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Foto: Agência Petrobras
Estudo revela que extração de petróleo em águas profundas representará expansão de 77% da oferta atual no país até o fim da década
parceria com a FGV Projetos. As atividades de exploração e produção de petróleo devem atrair investimentos de US$ 250 bilhões em dez anos.
O levantamento estima que os reservatórios do pré-sal, segundo previsões feitas com base nos resultados da perfuração de mais de 30 poços, podem ser de 50 a 100 bilhões de barris ou mais.
A extração de petróleo a até sete mil metros abaixo da superfície d’água em distâncias que podem chegar a 300 quilômetros da costa tem suas complexidades. Por isso, além de projetar cenários, no Brasil e no mundo, para oferta, preço, demanda por petróleo, gás e etanol até 2020 e as consequências advindas desse panorama para o desenvolvimento econômico, o documento traz os principais desafios do pré-sal ao longo da década.
Um dos gargalos citados é o deficit de capital humano. De acordo com o estudo, o número de técnicos e engenheiros especializados de que o país dispõe e que será formado nos próximos anos não será suficiente para atender às demandas geradas com os investimentos direcionados ao pré-sal. Uma das consequências mais imediatas, de acordo com a sócia para o setor de petróleo e gás da Ernst & Young Terco, Elizabeth Ramos, é a vinda de profissionais estrangeiros para o país.
“Mão de obra não se constrói de um dia para o outro. Então temos que receber profissionais experientes nessa área que estão no exterior. Durante esse vácuo, vamos ter jovens recém-formados e ainda sem experiência e também temos um grupo de profissionais bastante experientes na Petrobras que já está na linha de aposentadoria. Nesse meio tempo, o que vai acontecer no país é a entrada de técnicos estrangeiros”, afirma.
O estudo traz dados do Ministério do Trabalho e Emprego sobre o número de pedidos de autorização de estrangeiros para trabalhar no país, que vem aumentando desde 2006. No ano passado, 56.006 foram autorizados a trabalhar no Brasil, contra 42.914 em 2009. Do total das autorizações concedidas em 2010, 53.441 foram de caráter temporário, com permanência no país de até dois anos. O principal demandante dessas autorizações, diz o estudo, é o setor de petróleo e gás e a tendência é que o ingresso de estrangeiros dobre em uma década.
Para se beneficiar da entrada de mão de obra do exterior, diz Elizabeth, é preciso garantir oportunidades de absorção do conhecimento e utilizá-lo para a formação técnica brasileira.”Para isso, precisamos construir uma estrutura que permita que essa mão de obra chegue ao Brasil com vontade de ficar. Então vai ser preciso que se olhe questões como visto e tributação”, diz.
A falta de regra tributária específica para a indústria de petróleo também é outro desafio apontado no estudo. De acordo com o documento, as leis vigentes são focadas principalmente nos modelos de contrato, pagamento de royalties e outras participações da União e não atentam, por exemplo, para a definição de critérios contábeis para a atividade, que são importantes para se calcular impostos. Os tributos indiretos, como ICMS e ISS, são tidos como o maior dos vácuos legislativos tributários.
O marco regulatório também está na lista dos desafios do pré-sal. Uma das questões mais polêmicas é o critério de repartição dos royalties do pré-sal. O estudo aponta que, caso a distribuição seja feita de forma igual para todos, o risco de os estados produtores, como Rio de Janeiro e Espírito Santo, ‘quebrarem’ é alto, devido à perda de parte de suas receitas. Outra preocupação citada no estudo é a atuação da Petrobras como operadora única dos blocos. “Não será uma tarefa fácil para uma única companhia coordenar tantos recursos humanos, técnicos e logísticos. A necessidade de atrair capital para uma empreitada que requer investimentos superiores a US$ 250 bilhões pode se tornar mais difícil em um sistema menos atraente para os investidores estrangeiros. E o Brasil sozinho não dispõe desses valores”, diz o estudo.
