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Estratégia da Petrobras muda para recuperar confiança

Depois de estourar seus limites de endividamento em 2013, a Petrobras anunciou corte de investimentos e reforço em programas de eficiência e redução de custos, em um esforço para recuperar a confiança do investidor. O novo Plano de Negócios e Gestão da companhia, detalhado em conferência com analistas ontem, prevê gastos de US$ 220,6 bilhões até 2018, um corte de 7% com relação ao plano anterior, que tinha como horizonte o ano de 2017. Os efeitos na estrutura de capital da empresa, porém, só serão sentidos no ano que vem.

"O ano de 2014 é um ano que já está dado, que já está posto. Não tem como reverter a lógica de 2014", disse a presidente da empresa, Graça Foster, após questionamento de analistas e investidores a respeito da situação financeira da companhia. A Petrobras fechou 2013 com o índice de alavancagem de 39% e o indicador de dívida líquida sobre geração de caixa em 3,52 vezes. Ambos estão acima dos limites impostos pelo Conselho de Administração - e considerados sustentáveis por agências de classificação de risco - de 35% e 2,5 vezes, respectivamente.

Inflada pela desvalorização cambial, a dívida da empresa atingiu R$ 221,6 bilhões no final do ano. Em linha com a estratégia adotada pelo governo federal no anúncio da meta de superávit primário, a Petrobras corta investimentos já este ano: serão R$ 94,6 bilhões, contra o volume recorde de R$ 104,4 bilhões em 2012. Graça frisou que os programas de corte de custos e aumento da eficiência operacional, que garantiram um impacto positivo de R$ 9,7 bilhões no lucro do ano passado, de R$ 23,6 bilhões, serão reforçados.

"A diretoria da companhia não abre mão do aumento da eficiência operacional nas suas operações. Nossa meta é economizar R$7,3 bilhões em 2014, um aumento de 11% em relação ao ano passado. Estamos trabalhando a cultura da eficiência", afirmou a executiva. A empresa comentou ainda sobre um processo de reestruturação de modelos de negócios, que tem por objetivo reduzir o investimento em atividades de apoio, como logística, buscando parceiros ou prestadores de serviços.

A empresa retirou ainda projetos de exploração e produção não licitados da carteira de investimentos, garantindo maior flexibilidade para discutir preços e prazos com o mercado. "Efetivamente, temos total liberdade, mais do que isso, obrigação, de só realizar projetos se tivermos condições", reforçou. Na mesma situação, estão as refinarias do Maranhão e do Ceará, que começam a ser licitadas em abril, mas cujos desenvolvimento depende de análise do apetite dos fornecedores.

"O Plano de Negócios nos surpreendeu positivamente ao apresentar uma redução nos investimentos para o período, conjugado a uma maior concentração em exploração e produção, em detrimento, principalmente, das áreas de downstream (refino e logística)", afirmaram, em relatório, analistas da Ativa Corretora. Depois de agradar ao mercado em sua primeira apresentação como presidente da empresa, em 2012, Graça vinha perdendo a confiança de investidores diante das dificuldades em apresentar resultados.

No ano passado, foi vista como derrotada em uma discussão com o Ministério da Fazenda sobre a implantação de uma fórmula de reajustes dos preços da gasolina e do diesel. No encontro com analistas ontem, ela reforçou que uma nova metodologia de cálculo está em vigor. E que o reajuste de preços, aliado ao incremento da produção, são indispensáveis para sustentar o programa de investimentos da empresa.

A produção de petróleo, estagnada há três anos, deve crescer 7,5% em 2014, segundo projeções da companhia. Não há notícias, porém, sobre reajustes nos preços dos combustíveis, o que o mercado considera difícil em ano eleitoral. Em 2013, diante das dificuldades de caixa, a empresa optou por perfurar poços com menor risco exploratório, obtendo, assim, uma taxa de sucesso de 75%, o dobro da média mundial. "Quando estivermos com situação melhor, podemos voltar a tomar risco."

Na conferência, que durou uma hora e meia, a diretoria da empresa apresentou metas para 2030. A produção de petróleo da empresa no Brasil deve ficar na casa dos 4 milhões de barris por dia, o dobro da atual - o volume chega a 5,2 milhões, considerando a parcela de sócios nos projetos. E a capacidade de refino deve atingir 3,9 milhões de barris por dia. Graça, porém, disse que o crescimento da produção depende de novos leilões de áreas petrolíferas.

