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Fabricante brasileiro ganha espaço entre as petroleiras mundiais

Grandes empresas de petróleo estão comprando no Brasil equipamentos para projetos de peso no exterior e em quantidades relevantes. Entre as clientes estão a norueguesa Equinor (que se chamava Statoil até a semana passada), a americana ExxonMobil e a italiana Eni, só para citar alguns.

As exportações acontecem depois de as empresas enfrentarem um período difícil, em que a queda do preço do petróleo levou as petroleiras a adiarem projetos. O cenário ficou pior no Brasil, com a crise da Petrobras provocada pela na Lava-Jato e que levou o setor a uma quase paralisia. Agora, até o câmbio, com a desvalorização do real, está ajudando a tornar os equipamentos brasileiros mais competitivos, como observou Idarilho Nascimento, diretor comercial da Tenaris. Mas é preciso fazer um contraponto. Nascimento cita como desvantagem os custos trabalhista, de energia e tributário.


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A Equinor comprou no Brasil equipamentos para projetos de grande porte no Mar do Norte. A Netzsch Brasil, em Santa Catarina, forneceu bombas centrífugas para o gigantesco projeto de Johan Sverdrup; a WEG vendeu motores elétricos para os campos de Troll 2 e 3, e a Aker Solution produziu equipamentos submarinos para os campos Johan Castberg e Troll, na plataforma continental da Noruega.

Da Tenaris a Equinor comprou conectores instalações depois da perfuração de poços. "Isso significa que projetos na Noruega estão criando empregos aqui e isso vai continuar. Baseado na regra de conteúdo local no Brasil, estamos comprando de empresas brasileiras, mas também existem muitas interfaces com fornecedores brasileiros para nossos negócios fora do Brasil", disse o presidente da Equinor no Brasil, Anders Opedal, citando projetos no Canadá e Tanzânia além da Noruega.

A ExxonMobil adquiriu no Brasil alguns equipamentos para o desenvolvimento da primeira fase do gigantesco projeto Liza, na Guiana, da qual é operadora. A estimativa é de que no bloco tenha 3,2 bilhões de barris de óleo equivalente recuperáveis incluindo outros quatro prospectos no bloco. A americana é operadora e detém 45% de participação, tendo como sócios a Hess Guyana Exploration (30%) e a chinesa CNOOC Nexen Petroleum Guyana (25%).

A empresa contratou 17 árvores de natal e cinco manifolds (conjunto de válvulas e acessórios que reúne a produção de vários poços em direção à plataforma) que serão construídos pela TechnipFMC. Eles serão instalados na fase 1 do projeto de desenvolvimento da produção. Procurada, a ExxonMobil informou em nota que "continua buscando fornecedores globalmente competitivos para seus projetos".

O contrato da Aker com a Equinor, de R$ 100 milhões, é para fornecimento de sistema de controle submarino para o campo de Troll. A presidente da Aker no Brasil, Maria Peralta, explica que a encomenda aumentou a ocupação da fábrica no Paraná, mas a unidade ainda trabalha com capacidade ociosa. "A entrada do contrato para o Mar do Norte vai permitir uma estabilização na área de sistemas de controle, que é um departamento específico. Vamos aumentar a produção em um departamento especifico na manufatura. Mas ainda não estamos trabalhando na capacidade máxima", explica Maria.

A Aker, que é norueguesa, investiu R$ 260 milhões no Brasil para construir uma fábrica e um centro de Tecnologia em São José dos Pinhais, no Paraná. A executiva explica que a fábrica foi planejada para produzir mensalmente até seis árvores de natal molhadas - que controlam o fluxo e a vazão de petróleo e gás e são instalados junto ao poço no leito marinho - operando em três turnos. Mas segundo ela, ainda está operando com apenas dois turnos.

