A Ecovix, que controla o Estaleiro Rio Grande, conseguiu retomar suas atividades no setor naval, após cinco anos praticamente parado. Porém, a empresa ainda tenta aprovar um novo plano de recuperação judicial e conta com a diversificação de suas operações para conseguir gerar receita e pagar os credores.
A companhia, controlada da Engevix, está em recuperação judicial desde 2016, para reestruturar um passivo de R$ 7 bilhões. A empresa, assim como outros estaleiros, sofreu com a Operação Lava Jato — que investigou atos de pagamento de propinas — e com a crise da Petrobras a partir de 2014. Além disso, o setor foi duramente abalado pelo fim das políticas de incentivo à construção naval dentro do país — a exigência de conteúdo local caiu de 75% para atuais 25%.
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No fim de agosto, pela primeira vez após cinco anos, o estaleiro gaúcho recebeu um navio, para a realização de reparos. A embarcação, que faz estimulação de poços na Bacia de Campos, ficará no Rio Grande por 45 dias.
A reativação trouxe otimismo. Porém, a companhia sabe que uma retomada significativa da construção naval no país é pouco provável no curto prazo, afirma o diretor de operações da Ecovix, Ricardo Ávila. “O foco é seguir buscando negócios no setor naval. Mas hoje a demanda para construção de cascos no Brasil é quase inexistente”, diz. O mercado de reparos traz oportunidades — como o contrato em vigor. Porém, a receita é menor, e a disputa com os demais estaleiros é alta.
A companhia também se prepara para explorar outras duas atividades em paralelo: a movimentação de carga portuária e o uso do local para a construção industrial, por exemplo, de torres eólicas e estruturas metálicas.
As operações portuárias, que são parte importante nas novas projeções de retomada, têm sido feitas em parceria com o porto de Rio Grande — o que garante a atividade, mas restringe as receitas. Como o estaleiro não é um arrendatário do porto nem um terminal privado, não há autorização direta para operar. Portanto, as tarifas são totalmente destinadas ao porto público. A empresa, porém, consegue extrair faturamento com serviços acessórios na retroárea, que devem ser ampliados, por exemplo, com armazenagem ou processamento da carga, diz Ávila.
Outro segmento em avaliação é o descomissionamento de embarcações. “Com o preço do aço neste patamar, passa a ser rentável o desmantelamento e a venda no mercado interno. Temos uma condição boa para isso, um dique grande, experiência e licenças ambientais vigentes”, afirma.
A diversificação é a base do novo plano de negócios da Ecovix, que tenta aprovar um aditivo à sua recuperação judicial, para readequá-la à realidade do mercado. A versão original foi homologada em meados de 2018. “À época, enxergava-se uma retomada da construção naval, o que não se confirmou”.
O novo plano, que terá que ser aprovado, não altera muito o valor a ser pago: a proposta é um desconto sobre a dívida original de R$ 7 bilhões, para R$ 3,5 bilhões. A diferença é que o aditivo fixa prazos mais claros para o pagamento e atualiza a perspectiva para a geração de caixa. A ideia de atrair um comprador, presente no plano inicial, foi descartada — pela complexidade da operação e a falta de interessados.
O aditivo foi protocolado em 29 de maio, mas ainda não há data para a votação dos credores. Além dos credores, a Ecovix busca resolver divergências com o fundo de pensão Funcef (da Caixa), que detém uma fatia de 25% no estaleiro e se opôs à inclusão dos ativos na recuperação judicial.
Fonte: Valor