Para o presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), Ariovaldo Santana Rocha, o único gargalo que o setor enfrenta se refere a qualificação de mão-de-obra que acontece em vários estaleiros como nos do Rio de Janeiro, Santa Catarina, Pernambuco e no Rio Grande do Sul. Esse problema, segundo ele, se refere à fase de aprendizagem - qualificação profissional e de tecnologia -, e que será resolvido, no máximo, em 15 meses.
- Há um atraso. A falta de mão-de-obra faz com que os estaleiros dêem um treinamento mais extenso. A curva de aprendizado está um pouco mais demorada do que a nossa expectativa. Nós estimamos esse treinamento em dois anos e estamos demorando de dois anos e meio a três anos para treinar os profissionais - comentou, acrescentando que só há o atraso na formação do profissional. Além disso, frisou que equipamentos que foram comprados da China também não foram entregues dentro do prazo previsto. Com isso, diz, o estaleiro Atlântico Sul, por falta do atraso do guindaste e de outros equipamentos que não foram entregues, gerou um atraso.
- O Atlântico Sul gerou um planejamento de para construir um navio com 25 blocos. Um navio leva 220. Infelizmente, por falta da entrega do equipamento de carga, uma vez que a empresa faliu, tivemos que recorrer ao mercado com certa urgência. Passou, então, para o projeto de 220, dentro de um cronograma que nós planejamos e trouxe uma defasagem de dois meses para a entrega da embarcação - comentou, rebatendo uma reportagem publicada em um veículo de comunicação de que o atraso seria por falta qualificação dos estaleiros.
- Há jornalistas que gostam de fazer fofoca ao dizer que um navio não está classificado. Isso é uma mentira. Na verdade, todas as embarcações são vistoriadas mês a mês e não ano a ano. É humanamente impossível fazer uma liberação de verba sem classificação, tendo defeito em solda ou em qualquer coisa. Então, tudo isso é balela. É coisa de pessoas que não conhecem o produto para poder fazer algum apontamento - disse, ressaltando que esse é um problema localizado e não da indústria naval como um todo - "é um problema pontual que já está sanado. Já tem prazo de entrega da embarcação e de lançamento. Acreditamos que em outubro já será entregue a primeira embarcação, o João Cândido, pelo Atlântico Sul. Então, há muita desinformação. Não tem nenhuma obra em atraso no mercado brasileiro".
Um ano bom para o setor - Ariovaldo frisou que os nove primeiros meses deste ano foram bons para o setor. O Fundo de Marinha Mercante (FMM) liberou R$ 10 bilhões para obras que estão em curso ou que as que entrarão em curso nos próximos seis meses. E no que diz respeito à atuação do Governo Federal, ressaltou o "espírito empresarial" da presidente Dilma Rousseff.
- Nesses nove primeiros meses do ano nós estamos dando continuidade ao que vinha sendo feito nos últimos oito anos - comentou, lembrando que a curva de aprendizado na Coréia levou 10 anos para se enquadrar e mais 10 para eles (estaleiros coreanos) se tornarem competitivo. Isso com total subsídio do governo.
- Aqui é diferente. O setor tem apoio e benefício do governo, mas não tem nada de subsídio. Por exemplo, lá, na Coréia, a mão-de-obra é subsidiada pelo governo. Aqui a mão-de-obra é paga pelos estaleiros - disse, adiantando que o setor fechará o ano com geração de cerca de 8 mil empregos diretos, sendo 28 mil da área de barcos de lazer. E, em 2012, esse número pode pular para 90 mil ou 95 mil pessoas trabalhando no setor.
Rocha disse ainda ao MONITOR MERCANTIL que a indústria naval brasileira está se classificando como um grande player do setor no mundo.
A Coréia, segundo ele, já está se passando. Atualmente, a grande concentração ocorre na China.
- Nós somos um player muito valioso para a Costa Oeste da África, para o Golfo do México e para o mercado interno do Brasil. Nós estamos pensado na demanda interna mas também explorando a demanda externa, como a Costa Oeste da África, em equipamentos, e a Rússia.
