Entrega das sondas no prazo será desafio para novos estaleiros. Mão de obra é um dos principais gargalos
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A partir de 2016, a Petrobras passará a operar com sondas construídas no Brasil. Serão 33 unidades, das quais cinco serão feitas pela Ocean Rig, que ainda está em negociação com os estaleiros do grupo Sinergy — Mauá e Eisa. As outras 28 são de responsabilidade da Sete Brasil. Sete delas serão produzidas no estaleiro Atlântico Sul (EAS) a partir do próximo ano.
Outras seis serão construídas no Estaleiro Brasfels, no Rio de Janeiro, com percentuais de conteúdo local entre 55 e 65%. Destas, três sondas serão operadas pela Petroserv, duas pela Queiroz Galvão Óleo e Gás e a outra pela Odebrecht Óleo e Gás. As outras 15 estão em negociação com quatro estaleiros: Enseada do Paraguaçu, Jurong, Rio Grande e OSX. Destes, três ainda estão em fase de implantação.
Assim como as sondas construídas no exterior sofreram atrasos, estes novos estaleiros também devem ter dificuldades para entregar as embarcações no prazo por não terem maturidade tecnológica. A avaliação é do professor e doutor em Engenharia Oceânica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Floriano Pires. “É possível [a entrega no prazo], mas é muito difícil. Eles não dominam as técnicas, não têm experiência, pessoal treinado. Os recursos tecnológicos que estão à disposição também não serão utilizados de forma plenamente efetiva”, opina. O professor salienta também que é preciso o desenvolvimento de estratégias construtivas permanentes para que os ganhos de produtividade aumentem.
Entre os principais desafios dos novos estaleiros estão engenharia de processo de construção, amadurecimento da cadeia de fornecedores e qualificação de recursos humanos. Este último fator, diz Pires, não tem sido percebido com a sua real gravidade. Segundo ele, a quantidade de técnicos de nível médio nos estaleiros brasileiros é desprezível, se comparado ao que acontece nas outras unidades internacionais.
Construção inédita no país, as sondas contarão com projetos de empresas internacionais. O EAS, por exemplo, tem um contrato com a norueguesa LMG Marin, já em execução, para o fornecimento do projeto básico e detalhamento das sondas. O estaleiro também assinou contrato no último mês de junho com a IHI Marine United Inc. (IHIMU) - Divisão de Construção Naval Offshore da Ishikawajima-Harima Heavy Industries, sediada no Japão e controlada pelo grupo Mitsui. A IHIMU será o consultant shipyard do EAS e prestará serviços de consultoria técnica de operações para todas as embarcações produzidas no estaleiro, incluindo os navios-sondas.
Em relação a essas parcerias, Pires diz que é positiva a participação e a aceleração do processo de qualificação tecnológica através da participação de outras empresas. No entanto, destaca ele, é preciso que essas parcerias estejam associadas a modelos de capacitação, fixação, desenvolvimento e adaptação de tecnologias. “Os estaleiros vão precisar fazer os mesmos investimentos que fariam se não tivessem parceiros, como programas de qualificação, de P&D, mais engenharia. Eles têm que usar essa estrutura para absorver a informação necessária desses parceiros. Se não fizerem isso, vai ser alguma coisa que vai acabar na hora que eles forem embora”, afirma.
O acompanhamento dessas sondas será feito pela Petrobras da mesma forma que as unidades estacionárias de produção próprias ou afretadas. “Haverá times dedicados ao acompanhamento de tal maneira que vejamos não apenas o que está sendo feito, mas também que consigamos projetar como é que essas sondas vão estar sendo construídas nos meses vindouros e a chegada delas dentro do cronograma”, disse o diretor de Exploração e Produção (E&P) da Petrobras, José Miranda Formigli, durante apresentação do novo plano de negócios da companhia. Para isso foram criadas gerências executivas específicas tanto na engenharia quanto no E&P para acompanhar os detalhes da construção das sondas e das unidades estacionárias de produção.
Além de sondas, os novos estaleiros também estarão aptos a construir navios convencionais. Para estes tipos de embarcações, destaca Pires, a eficiência produtiva do estaleiro ainda é mais exigida do que a construção de sondas. Para ele, a Petrobras terá dificuldades de afretar em curto prazo uma sonda para substituir uma unidade construída no Brasil que sofreu atrasos, o que não acontece com um petroleiro, por exemplo.
Com o preço baixo dos navios construídos no exterior em função da crise no mercado internacional e a ociosidade de alguns estaleiros, portanto, com tempo de produção menor, o desafio da eficiência para os estaleiros nacionais é ainda maior. “A margem de lucro da construção de navios convencionais é menor, é muito mais exigente o padrão de produtividade, rapidez e de eficiência econômica no processo de produção do que nos outros casos. É preciso muita eficiência produtiva”, declara. (DJ)