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Navalshore

Componentes indispensáveis

Fabricantes de cabos e conectores se preparam para encarar alto nível de competitividade nos próximos anos

Eles estão por toda parte e são indispensáveis em navios e plataformas. Não somente os cabos, mas conectores e componentes elétricos abrangem uma série de itens em projetos de grande porte e são motivo de uma disputa acirrada entre os fabricantes nacionais e estrangeiros do setor naval. Nos últimos anos, o desafio desses fornecedores tem sido o de adequar-se às rigorosas exigências do mercado. E mesmo o setor naval ainda não sendo um dos principais segmentos para algumas destas empresas, elas estão com perspectivas de crescimento. Alguns dos fabricantes analisam, inclusive, a possibilidade de ampliar suas fábricas e diversificar suas linhas de produtos.


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O gerente de Desenvolvimento de Produto e Mercado da Induscabos Condutores Elétricos, Gelson Antonio da Silva, diz que o mercado está aquecido e começando a ganhar corpo com encomendas relevantes. Ele conta que a empresa está fornecendo parte dos cabos elétricos para a LLX nas obras do porto do Açu, no Rio de Janeiro. Silva comemora que as obras estão em estágio avançado e que devem seguir num bom ritmo nos próximos meses. “Esse projeto deve demandar cerca de 500 toneladas de cobre. Isso mede bem o volume do negócio”, destaca.

Apesar de considerar ainda pequena a participação da Induscabos no setor naval, Silva avalia que o mercado de cabos para esse segmento está crescendo, sobretudo pelas novas demandas de embarcações. Entretanto, a Induscabos tem focado outros segmentos. “A Induscabos ainda não está trabalhando firmemente o setor naval e offshore por causa de interesses industriais. Existem mercados mais atrativos e mais aderentes com a nossa vocação — mercado de cabos de potência —, onde a empresa se sente mais bem colocada em termos de market share e competitividade”, analisa.

Com 35 anos de mercado, a Induscabos possui fábrica na zona leste de São Paulo, na região de Poá. A capacidade instalada da unidade gira em torno de três mil toneladas por mês. Recentemente, a empresa finalizou a expansão dessa fábrica. Com uma nova área de 10 mil metros quadrados construídos, totalizando quase 50 mil metros quadrados de área total, a Induscabos pretende ampliar seu portfólio de cabos de média tensão e iniciar a produção da linha de cabos de alta tensão, tendo como desafio conquistar novos clientes e entrar em novos mercados. Atualmente, a fabricante fornece cabos com condutores de cobre até classe 20/35 kV para diferentes aplicações.

Andréia Correia, supervisora comercial da Innovcable, destaca que as vendas de fios e cabos para o setor naval e offshore estão alavancadas, superando as expectativas. Por conta disso, ela ressalta que é um setor que exige produtos específicos e de alta qualidade. “Trata-se de um mercado bem exigente e que tem levado toda a indústria naval a um nível de aprimoramento comparado ou superior a outros mercados globais”, analisa.

A Belden-Poliron estuda a necessidade de ampliação da fábrica em Diadema (SP). Outra opção pode ser a aquisição de uma nova unidade. A empresa tem conseguido fechar pedidos de cabos de instrumentação para área naval, inclusive para navios da Petrobras. Por enquanto, a certeza é de que a capacidade da fábrica será aumentada em 35% para o ano que vem. Atualmente, essa unidade possui cerca de 170 funcionários. A empresa faturou US$ 30 milhões em 2010.

Para o setor naval, a Belden fornece principalmente cabos de instrumentação para os navios que estão sendo construídos para transportar o petróleo da Petrobras. O mercado está crescendo para a Belden, que pretende aumentar sua participação no segmento a partir de 2012. A estratégia é ficar com uma pequena parcela desse grande mercado de componentes elétricos. O diretor geral da Belden-Poliron, Maurício Zavatti, estima que 90% desse mercado seja atendido por fabricantes nacionais.

 

Competitividade. Para Silva, da Induscabos, o mercado de componentes elétricos para o setor naval está bastante competitivo. Ele observa que esses tipos de equipamentos demandam uma série de exigências severas em relação à qualidade de produtos, aos sistemas e às certificações internacionais. “Esse é um mercado bem seletivo. Embora o Brasil tenha um número bastante grande de fabricantes de cabos elétricos, a presença de concorrentes nesse mercado não é tão grande por causa do nível de seletividade”, comenta.

O gerente da Induscabos destaca que os processos de adequação dos produtos representam um gasto extra para as empresas. “Existem custos e são custos altos. Isso faz com que apenas uma parcela dos fabricantes de cabos participe desse mercado”, diz.

