A indústria naval tem muito a lamentar o que está acontecendo em seu segmento no Brasil. Ao mesmo tempo em que o mercado recebia a informação de que a Petrobrás pode adiar a contratação de quatro FPSOs, a estatal comemorava na China o recebimento da plataforma P-75, que gerou milhares de empregos no exterior. Esta entrega, graças principalmente à Petrobrás, é praticamente a pá de cal no Polo Naval de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, onde os módulos da plataforma foram montados. Por lá, não há mais obra. Há outros atores nesta cena de filme de terror que merecem o peso dessa responsabilidade sobre seus ombros. Um deles é o próprio governo federal e os interesses políticos do ex-ministro das Minas e Energia, Fernando Coelho Filho. Deputado federal que ficou à frente da pasta, mas que estava mais preocupado com a sua possível candidatura ao governo de seu Estado.
Fernando Coelho Filho, como se diz no interior, fez o jogo do capão. Fez o que queria os mais fortes na ocasião. Ao invés de buscar tornar as empresas brasileiras mais competitivas, reduzindo a carga dos impostos altíssimos ou desburocratizando muitas exigências dos inúmeros órgãos de controle, buscou apenas se sujeitar às exigências imediatas das empresas petroleiras, através das gestões políticas do IBP, quando ainda estava sob a batuta de Jorge Camargo. Teve ainda um toque especial de apoio da própria Agência Nacional do Petróleo (ANP) e de seu presidente Décio Oddone.
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A agência organizou discussões públicas, mas fez exatamente o contrário do que a cadeia de fornecedores da indústria pediu. Sem falar na decisão efetiva do presidente da Petrobrás, Pedro Parente, o maior incentivador para se levar as obras para o exterior. Culpa da China? Efetivamente, não. Responsabilidade maior dos atores brasileiros. Cada um defendendo seus interesses, com uma política de sobrevivência pessoal. O país, as empresas e os empregos no Brasil, não. Ficaram em segundo plano. O resultado disso tudo pode ser visto como um trailer da vida real que a população do Rio de Janeiro está vivendo. Um outro final poderá ser conhecido quando soubermos a lista dos apoiadores da candidatura ao governo de Pernambuco. Essa lista poderá revelar muitas histórias.
Recentemente, o diretor de Desenvolvimento da Produção e Tecnologia Petrobrás, Hugo Repsold, disse que vislumbrou o que seria um mar de contratações com a aaaaaaaconstrução de plataformas de petróleo. Ele disse que a companhia “planejava ir às compras. Com a melhora de condições financeiras e a redução do endividamento, a estatal quer voltar a ter plataformas próprias e não mais alugar como tem feito nos últimos seis anos”. Um balão de ensaio vendendo um otimismo que não se sustenta é tudo o que os empresários brasileiros não precisam neste momento de crise profunda. A empresa não vai fazer essas contratações por agora. Especialmente por esperar ter um novo trimestre com um lucro ainda maior do que o primeiro: Dólar alto, barris de petróleo em alta, privatizando ativos estratégicos, repassando o aumento do petróleo na veia do consumidor e sem gastar nada em investimentos. A fórmula certinha para o lucro quase dobrar. Essas talvez sejam as maiores razões para o adiamento de contratações, da não assinatura de contratos já definidos pelas licitações, não dando autorização para que as obras recomecem, o que acenderia um pavio de esperança nas indústrias da cadeia do petróleo e gás.
Nem a possível pressão, cheia de dedos, feita pelo atual Ministro das Minas e Energia, Moreira Franco, em palestra na Associação Comercial do Rio de Janeiro, fez efeito. Ele disse que o governo quer discutir a política de preços dos combustíveis no país, diante da escalada recente provocada pela alta do preço do petróleo no mercado internacional. Ao constatar que os preços estão subindo demais, ele citou a necessidade de reavaliação dos impostos e admitiu conversas com a Petrobrás para avaliar a política de preços. Desde outubro de 2016, a estatal acompanha as cotações internacionais e a variação do câmbio. Em julho de 2017, passou a realizar reajustes diários para acompanhar mais de perto o mercado. Como Pedro Parente condicionou ao Presidente Temer a sua contratação a não interferência do governo, e recebeu bandeira verde por isso, a resposta da companhia foi anunciar um novo aumento nos combustíveis a partir de sábado (19). Com esta atitude, Parente deu uma banana ao que falou o ministro, aquele que deveria ser seu superior hierárquico. Como se dissesse: “se gostar é desse jeito. E se não gostar é do mesmo jeito”. Pedro Parente já tem um novo emprego certo. Seu foco parece não ser mais a Petrobrás, mas a maior indústria de carnes do mundo.
A P-75 começará a navegar rumo ao Brasil nos próximos dias. A viagem deve demorar cerca de 30 dias. Ela vai ficar em testes no campo de Búzios, área da cessão onerosa, pré-sal das Bacia de Santos. A plataforma tem uma capacidade de produzir 180 mil barris de petróleo diariamente e seis milhões de m³ de gás natural.
Fonte: Jornal Diadia