A capitalização da Petrobras é apenas o lado mais visível de uma corrida em busca de recursos que movimenta o mercado petrolífero brasileiro, 11 anos após o primeiro leilão de áreas exploratórias da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Confirmadas as primeiras grandes descobertas após o fim do monopólio, as companhias que operam no País agora se esforçam para garantir capital para o início da produção das reservas.
As estratégias das empresas englobam a emissão de ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), a exemplo da Petrobras, e a venda de fatias em ativos brasileiros do setor. O último passo nesse sentido foi anunciado pela anglo-holandesa Shell, que colocou à venda suas participações em quatro concessões na costa brasileira, com o argumento de que vai realocar os recursos para o desenvolvimento de projetos prioritários.
A empresa está negociando fatias nas concessões BS-4 - onde descobriu os campos de Atlanta e Oliva - BM-S-8 e BM-S-45, na Bacia de Santos, além de BM-ES-28, no litoral capixaba. Segundo a companhia, os recursos serão usados em atividades no Brasil e no exterior, incluindo concessões na área do pré-sal da Bacia de Santos.
Para especialistas, a busca por recursos para desenvolver as reservas é uma tendência que representa um novo momento na indústria petrolífera brasileira. Segundo estimativas da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), o setor planeja investir US$ 260 bilhões nos próximos cinco anos. Desse total, US$ 224 bilhões serão aportados pela Petrobrás e o restante por empresas privadas nacionais ou estrangeiras.
A própria estatal justifica a pressão pela capitalização com a falta de recursos para investir nas descobertas gigantes do pré-sal. A escolha pela emissão de novas ações, na visão de especialistas, segue uma característica própria da companhia, que não tem histórico de venda de ativos, seja por razões políticas ou de cultura interna. Por isso, busca recursos no mercado de capitais.
O caminho da Petrobras está sendo seguido por três companhias: a brasileira HRT, a espanhola Repsol e a australiana Karoon, que recentemente deu entrada com seu prospecto preliminar na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Procurada pela reportagem, a empresa informou que a abertura de capital no Brasil ainda está em estudo e confirmou a estratégia de buscar recursos para reinvestimento em seus ativos na América do Sul.
Com participação em sete blocos exploratórios na Bacia de Santos (cinco deles com 100%) e dois no Peru, a empresa avalia que o potencial de suas reservas na América do Sul não têm recebido a devida atenção dos investidores australianos. Por isso, optou por analisar a viabilidade de levantar recursos na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). No prospecto, a companhia diz que certificou um potencial de reservas de 1,37 bilhão de barris no País. A ideia é vender entre 25% e 30% de sua subsidiária internacional.
Bolsa
A mesma trilha é seguida pela Repsol e a HRT, ambas já com prospectos preliminares arquivados na CVM, mas de certa forma esperando a conclusão da operação da Petrobrás, que deve concentrar as atenções do mercado internacional. Na linha da venda de ativos para levantar recursos, a OGX vem negociando a transferência de até 30% de seu polo de exploração de petróleo na Bacia de Campos.
"O momento é propício para essas operações, uma vez que a bolsa brasileira já está se acostumando a olhar para o setor de petróleo e há uma série de empresas querendo fincar bandeiras no Brasil", analisa o consultor Jean-Paul Prates, da consultoria Expetro, citando entre as interessadas as estatais da China e da Índia, que estão em processo de internacionalização em busca de reservas.
Não por acaso, duas chinesas são apontadas como as principais apostas para a compra dos ativos da OGX, a Sinopec e a China National Offshore Oil Corporation (Cnooc) - a primeira já comprou participações em blocos da Petrobrás. Uma terceira chinesa, Sinochem, protagonizou este ano operação de US$ 3 bilhões para adquirir parte do campo de Peregrino, em Campos, da norueguesa Statoil. A expectativa é que os chineses despontem também como concorrentes às participações postas à venda pela Shell.
Além da necessidade de captar recursos, a percepção de aumento do risco político no Brasil pode estar por trás da decisão da Shell em vender ativos no País. "O principal sócio brasileiro está cada vez mais político e o risco regulatório, aumentando. O modelo que o Brasil quer seguir afasta empresas tradicionais", afirma o consultor Adriano Pires. Em nota enviada à reportagem, a empresa reforçou que a "iniciativa não tem impacto na nossa visão de crescimento e desenvolvimento futuro da Shell no País".
(Fonte: Cruzeiro on-line/Nicola Pamplona - AE)
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