Andréia, da Innovcable, destaca que as vendas de fios e cabos para o setor naval e offshore estão alavancadas, superando as expectativas. Por conta disso, ela ressalta que é um setor que exige produtos específicos e de alta qualidade. “Trata-se de um mercado bem exigente e que tem levado toda a indústria naval a um nível de aprimoramento comparado ou superior a outros mercados”, diz.

A supervisora comercial da Innovcable diz, sem muitos detalhes, que existem projetos de novos equipamentos que devem resultar em aumento de produtividade. Ela adianta, no entanto, que a empresa está finalizando novos produtos como, por exemplo, um cabo que trafega dados e energia e que flutua ao mesmo, tendo aplicações específicas para utilização em engenharia naval inovadora.

Zavatti, da Belden-Poliron, revela que a empresa adotou, a partir de 2005, a estratégia de diversificar sua linha de cabos para atender ao anseio dos investidores que não estavam satisfeitos apenas com a venda desse tipo de produto. Com isso, a Belden começou a buscar vender os itens que são conectados aos cabos — conectores para soluções mais fáceis, eficientes e viáveis. A empresa fabrica cabos de rede, de fibra e industriais de comunicação.

Em abril deste ano, a norte-americana Belden adquiriu a Poliron, que era uma companhia com perfil semelhante. Zavatti detalha que a entrada no Brasil e na América Latina se deu de uma maneira mais agressiva, por meio de dois principais projetos: o de adicionar pessoal das áreas técnica e comercial na região, principalmente no Brasil, além de tentar adquirir uma companhia brasileira. “A empresa era consciente da tarifa de importação, das dificuldades de fazer negócio no Brasil se não tivesse uma fábrica aqui. Junto com investimento do pessoal técnico e no novo centro da América Latina (em São Paulo), estamos tendo muitos bons resultados”, explica. Ele revela ainda que a empresa está perto de fechar 2011 com faturamento de US$ 50 milhões no Brasil.

 

Perspectivas. A porcentagem de empresas da área de componentes que apresentaram vendas/encomendas abaixo das expectativas no segundo trimestre atingiu os 50%, ante 36% nos três primeiros meses de 2011, segundo sondagem realizada pela Associação Brasileira de Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). O percentual das empresas com expectativas de crescimento das vendas/encomendas no balanço do terceiro trimestre em relação a igual período do ano anterior caiu de 55% para 50% na área de componentes elétricos — estas previsões foram apuradas, respectivamente, no primeiro e segundo trimestres de 2011. Ainda assim, a sondagem da Abinee indica que o faturamento da área de componentes deve chegar próximo dos R$ 10 bilhões, 5% acima dos cerca de R$ 9,5 bilhões projetados pelo segmento em 2010. Mesmo que o cenário não seja tão animador, os fabricantes e distribuidores de cabos para o setor naval e offshore conseguem traçar metas de crescimento acima dos 20%.

A Innovcable pretende ampliar os investimentos para atingir o crescimento de 35% ao ano firmado em seu planejamento estratégico. A empresa não divulga os valores, mas a supervisora comercial da empresa garante que serão números expressivos aplicados em novas tecnologias, maquinaria e estrutura financeira. “Estamos ampliando neste ano e no próximo, investindo em novas certificações, desenvolvimento de novos projetos e de novos produtos. Isto terá um impacto em nossa infraestrutura, demandando novos equipamentos, procedimentos e serviços”, conta Andréia.

A Sandler, distribuidora de cabos para a área offshore, siderurgia e navegação, tem expectativa de crescer de 15% a 20% nos próximos anos. O setor offshore representa cerca de 40% do faturamento da empresa, que tem 12 anos no mercado e distribui, entre outras marcas, produtos da Cofibam, Ficap, Prysmian e Wirex Cable. Rogério Fernandes, gerente comercial da Sandler, diz que a empresa está atenta à procura por componentes elétricos para o setor offshore.

Fernandes estima que os três principais fabricantes de cabos do país atendam a cerca de 80% da demanda do setor naval. Sendo assim, as empresas menores e distribuidores de equipamentos ficam com uma parcela pequena das encomendas. Apesar disso, ele explica que o aumento de pedidos para essas grandes fabricantes acaba indiretamente impactando nos resultados de sua empresa. Segundo Fernandes, na medida em que a procura por cabos aumenta, os fabricantes precisam de mais tempo para atender às encomendas, abrindo espaço para os distribuidores desse material que possuem estoque atender a demandas mais imediatas. “As perspectivas são boas. Está todo mundo preparado e acreditando no mercado. A nossa perspectiva é de crescimento e bons negócios”, afirma.

