Rio (AE) - Oito anos depois do então candidato à presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva ter reclamado em campanha das compras de plataformas de petróleo no exterior, a qualidade das encomendas à indústria naval nacional permanece praticamente a mesma. Embora tenha havido aumento do volume de contratos locais, com a reabertura de estaleiros, o porcentual de conteúdo nacional em cada plataforma não avançou.
O Brasil continua apenas fornecendo produtos básicos e atuando na montagem das plataformas, deixando para fornecedores estrangeiros os equipamentos de maior complexidade tecnológica. “As encomendas cresceram em valor absoluto e não em valor relativo”, diz o diretor executivo dos segmentos de petróleo e gás da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Alberto Machado.
Segundo especialistas do setor, apesar de a Petrobras divulgar que o conteúdo nacional das suas plataformas chega a 60% ou até a 70%, são excluídos deste cálculo os módulos de compressão de gás, geração de energia e até mesmo a conversão ou construção do casco das plataformas, que são feitos fora do Brasil. Somente estas encomendas, segundo técnicos do setor, representam em torno de 30% do investimento em uma unidade.
Se consideradas todas as etapas da construção, o conteúdo nacional cairia para algo em torno de 40%. “Na prática temos a linha de montagem aqui no Brasil. É muito pouco e é preciso avançar muito mais”, diz o diretor de tecnologia da Coppe/UFRJ, Segen Estefen, um dos líderes da campanha em 2002 para que as plataformas da Petrobras fossem feitas no Brasil.
Na época, a polêmica sobre as encomendas de plataformas no País dividiu o setor entre os que acreditavam ser possível a construção de uma unidade aqui com conteúdo de até 80%, e os que defendiam ser melhor afretar plataformas no exterior, por ser mais viável economicamente.
No governo Fernando Henrique Cardoso, a Petrobras privilegiou o afretamento de plataformas e as poucas unidades compradas foram construídas fora do Brasil, com conteúdo local máximo de 30% a 40%, considerando a totalidade da obra. A última unidade a ser encomendada no governo passado, a P-50 teve seu casco convertido em Cingapura. Ao final da obra, já na gestão Lula, a estatal divulgou que a plataforma chegou a obter conteúdo local de quase 60%.
Tão logo assumiu o governo, Lula cancelou os dois editais que estavam licitando as plataformas P-51 e P-52, para acrescentar a cláusula que exige um conteúdo nacional mínimo de 65% na construção e de 75% na montagem da unidade. Os novos editais viraram padrão dentro do Programa de Mobilização da Indústria do Petróleo (Prominp) e servem de base para avaliação de financiamento a ser concedido pelo BNDES.
Fonte:Tribuna do Norte(RN)
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