiais de janeiro a julho deste ano foi de R$ 8,29 bilhões, 71% mais sobre igual período de 2017.
A construção da UPGN vai exigir também a realização de obras de infraestrutura, como a da Central de Utilidades, com aporte da ordem de R$ 4 bilhões no Comperj nos próximos anos, segundo fontes técnicas do setor, com geração de cinco mil empregos diretos.
A região do Comperj - Itaboraí, São Gonçalo, Magé, Cachoeiras de Macacu, Guapimirim, Tanguá e Rio Bonito - perdeu postos de trabalho desde a paralisação das obras do complexo. De janeiro a julho de 2015, o saldo na oferta de empregos na região ficou negativo em 9.970 vagas. Em igual período deste ano, foram menos 2.541 empregos.
Cerca de 700 candidatos foram ao Sine de Itaboraí ontem, atrás das primeiras 19 de 64 vagas na UPGN, para funções como armador e carpinteiro. Na segunda-feira, serão ofertadas mais vagas.
Desempregado há três anos, o carpinteiro Reinaldo Dettman, de 61, chegou ao Sine às 4h da madrugada, mas não conseguiu uma das 200 senhas para a seleção:
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- Estou vivendo de bicos, mas há três semanas que não me chamam para nada.
Empresas se beneficiam
Nos últimos 12 meses, o Estado do Rio foi a unidade da federação que mais fechou postos de trabalho formais, com um corte de 27.256 vagas com carteira assinada. O maior peso foi justamente da construção civil, setor que fechou 14 mil postos.
Com a crise, os profissionais mais experientes devem ser contratados primeiro, aposta Thyago Rodrigues, do Sintramon, sindicato dos trabalhadores de empresas de montagem e manutenção de Itaboraí:
- Muitos vão voltar ao mercado de trabalho, mas vai demorar, porque a retomada das obras com força deve ocorrer ano que vem.
Também empresas se beneficiam. A LC Restaurantes, de serviços de hotelaria, fechou contrato de seis meses para atender a 10ª plataforma da Petrobras, a FPSO P-75, que vai operar no pré-sal, em Búzios. É o primeiro contrato com a estatal desde janeiro de 2015.
- Teremos 40 funcionários para esta operação - diz Geraldo Luz, gerente geral de hotelaria marítima da LC.
Outro sinal positivo é a ocupação do Parque Industrial Bellavista, em Macaé, que avançou no último ano:
- Começamos a sentir o retorno do interesse a partir de setembro de 2017. Além da Petrobras, já estão no parque a francesa Schlumberger e as americanas Baker Hughes e National Oilwell Varco - destacou o diretor do Bellavista, Leonardo Dias.
Para Telmo Ghiorz, diretor da Abespetro, que reúne empresas prestadoras de serviços à indústria de petróleo, a retomada das contratações terá efeito em cascata em toda a cadeia de serviços:
- Várias petroleiras estão contratando serviços diversos. Há retomada concreta.
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O economista Mauro Osório, professor associado da UFRJ, pondera que é preciso disciplina para aproveitar essa oportunidade:
- A retomada no Comperj é positiva, mas ainda num contexto local. Para ganhar escala e efeito para a retomada da economia fluminense, que perdeu 500 mil empregos desde 2015, vai depender da elaboração e adoção de um plano estratégico para o setor de óleo e gás.
Fonte: O Globo