Apesar da competitividade e dos reflexos da crise mundial na economia brasileira, a expectativa da Induscabos também é de crescimento em 2012. Segundo Silva, a meta de crescimento ainda não está consolidada. A estratégia da empresa é atender à demanda e alcançar boas condições de competitividade nos próximos anos.

 

Resultados. No segundo trimestre de 2011, o faturamento na área de componentes elétricos sofreu queda de 1% em relação ao mesmo período de 2010. Em contrapartida, houve acréscimo de 4% no primeiro semestre, na comparação com os seis primeiros meses do ano passado. De acordo com a Abinee, este comportamento se deve ao baixo crescimento da área de utilidades domésticas e ao aumento das importações de bens finais eletroeletrônicos em geral. Para se ter uma ideia do significado destes números, no setor de eletroeletrônicos o faturamento no primeiro semestre de 2011 cresceu 11% na comparação com o mesmo período do ano passado.

O resultado ficou abaixo das expectativas dos empresários. Segundo a associação, os negócios teriam sido melhores caso não tivesse ocorrido uma contínua desvalorização do dólar em relação ao real, que atingiu 9%, considerando a média dos seis primeiros meses deste ano, ante a média do mesmo período de 2010.

Para a Abinee, compensar esta queda com aumento da produtividade no curto prazo tem sido um grande desafio, principalmente para os produtos de maior agregação de valor local, como os produtos elétricos. Segundo a entidade, enquanto o faturamento para o mercado interno de componentes elétricos e eletrônicos cresceu em torno de 2%, as importações em reais cresceram 4%. Sendo assim, a indústria local de componentes perdeu participação no mercado.

O Índice de Preços ao Produtor (IPP), calculado pelo IBGE, aponta aumento de 5% nos preços dos componentes elétricos durante o primeiro semestre em relação ao igual período de 2010. Segundo a Abinee, isso demonstra a dificuldade competitiva do setor, tanto em função do maior valor de agregação local nos produtos, quanto do aumento dos preços dos insumos. Sondagens conjunturais realizadas pela Abinee no primeiro semestre, indicam que o perfil do mercado teve alterações significativas nesse período.

No primeiro trimestre, percebia-se a retomada das contratações de equipamentos sob encomenda, normalmente destinadas a grandes obras industriais. Para a associação, esta tendência ocorreu de forma menos evidente no segundo trimestre devido, provavelmente, às incertezas causadas pelas dificuldades econômicas na Europa e nos Estados Unidos. A avaliação das encomendas pelas empresas indica que o mercado perdeu consistência no segundo trimestre do ano. A constatação pode ser percebida pelas áreas de componentes elétricos e eletrônicos, equipamentos industriais, GTD e informática, com o aumento da incidência de empresas que indicaram que seus negócios ficaram abaixo das expectativas do primeiro para o segundo trimestre.

 

Tendências. Zavatti, da Belden-Poliron, observa uma transformação na indústria de controle e comunicação dentro do setor industrial em que as redes industriais estão deixando os fios para tornar-se cada vez mais wireless. Com isso, muitas das funções que eram controladas por alguns outros tipos de controladores agora estão passando para switchers e roteadores, que têm que ser mais robustos para parte industrial.

O executivo conta que a Belden começou a crescer diversificando seu portfólio com aquisições de conectores industriais e apostando na transmissão de sinais, sobretudo em países dos chamados mercados emergentes. Zavatti alerta que muitos projetos estão saindo do papel e que a indústria nacional precisa se preparar para conseguir atender a esse crescimento.

“A concorrência doméstica existe. Acredito que possam existir problemas para conseguir capacidade de fazer todos os tipos de cabos. É para isso que a indústria doméstica tem que se preparar. Existe bastante concorrência, mas se as coisas continuarem a ir do jeito que estão, acho que pode haver necessidade maior de capacidade da indústria nos próximos anos”, observa.

A Innovcable aposta na nacionalização de diversos tipos de cabos existentes em outros países. A empresa desenvolve produtos visando atender com conteúdo local e os mesmos requisitos técnicos dos importados. A fabricante projeta cabos para transmissão de voz, dados e energia para aplicações industriais, navais, offshore, ferroviárias, sucroenergética, mineração, aeroespaciais, robótica e móveis com toda segurança e eficiência.

Fernandes, da Sandler, destaca que a venda de cabos e outros componentes elétricos para o setor naval e offshore estão diretamente ligados aos ciclos de encomendas da Petrobras, como o que o país vive atualmente. Segundo ele, somente eventos como a crise econômica mundial podem trazer algum tipo de impacto aos negócios nesse período. “Se o mercado externo está aquecido, nosso país também fica aquecido. O mercado offshore funciona em função de ciclos de investimento do governo federal. Se a Petrobras parar, param os integradores, param os distribuidores, para tudo”, diz.






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