Petróleo: Em 2020, Petrobras deverá produzir 4 milhões de barris por dia, boa parte nos campos do Estado
Nos próximos anos, a participação do petróleo na economia fluminense deverá aumentar, com os investimentos nas novas jazidas de pré-sal e na construção de uma nova refinaria, que poderá aumentar o valor agregado das exportações. Com cerca de 60% das descobertas do pré-sal em seu território, o Estado do Rio de Janeiro deverá receber mais de R$ 80 bilhões em investimentos nos próximos três anos. Não é para menos: estima-se que em dez anos a Petrobras produzirá o que levou cinco décadas. Em 2020, a estatal deverá ter uma produção de 4 milhões de barris por dia, o dobro da atual e boa parte desse acréscimo poderá vir de campos de pré-sal do Rio.
Os investimentos da Petrobras e de outras petroleiras para explorar o óleo irão desencadear a aplicação de R$ 40 bilhões de recursos em elos da cadeia produtiva, como construção de refinarias, indústrias de plásticos, siderúrgicas, fabricantes de máquinas e equipamentos e indústria naval. Por conta do pré-sal, grandes empresas estão instalando no Estado seus centros de pesquisa. "Somente em 2009, foram anunciados três novos centros de pesquisa com essa finalidade: da americana Baker Hughes, da francesa Schlumberger e da Usiminas. Todos funcionarão no maior parque tecnológico da América Latina voltado para o setor de óleo e gás, na Ilha do Fundão", diz o secretário do Desenvolvimento Econômico, Júlio Bueno.
A corrida pelo pré-sal mal começou. "O banco UBS estima que sejam necessários investimentos de US$ 600 bilhões para extrair óleo dessa nova fronteira exploratória, sendo que 60% da área está no Rio. Isso dá uma ideia do que teremos pela frente", afirma.
O Rio é o maior produtor de petróleo do país, respondendo por 85% da produção nacional. Esse círculo virtuoso de investimentos poderá ampliar a participação fluminense no PIB nacional. "Hoje, o Rio responde por 11,2% do PIB nacional mas, como o Estado irá receber investimentos pesados e o petróleo tem efeitos diretos e indiretos importantes, essa participação deverá aumentar nos próximos anos", diz o gerente de infraestrutura e novos negócios da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Cristiano Prado.
A Petrobras trabalha em ritmo acelerado em alguns campos do pré-sal. Atenção especial tem sido dada ao de Tupi, onde a estatal pretende iniciar a produção de 100 mil barris por dia no quarto trimestre. "É uma meta ambiciosa, mas estamos buscando cumpri-la", diz o presidente da empresa, José Sergio Gabrielli. A estatal se prepara para investir no refino e processamento do petróleo a ser extraído do pré-sal para agregar maior valor à sua produção.
A ser erguido no município de Itaboraí, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) está com 65% de suas obras de terraplenagem feitas. Com previsão para entrar em operação em 2013, o complexo pode significar a economia de US$ 2 bilhões na importação de plásticos e resinas. O Rio pode ganhar maior poder para agregar valor à sua balança comercial. Em 2000, o Estado respondia por 3,5% dos embarques brasileiros. Hoje, representa 10%, com boa parte da pauta está relacionada às exportações de óleo cru.
Nos últimos 30 anos, a história da economia fluminense tem se confundido com a evolução da extração de petróleo. O futuro não será diferente. No início da década de 1980, quando a produção da bacia de Campos (RJ), cuja descoberta havia sido anunciada em 1974, começava a se consolidar como principal polo petrolífero, a economia brasileira sentia os efeitos do segundo choque do petróleo: em 1981, foram importados US$ 11 bilhões em óleo cru e derivados, cerca de metade das importações do Brasil, cuja dependência externa de petróleo chegou a 83%. O setor não respondia por mais de 5% do PIB fluminense.
A partir de 1985, com uma série de investimentos na Bacia de Campos, a Petrobras bateu o recorde de explorar petróleo a 492 metros de profundidade, obteve know-how na produção em águas profundas e começou a aumentar a produção de óleo nacional. A Bacia de Campos ganhava espaço na economia fluminense. "Entre 1980 e 2008, a produção nacional cresceu, na média, 8,6% ao ano, a expansão fluminense foi bem maior, de 15,2% ao ano. No período, a participação do Rio na produção nacional saltou de 15,7% para 82,5%", diz o economista e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Robson Dias da Silva, cujas teses de mestrado e doutorado na Unicamp tiveram como foco a economia fluminense.
Um empurrão foi dado em 1997, quando foi sancionada a Lei 9.478, quebrando o monopólio da estatal no segmento, aumentando a concorrência no setor e trazendo novos investimentos. Em 1998, o petróleo respondia por 2,5% do PIB do país. Hoje, o número está em 10%, sendo que 83% da produção nacional está em, território fluminense. "A produção e a exploração de petróleo representam 25% do PIB do Rio de Janeiro, há 20 anos era ínfimo. Se contabilizar a indústria naval e petroquímica, o número fica entre 30% a 40%. Além do aumento da produção, o preço contribuiu para o aumento da importância do setor: em 2000, o barril estava abaixo de US$ 20."
O interesse com o pré-sal deverá redistribuir as forças regionais da economia fluminense. Atualmente, o norte do Estado, onde está a Bacia de Campos, é a grande região produtora da commodity, o que, com o pré-sal, tende a mudar. "O litoral sul terá importância tão grande quanto Campos", diz Prado, da Firjan. Para ele, o boom da indústria de petróleo irá estimular investimentos em outros segmentos, como máquinas, siderurgia e serviços, de hotéis a restaurantes. "Uma plataforma é como se fosse um hotel flutuante, ou seja, isso estimula uma cadeia produtiva muito longa e com uma série de benefícios de maior emprego e renda."
A discussão sobre os royalties poderá trazer dificuldades para o governo fluminense. A aprovação da emenda Ibsen Pinheiro, que modifica os critérios de participação dos municípios do fundo de royalties do pré-sal, põe em risco o orçamento estadual. Segundo o secretário de Fazenda do Estado, Joaquim Levy, pelas novas regras, o Rio perderia a receita atual, de cerca R$ 4,5 bilhões por ano, o que seria drástico.
Fonte: Valor Econômico/ Roberto Rockmann, para o Valor, de São Paulo
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