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Estoque de Pasadena opõe Graça a Gabrielli

Os estoques de óleo da refinaria de Pasadena, que até agora têm merecido tratamento de informação sigilosa pela Petrobras, são alvo de explicações distintas dadas pelo ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli e a atual presidente da Petrobras, Graça Foster. Na polêmica aquisição da refinaria americana, que custou US$ 1,93 bilhão e até agora tem uma série de preços não explicados, a compra dos estoques e a criação da trading, que teriam sugado US$ 341 milhões no processo de aquisição, surgem como uma caixa-preta da operação e expõem a contradição de versões dadas pelos presidentes da estatal.

José Sérgio Gabrielli, em suas passagens pelo Congresso, sustentou a tese de que uma primeira parcela de US$ 170 milhões foi usada na aquisição dos "estoques iniciais" de Pasadena. Gabrielli chegou a mencionar, inclusive, que esses estoques "foram utilizados" pela Petrobras. Ele não informou, porém, que tipo de estoque seria esse, qual a sua quantidade, a que preços teria sido comprado e vendido. O acordo com a sócia belga Astra teria incluído, ainda, segundo Gabrielli, o desembolso de mais US$ 171 milhões pelos 50% remanescentes da comercializadora (trading) constituída com a Astra e, novamente, seus estoques.


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As explicações de Gabrielli, no entanto, não encontram respaldo no que foi apresentado até agora por Graça Foster. Em audiências no Congresso, Graça não citou, em nenhum momento, quantos barris de petróleo ou derivados teriam sido adquiridos na transação. Ao relacionar os chamados "bens tangíveis" absorvidos na operação, Graça citou apenas infraestrutura: terminais, dutos, escritórios, representações globais, contratos comerciais, carteira de clientes e crédito financeiro. Chegou a mencionar a "tancagem", mas não informou se este item incluía produto ou se tratava apenas de local de armazenamento. O pagamento total de US$ 340 milhões teria levado em conta, ainda, segundo Graça, "ativos intangíveis", como inteligência de mercado, potenciais clientes e rede de contatos.

Durante 22 dias, o Valor tentou obter informações sobre qual seria, enfim, o estoque de Pasadena, que tipo de óleo ou derivado foi adquirido, por qual preço e quando teria sido comercializado pela Petrobras. Depois de uma série de pedidos de adiamento de prazo pela estatal, a companhia informou que não vai responder ao questionamento.

No Congresso, Graça Foster disse que, quando se entra em uma operação de trading, "o valor que se pode ter são os estoques" da aquisição, mas, "nesse caso específico [de Pasadena], o maior valor pago por Petrobras foi o conhecimento que o grupo Astra Trading tinha naquela região: os clientes, os contratos com a infraestrutura".

Sobre matéria-prima, Graça limitou-se a dizer que, "mais do que pelos estoques remanescentes, o grande pagamento feito foi, sim, pelo negócio, pelos contratos, por estar dentro da atividade de trading com um grupo extremamente importante".

Procurado pelo Valor, Gabrielli não quis falar sobre o assunto. Mas falou bastante quando esteve no Congresso. Ao tratar dos estoques, disse que "o primeiro elemento importante é este: a operação foi a aquisição de dois negócios, uma refinaria e uma comercializadora com o seu estoque".

Ruy Baron/Valor - 16/10/2013 / Ruy Baron/Valor - 16/10/2013Gabrielli: US$ 170 milhões se destinaram à aquisição de estoques de Pasadena
Segundo Gabrielli, "foram pagos US$ 170 milhões pelo estoque inicial, mais US$ 170 milhões pelos 50% remanescentes e as operações da comercializadora (...) Esses estoques são processados e vendidos, portanto, não podem ser considerados como parte do investimento."

O Valor checou todos os balanços administrativos anuais da Petrobras, desde 2006, ano de aquisição da primeira metade de Pasadena. Não há nenhuma menção sobre o volume de estoques da refinaria texana.

Em setembro de 2006, quando a Petrobras comprou Pasadena, o preço médio do óleo tipo brent e WTI estava em US$ 64,83 e US$ 64,84 por barril, respectivamente. Se admitido que o primeiro aporte de US$ 170 milhões tenha sido usado na compra de óleo, a refinaria texana deveria ter mais de 2,62 milhões de barris guardados em seus pátios. "É muito estoque, ninguém no setor trabalha com isso. É impossível", disse Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE).

Pires lembrou que, atualmente, toda a capacidade de refino do Brasil está em torno de 2,2 milhões de barris por dia. "Seria admitirmos que a refinaria teria guardado em tanques um volume superior ao que todo o país consome em um dia. Não faz muito sentido", comentou o analista. Esse cálculo, no entanto, é apenas uma extrapolação, dado que a Petrobras nega-se a dar qualquer informação sobre os estoques da refinaria.

Em 2007, no primeiro ano de operação de Pasadena tendo a Petrobras como sócia, a refinaria processou 90,8 mil barris por dia. Em 2008, quando foi acionada pela Astra para que comprasse 100% da operação, Pasadena processou 68,8 mil barris por dia.

No mês passado, reportagem do Valor demonstrou que, ao contrário do alegado por José Sergio Gabrielli, os US$ 340 milhões pagos supostamente por estoques, na realidade, integravam a avaliação do ativo de Pasadena. O valor de referência considerado pelas empresas na aquisição da refinaria sempre foi de US$ 678,5 milhões, com uma parcela de US$ 378,5 milhões reservada a 100% da refinaria e outros US$ 300 milhões para o "capital atribuído" pela Astra na trading. A Petrobras argumentou que esse "capital atribuído" seriam os estoques da trading, mas não é o que consta de relatórios e pareceres usados pela diretoria para aprovar a transação em fevereiro de 2006. Os documentos atestam que a separação dos valores que seriam pagos pela refinaria e pela trading tiveram como único objetivo a estruturação de um planejamento tributário para beneficiar tanto a sócia belga como a estatal.

Ontem, reportagem do jornal "Folha de S.Paulo" informou que, a exemplo de Pasadena, o resumo executivo de Okinawa, refinaria japonesa adquirida pela Petrobras em 2007, também ignorou dados sobre as limitações da refinaria. Reportagem do Valor da semana passada revelou que a Petrobras havia anunciado a compra de Okinawa baseada na produção de 100 mil barris por dia, quando já sabia que limitações impostas pelo Japão impediam a refinaria de ultrapassar a marca de 52 mil barris.

Fonte: Valor Econômico/André Borges | De Brasília

 






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