A saída de Murilo Ferreira, presidente da Vale, da presidência do conselho de administração da Petrobras abriu uma nova crise na já conturbada situação da estatal. Ferreira alegou "razões pessoais" para deixar a função. Oficialmente, o afastamento seria até 30 de novembro, mas fontes ouvidas pelo Valor acreditam que ele não deve retornar ao posto.
O principal motivo para a decisão teria sido o que uma fonte classificou como "desnivelamento" em sua relação com o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine. Apesar de ter sido indicado para o cargo pelo próprio Bendine há apenas seis meses, os desentendimentos entre ambos não demoraram a acontecer. Seu auge ocorreu quando o presidente da Vale votou contra a oferta pública de ações da BR Distribuidora, inviabilizando a abertura de capital da principal subsidiária da Petrobras.
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A direção da estatal contava com o negócio para fortalecer a estrutura de capital e reduzir o tamanho de sua dívida. Na reunião que tratou do assunto, Ferreira defendeu que, antes do IPO, fosse nomeado um novo presidente para a BR, um nome de mercado, e que a empresa fosse reestruturada. Bendine alegou que trocou toda a diretoria da BR e que, desde maio, uma empresa de "headhunter" procura, sem sucesso, um CEO.
Desconfia-se que, ao deixar o conselho da estatal, Ferreira, na verdade, procura desvincular seu nome do governo da presidente Dilma Rousseff, neste momento de crise política e econômica. Isso porque Dilma foi crucial para a sua nomeação ao comando da Vale, em 2011.
Desde que assumiu o cargo, em abril, Ferreira teria tentado imprimir uma agenda mais restritiva à Petrobras, com foco na necessidade de uma forte redução de custos na empresa, cuja dívida cresceu fortemente nos últimos anos.
A dificuldade em controlar as despesas com pessoal é um problema antigo na companhia. Elas vêm crescendo a dois dígitos ao longo dos últimos anos e atingiram R$ 31 bilhões no ano passado. O pagamento de salários - os funcionários receberam aumentos acima da inflação nos últimos dez anos - é o elemento que mais pesa nas despesas com seus empregados: 60% dos gastos.
Fonte: Valor