Brasília - A apresentação de um cronograma pela Petrobras de conclusão de cinco plataformas de produção até o fim do ano (P-55, P-58, P-61 e P-63), cujo prazo estava gerando incertezas nos analistas, não chegou a animar especialistas. Se para a balança comercial as embarcações podem contribuir para que a conta feche no azul neste ano, para a conta petróleo (saldo entre importação e exportação do produto) não farão tanta diferença.
"Quando uma plataforma é entregue, entra na conta como exportação, o que faz uma grande diferença na balança comercial. Ainda precisamos saber como vão se comportar os outros produtos, mas as novas plataformas, juntas, vão somar cerca de R$ 1,2 bilhão ou R$ 1,3 bilhão, que é exatamente a diferença do déficit que a balança está precisando cobrir até o fim do ano. Só que o Brasil não pode depender disso", afirma o ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Welber Barral.
Ele pondera ainda que, no longo prazo, não há expectativa de redução das importações de petróleo e derivados, pelo contrário. "As importações só cairiam se o Brasil pudesse produzir mais petróleo e derivados, se caísse o preço do petróleo no mercado internacional ou o consumo interno. Mas não há previsão de que nenhum desses três fatores ocorra", disse o especialista em comércio exterior.
A Petrobras admitiu ontem, na apresentação do balanço financeiro, atraso no cronograma de, pelo menos, uma das cinco plataformas, a P-63, que será instalada no campo de Papa Terra, na Bacia de Campos. A dificuldade de detectar a presença de corais na área ocasionou o atraso. A petroleira ainda informou que a produção do terceiro trimestre ficou abaixo do esperado, em 1,924 milhão de barris por dia, por conta da fornecedora Subsea 7, que atrasou a entrega de equipamentos no navio plataforma Cidade de São Paulo, instalado no campo de Sapinhoá, na Bacia de Santos.
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Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, o atraso na entrega das plataformas dificulta ainda mais que as contas da balança fechem no
azul. "O atraso na entrega irá gerar atraso na produção e, portanto, o país terá de importar mais. Esses atrasos vêm acontecendo há muito tempo e é por isso que, há três anos, não vemos diferença nos resultados da Petrobrás", aponta.
Como causas dos atrasos, ele cita desde problemas de ineficiência até greves e condições climáticas desfavoráveis. Mas, na opinião de Pires, influencia fortemente a obrigatoriedade de contratação de empresas brasileiras, por vezes, uma exigência que a indústria local
não tem capacidade de atender. "Muitas vezes, são contratados prestadores de serviço com pouca experiência", criticou.
Mesmo com o aumento da produção de petróleo ao longo dos próximos anos, Pires não prevê um cenário mais favorável em relação à produção de combustíveis no país. "Temos um problema de refinaria também. Há duas novas refinarias previstas: Abreu Lima e a do Comperj, mas elas não darão vazão à demanda. Não temos como produzir gasolina para atender à população. Do jeito que as coisas vão, podemos chegar a 2020 sendo até exportadores de petróleo, mas importadores de gasolina e diesel", considera.
Questionado sobre o impacto da conclusão das plataformas na produção, o diretor de Exploração e Produção, José Formigli, se negou a informar detalhes. "Não fazemos
projeções de plataforma a plataforma, mas posso dizer o seguinte: esse óleo vai ser muito bom". Segundo ele, serão interligados neste ano apenas de um a dois poços por plataformas. O documento de divulgação do balanço da companhia admite que as novas unidades contribuirão para o "crescimento sustentado" da produção apenas em 2014.
PLATAFORMAS
■ P-63
Com capacidade para processar 140 mil barris/dia de óleo e comprimir 1 milhão de m3/dia de gás, a unidade chegou ao Brasil em janeiro deste ano para passar pelas últimas etapas de construção. Ao todo foram instalados e enterligados 23 módulos da planta de processo.
■ P-65
Com capacidade para produzir 180 mil barris/dia e tratar 4 milhões de m3/dia de gás, é uma das maiores semissubmersíveis do mundo e a maior construída no Brasil.
■ P-58
A embarcação irá para o campo de Papa-Terra, no pós-sal da Bacia de Campos. Sua capacidade é de 180 mil/barris dia.
■ P-61
A embarcação é a primeira plataforma do tipo TLWP (Tension Leg Wellhead Platform) construída no Brasil. O casco da plataforma foi produzido no Estaleiro BrasFELS, no Rio de Janeiro.
Fonte: Brasil Econômico/Mariana Mainenti
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