Outro ponto questionado no documento diz respeito à responsabilidade socioambiental, uma vez que falhas na operação podem acarretar desastres ambientais. Entre as ações que devem ser tomadas para vencer este desafio, de acordo com o levantamento, estão o desenvolvimento de estudos para compatibilizar objetivos mundiais de redução de gases de efeito estufa em razão do aumento da produção do petróleo nacional e o número de companhias petrolíferas atuantes no país.
Outro ponto destacado pelo documento é o fortalecimento do modelo de parcerias efetivas com stakeholders, como ONGs e agências do governo, uma tendência mundial e um caminho que pode favorecer tanto o governo como a iniciativa privada. “As tragédias causadas pela indústria do petróleo trouxeram a necessidade de desenvolvimento e de amadurecimento em relação ao meio ambiente. Com a globalização, as empresas começam a trocar experiências, então essa questão socioambiental trouxe o compartilhamento de conhecimento que faz com que todos ganhem”, afirma Elizabeth.
Essa troca de informações entre os players, diz a consultora, é o principal ganho da inovação tecnológica, apontada como um dos desafios a serem vencidos ao longo desta década. O pré-sal demandará uma série de serviços e equipamentos de alta tecnologia para sua operação. “Estamos em um momento de atravessar barreiras técnicas. Não é uma questão só de desenvolver e guardar para si sua tecnologia. Desenvolvam, compartilhem, e isso vai gerar um ganho para toda a indústria”, aconselha ela.
Elizabeth destaca também o gerenciamento de custos como fator fundamental para o negócio envolvendo o petróleo, principalmente neste momento de estudos da operação do pré-sal. “Serão necessários, por exemplo, terminais oceânicos. Alguns anos atrás, quando se começou a falar de pré-sal, especulava-se sobre bases de apoio logístico para transbordo de produtos. Hoje já se fala em hospedagem para esses terminais, em base de suporte logístico com algum tipo de planta de separação. Tudo isso vai demandar um aumento de custo muito grande e, nesse momento, o Brasil tem que olhar todos esses aspectos que impactam o custo Brasil”, declara ela, ressaltando que a média de custo diário de uma sonda para águas rasas é de cerca de US$ 250 mil, sendo que o valor quase dobra quando destinada para exploração em águas profundas.
O conteúdo local também é um dos desafios do pré-sal. O estudo diz que essa exigência vem permitindo captura de benefícios advindos dos investimentos efetuados nas etapas de exploração e desenvolvimento a uma ampla cadeia de fornecedores nacionais. Por outro lado, o documento relata que a capacidade desses provedores brasileiros em fornecer produtos e serviços competitivos em âmbito internacional e no volume da demanda é um risco que preocupa concessionários, entidades governamentais e a indústria, já que as fornecedoras são, em sua maioria, empresas de pequeno porte.
Infraestrutura e gargalos logísticos também são citados no estudo. A distância da costa e a maior profundidade de exploração são algumas das dificuldades que terão de ser superadas, diz o documento, para viabilizar a produção na área do pré-sal. Para o escoamento da produção, o estudo sugere que outros modais de transporte sejam utilizados. “O transporte rodoviário concentra cerca de 90% das cargas de etanol no Centro-Oeste e Sudeste. Temos que mudar a cultura para ampliar nosso horizonte logístico”, diz Elizabeth. Diante do volume de investimentos que serão alocados para viabilizar as operações do pré-sal, financiamento e acesso ao capital também são descritos no estudo como desafio a ser superado.
O último desafio listado é o gerenciamento da complexidade de projetos de capital. De acordo com o estudo, a entrega bem-sucedida dos projetos deverá impactar o valor de mercado de algumas empresas, e a obtenção dos resultados previstos será fundamental para garantir e manter a confiança do mercado.
O estudo Brasil Sustentável – Perspectivas dos mercados de petróleo, etanol e gás é o sétimo de uma série de publicações desenvolvidas em conjunto pela Ernst & Young Terco e a FGV Projetos que trazem dados e projeções sobre os setores fundamentais para a sustentabilidade da economia brasileira.