O país sempre foi competitivo e esteve na liderança na produção de bens e serviços para águas profundas

Além dos conectores vendidos para a Equinor, a Tenaris conseguiu um contrato para fornecer a tubulação de gasodutos que vão levar para o Egito o gás encontrado no campo de Zohr, operado pela Eni Spa e onde ela fez a maior descoberta no Mar Mediterrâneo em muitos anos. Zohr tem reservas estimadas em 30 trilhões de pés cúbicos (TCF) de gás, que serão levados para terra com tubos feitos com material resistente à corrosão ácida produzidos na fábrica da empresa em Pindamonhangaba (SP). O investimento ali foi superior a US$ 370 milhões na modernização tecnológica. A primeira entrega dos tubos que vão cobrir 230 quilômetros foi feita em abril. Outros 215 quilômetros de tubulação começaram a ser fabricados para entrega até o fim do ano. O contrato da Tenaris é para entrega de 900 quilômetros de tubos, sendo que os mais complexos serão exportados do Brasil e o restante das unidades do México e Itália.

Nascimento, da Tenaris, diz que no fim de 2012 e início de 2013 a companhia viu que o setor estava em uma recessão mais acentuada do que no resto do mundo, onde a atividade sofreu com a queda do preço do petróleo. A decisão então foi de focar no mercado internacional, exportando tubos para projetos no Mar do Norte ou países como Angola, Gana, Azerbaijão, Bolívia, Argentina, Trinidade e Tobago, China, Colômbia e México. "A crise diminuiu muito a operação de óleo e gás e os investimentos das operadores no mundo todo. O petróleo chegou a US$ 35 e agora está na faixa de US$ 80, o que está fazendo com que os investimentos voltem. Vemos uma perspectiva positiva agora, com as empresas retomando projetos", diz.

O lucro da Tenaris em 2017 foi de US$ 536,39 milhões, uma recuperação em relação ao lucro mais modesto de 2016, de US$ 58,7 milhões, que reverteu o prejuízo registrado em 2015. Apesar do aumentar 23% as receitas, a empresa manteve as despesas operacionais praticamente estáveis.

O diretor da Tenaris destaca como fator positivo a abertura do mercado brasileiro para outras empresas operaram no pré-sal. Isso, segundo ele, abriu espaço para que os fornecedores instalados no Brasil tenham outros clientes além da Petrobras, que era operadora única do pré-sal por lei. "Isso traz mais oportunidades e mudanças no cenário porque parte dos investimentos agora será executada por outros 'players'", diz Nascimento, que espera a retomada de encomendas para projetos no Brasil entre 2019 e 2020.

Outra companhia brasileira com uma grande carteira de clientes internacionais, a WEG vê a onda de exportações com naturalidade. A empresa criada em Santa Catarina em 1961 tem fábricas em 12 países e vendas em cinco continentes. O gerente da área de óleo e gás da WEG, Elder Stringari, afirma que os pedidos da Equinor foram importantes e começaram há quatro anos no Brasil. Em 2015, a brasileira forneceu equipamentos para o campo de Peregrino. "A partir daí começamos a fornecer para o Mar do Norte, junto com outros clientes que a empresa conquistou no exterior. Eles ajudaram a WEG a passar por esse período difícil no mercado brasileiro", afirma.

Com faturamento de R$ 9,5 bilhões em 2017, a WEG forneceu motores capazes de gerar desde 4 megawatts (MW) até 11 MW usados para injeção de água nos poços ou compressão do gás nas plataformas. Os motores foram vendidos não só para projetos da Equinor na Noruega, como também da Shell no Reino Unido, Chevron nos Estados Unidos, e estatais como a argelina Sonatrach, a malaia Petronas e a gigante Saudi Aramco, entre outros.

Nos Estados Unidos, onde a WEG tem uma fábrica, os motores são usados por empresas que prestam serviços de fraturamento hidráulico para a produção de petróleo e gás de fonte não convencional (shale). Sobre as exportações, Stringari afirma que a WEG não é uma novata no assunto. "A internacionalização começou muito tempo atrás. O desenvolvimento do negócio de óleo e gás andou naturalmente junto com a internacionalização", explica.

Para o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Félix Bezerra, as petroleiras estão adquirindo equipamentos no Brasil porque o país sempre foi competitivo e esteve na liderança na produção de bens e serviços para águas profundas. "As exportações mostram a competitividade dos bens produzidos no país. E a presença de outros operadores abriu a oportunidade de fornecimento para o mundo todo. As companhias vão conhecer a qualidade dos fornecedores brasileiros e ver que aqui é mais barato", afirma Bezerra, que espera maior aquecimento a partir de 2020.

Fonte: Valor






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