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Crise na Petrobras

Denúncias e atraso no balanço do terceiro trimestre colocam em cheque investimentos futuros >> As investigações deflagradas pela operação Lava-Jato sobre o esquema de corrupção e lavagem de dinheiro na Petrobras envolvendo grandes empreiteiras brasileiras geram incertezas para a indústria naval e podem paralisar o setor nacional de construção naval e offshore num futuro próximo.

O maior receio de profissionais e especialistas do mercado é de que, com a credibilidade abalada, a Petrobras tenha dificuldades para captar recursos que possibilitem cumprir o ambicioso plano de investimentos divulgado no início desse ano, reduzindo a contratação de novas plataformas e embarcações junto a estaleiros. Fontes apontam também o risco de paralisação dos contratos já existentes, caso a Petrobras decida reanalisá-los ou repactuá-los, intenção que, entretanto, não havia sido sinalizada pela estatal até o fechamento desta edição.

A Petrobras adiou, de novembro para dezembro, a divulgação do balanço referente ao terceiro trimestre de 2014. Em informe publicado pela empresa, a companhia explicou que o adiamento se deu para que a auditoria externa pudesse investigar as acusações de desvio de dinheiro e analisar possíveis impactos nas demonstrações contábeis. O problema com o atraso na divulgação do último balanço é a insegurança gerada no mercado, o que pode dificultar, ou tornar mais cara, a captação de recursos para novos investimentos, segundo especialistas.

— Nossa preocupação é com a capacidade financeira da Petrobras, que, no momento, está endividada e não tem caixa para sustentar o plano de investimentos. A não publicação do balanço pode fazer a Petrobras ser rebaixada — alerta o vice-presidente da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI), Aloísio Nóbrega. A opinião é partilhada pela consultora Ana Maria Canellas, da AM Canellas Consultoria. “A Petrobras precisa resgatar sua credibilidade para atrair novas parcerias e investidores para o setor de offshore. Hoje o investidor olha a Petrobras com total desconfiança”, afirma Canellas.

O plano de negócios da estatal prevê mais 15 novas plataformas até 2020, além das 16 atualmente em construção, e outras 41 unidades produtivas até 2030. Caso se confirme a dificuldade da companhia em captar recursos externos, as únicas reservas financeiras para novos investimentos virão da própria extração e exploração de petróleo do pré-sal, que não pode parar. “Não há chance de a Petrobras não cumprir seu planejamento. As unidades em operação já estão chegando perto do limite de produção. Mas há indícios de que a Petrobras não vai mais investir na construção de unidades estacionárias de produção e o afretamento deve ser o foco principal. Isso é ruim porque não tem conteúdo local”, aponta o presidente da Câmara Setorial de Equipamentos Navais e Offshore (CSEN) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Marcelo Campos.

Outra fonte, que não quis se identificar, também aposta que o afretamento de plataformas será uma das opções preferidas pela estatal. “Essa situação pode levar a Petrobras a optar pelo afretamento estrangeiro, porque o desembolso nesse caso é pontual”, afirma. Isso pode afetar drasticamente o planejamento futuro de armadores, estaleiros e fornecedores, que têm na petroleira a principal contratante. “A preocupação é que daqui a um ou dois anos surjam novas encomendas, para que os estaleiros não fiquem ociosos”, complementa a fonte. Para Campos, o risco de não haver novas contratações é real e grave. “Existem empresas sérias que fazem seu planejamento a partir do planejamento da Petrobras, mas os contratos não estão saindo e não há perspectivas no médio prazo”, argumenta o porta-voz da Abimaq.

Além das incertezas sobre os investimentos futuros da estatal, Canellas avalia que há riscos de contratos já em andamento serem paralisados. “Os contratos assinados pela Petrobras, de maneira geral, devem ter os pagamentos suspensos e provavelmente serão reanalisados ou repactuados, o que implica atraso nas operações e novos investimentos devem ser adiados. O mais grave que pode ocorrer é a suspensão dos contratos ou anulação, o que demandaria um prazo maior de reversão do quadro e paralisaria os principais projetos”, explica a consultora. A Petrobras, entretanto, não sinalizou até o momento a intenção de suspender contratos. Em declaração à imprensa, a presidente da empresa, Maria das Graças Foster, afirmou que só haverá interrupção de contrato nos casos em que for comprovada a fraude.

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