Antes da apresentação das metas de longo prazo, a executiva traçou um cenário bem menos animador do que o verificado quando o Plano Estratégico para 2020 foi lançado, em 2007, antes da crise mundial. As projeções de crescimento do PIB global e, consequentemente, dos preços das commodities, são bem menores agora, com reflexo sobre a financiabilidade dos projetos. "Estamos o tempo inteiro revendo metas, verificando indicadores, entendendo a real possibilidade de fazer (os investimentos)", comentou.

Autonomia em produção de petróleo só no ano que vem
O Plano de Negócios e Gestão da Petrobras marca o ano de 2015 como o novo ano da autossuficiência brasileira na produção de petróleo. Com a entrada de seis novas plataformas em operação, a empresa pretende produzir mais petróleo do que o país consome já no ano que vem, depois de três anos de produção estagnada. A autossuficiência na produção de combustíveis, porém, ficará para 2020, após o início das operações das duas refinarias Premium.

A autossuficiência na produção nacional de petróleo foi celebrada em 2006. Na ocasião, comemorou-se o início das atividades da plataforma P-50, na Bacia de Campos. Com capacidade para extrair 180 mil barris por dia, a unidade contribuiu para que o país chegasse a uma produção na casa dos 2 milhões de barris por dia.

O crescimento da economia e os atrasos na entrada de novos projetos, porém, levaram o país a voltar a ser importador líquido em 2012, reforçando o descrédito do mercado com as projeções da Petrobras. Desde então, o petróleo tem sido um contrapeso na balança comercial brasileira. No ano passado, a conta petróleo teve um déficit de US$ 20,27 bilhões. Foi o pior ano para a balança desde 2000.

A presidente da Petrobras, Graça Foster, admitiu, no entanto, que o superávit em 2015 será apenas em termos de volume, já que o país continuará importando derivados de petróleo, mesmo com o início das operações do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Até 2016, os dois projetos vão acrescentar 195 mil barris por dia à capacidade brasileira de refino.

Além de três plataformas já em fase de implantação - P-58, P-61 e P-62 - contribuirão para a autonomia as unidades Cidade de Ilhabela, Cidade de Mangaratiba e Cidade de Itaguaí, que entram em operação entre o segundo semestre de 2014 e o primeiro de 2015. Há, no entanto, dificuldades para alocar embarcações de lançamento de dutos submarinos, que interligam os poços às plataformas, chamadas de PLSVs. Sob contrato, a empresa tem hoje 11 PLSVs, e espera receber mais oito em 2014. As embarcações deveriam ter sido contratadas em 2011.

Projetos no exterior têm foco em petróleo

A Petrobras incluiu entre seus focos no exterior reservas não convencionais de petróleo e gás natural, como o gás de xisto, que vem provocando uma revolução no mercado energético dos EUA. As novas fronteiras fazem parte de uma remodelação total nos negócios da companhia no exterior, como já havia adiantado o Brasil Econômico, que serão centrados na busca por petróleo, deixando de lado projetos de outros segmentos.

O trabalho de reestruturação dos negócios internacionais tem por objetivo melhorar o portfólio da companhia no exterior, informou a presidente da estatal, Graça Foster. "Percebemos que nosso portfólio não tem a qualidade que queremos. Não queremos reservas que demandem investimentos para levar a produção aos mercados", disse ela. O foco permanece nas Américas e na Costa Oeste da África, mas inclui reservas não convencionais nos EUA e na Argentina.

A área internacional foi uma das mais afetadas pela crise financeira da Petrobras e protagonizou o programa de desivestimento da companhia, que já rendeu US$ 10,7 bilhões em vendas de ativos. Quando decidiu partir para o mercado externo, a estatal comprou, além de ativos de exploração e produção, refinarias, postos de combustíveis e distribuidoras de gás. "Agora, o que queremos é petróleo, para complementar nossa produção local". Por isso, a empresa vai centrar esforços na exploração, na busca por novas reservas. Dos investimentos previstos no novo Plano de Negócios, a área internacional ficará com 4%, ou US$ 9,7 bilhões. Além do petróleo, a manutenção dos volumes de produção de gás na Bolívia permanecem no foco.

Como resultado desse esforço, a empresa projeta para o período entre 2020 e 2030, atingir uma média de produção de 479 mil de barris de óleo equivalente (somado ao gás) em projetos fora do Brasil, um crescimento anual superior a 8%. No ano passado, a área internacional produziu uma média de 200 mil barris de óleo equivalente por dia, queda de 15% com relação ao ano anterior, provocada pela venda de projetos.

Fonte: Brasil Econômico/Nicola Pamplona  






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