Rocha lembrou que o Sinaval recebeu várias delegações de empresários do setor como, por exemplo, da Coréia, Rússia, Ucrânia, Polônia, Itália e Finlândia, onde uma comitiva de empresários brasileiros visitou para ver o que poderia ser feito em termos de intercâmbio comercial.
- O Sinaval foi lá com 22 empresários que estão trazendo novas tecnologia, inovações para serem implantadas aqui. Também há um superaquecimento na Holanda e na Espanha. Esperamos que essa política industrial do Governo Federal tenha continuidade - disse, informando que nesta terça-feira foi lançado a pedra fundamental do novo Estaleiro Tietê, localizado no Noroeste de São Paulo, basicamente em Araçatuba.
O estaleiro, segundo Rocha, já tem 100 contratos de obras da Transpetro, ou seja, 80 barcaças e 20 empurradores. O evento contou com a presença de Dilma.
Ariovaldo Rocha disse ainda que o Sinaval também navega de vento em popa. A entidade já conta com 47 associados e recebeu, no último dia 12, a diretoria do Jurong do Espírito Santo que está ingressando como associado da entidade, uma vez que eles (Jurong) estão participando do lote de licitação das 21 sondas da Petrobras.
- O que me preocupa é que estamos com uma equipe pequena para a demanda.
Rocha fez questão de deixar bem claro que a questão do aço não preocupa o setor. No entanto, disse que o produto brasileiro ainda é cerca de 15% a 30% mais caro do que o praticado no exterior.
- Não tem problema nenhum com o aço brasileiro. O Instituto Brasileiro do Aço tem nos garantido que não faltará o produto para atender a demanda. Agora, há, sim, um problema - o preço -, porque o mercado mundial não está tão aquecido como o do Brasil e a China. A Ucrânia tem aço mais não tem demanda. Lá tudo é subsidiado e não vai deixar de ser competitivo no mercado brasileiro. Mas tudo será ajustado.
Conteúdo local - Quanto ao conteúdo local, cujo tema foi objeto de um Fórum realizado pela FUNDAÇÃO ARO e o Sinaval, Rocha ressaltou que o setor está superaquecido pela realização do evento. E adiantou que o fórum motivou os estrangeiros a virem ao Brasil e os brasileiros também estão pensando em acompanhar a inovação para gerar tecnologia.
- Nós não somos detentores de tecnologia. Estamos importando tecnologia que está disponível no mundo. Agora, com a chamada da presidente Dilma para o conteúdo local tenha que ser brasileiro, está motivando os estrangeiros que estão vindo ao país com suas delegações para se integrar com os empreendedores brasileiros para a formação dessa tecnologia - disse, acrescentando que, pelo menos, será preciso cerca de 15 meses para alcançar o índice estabelecido, ou seja, 75% a 80% de conteúdo local. Atualmente o percentual gira em torno de 70%.
NR 34 - O assessor da Presidência do Sinaval, Marcelo Carvalho, explicou ao MONITOR MERCANTIL, a Norma Regulamentadora da Indústria Naval (NR 34). Segundo ele, depois de três anos de trabalho, a norma foi regulamentada pela portaria 200, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em 11 de janeiro deste ano, com período de 90 dias para adaptações e aplicações.
- A partir do anúncio, os estaleiros já estão sendo fiscalizados sob o novo regime. O Sinaval e o Ministério agora cumprem a agenda de aplicação da norma. Em maio, o Sinaval e o MTE estiveram em Manaus. Já em junho foi a vez de Recife. Em agosto, a fiscalização ocorreu em Angra dos Reis, e, em outubro, será em Santa Catarina, no Itajaí. E em novembro, será em Brasília, onde o Sinaval entregará à presidente Dilma um relatório de eficácia da nova norma.
Marcelo disse ainda que nos dias 26 e 27 deste mês acontecerá na Turquia a maior feira mundial de segurança do trabalho, onde a Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM), representado por Carlos Rocha, fará uma apresentação da NR 34.
- É a primeira vez que o Brasil consegue apresentar um trabalho de segurança de um setor específico (indústria naval).
Fonte:Monitor Mercantil/Marcelo Bernardes
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