A retomada da indústria naval brasileira tem sua porção chinesa. Desde a construção do terceiro navio pernambucano, o Estaleiro Atlântico Sul decidiu importar parte de cascos da China como estratégia para acelerar o cronograma de produção. O atraso de 20 meses na entrega do João Cândido (primeira embarcação construída no Estado) abriu o precedente. Números do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviço mostram que entre 2013 e 2016 (até agosto) o EAS importou o equivalente a US$ 196,7 milhões em navios-tanque. Além da discussão sobre o descumprimento do conteúdo nacional fixado em 65%, surge novo questionamento sobre a qualidade das importações.
O Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Pernambuco (Sindimetal-PE) denuncia a qualidade das peças da popa do navio Machado de Assis (o oitavo construído pelo EAS), importadas da China. “As peças da tubulação, por exemplo, não vieram revestidas e trouxeram risco à segurança dos trabalhadores. Na prova de mar do navio houve um grave acidente com um operário, em função da explosão de uma tubulação e de uma válvula, que provocou queimaduras no funcionário”, afirma o presidente do Sindimetal, Henrique Gomes.
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O Machado de Assis consta como entregue na Transpetro, mas ainda está no dique seco do EAS passando por reparos. “As peças chinesas deram muito defeito e o navio está com vários problemas”, reforça Gomes, dizendo que a informação é de que as importações chinesas para a embarcação chegaram a 70%, superando os 65% permitidos. O EAS foi procurado pela reportagem do JC, mas não se posicionou até o fechamento desta edição.
Só de janeiro a agosto deste ano, o EAS já importou o equivalente a US$ 44,4 milhões em navios-tanque. Pela regra do conteúdo nacional, a cada R$ 100 investidos em uma embarcação do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), R$ 65 precisa ser contratado dentro do Brasil. As três premissas do Promef são construir navios no Brasil, respeitar o conteúdo nacional de 65% e tornar a indústria naval competitiva em âmbito global.
ENCOMENDAS
A necessidade de importar parte dos navios da China se intensificou com a exigência de acelerar a entrega das encomendas à Transpetro para evitar a perda de novas encomendas. Em função do programa de desinvestimento da Petrobras, a Transpetro - braço de logística da companhia - cancelou os contratos de sete navios com o Atlântico Sul e outros dois com o Vard Promar.
Pela contrato inicial, o EAS entregaria 22 petroleiros à Transpetro, mas o pacote final ficou em 15 embarcações (dez suezmax e cinco aframax). Até agora o EAS entregou sete suezmax e está tentando concluir o oitavo. De acordo com a estatal, o estaleiro pernambucano tem até 2017 para entregar os dois últimos. No caso dos aframax, o cronograma prevê entrega de três em 2018 e os outros dois em 2019. Para dar conta das encomendas, o EAS volta a contratar profissionais.
Os contratos da Petrobras com as empreiteiras donas do Atlântico Sul estão sendo investigados na operação Lava Jato. O ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado é acusado de receber propina.
No Vard Promar, dos oito gaseiros contratados quatro já foram entregues, dois tiveram seus contratos rescindidos e as outras duas embarcações restantes têm previsão de entrega para o segundo semestre de 2017 e primeiro semestre de 2018, respectivamente.
Fonte: JC Online/Adriana Guarda