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Leilão de Libra chega na pior hora para Petrobras

O leilão do campo de Libra, do pré-sal da Bacia de Santos, não poderia vir em pior hora para a Petrobras. A definição do consórcio vencedor hoje vai adicionar necessidade de gastos de capital, que, no momento, comprometerão ainda mais o caixa já apertado da estatal. Assim, o projeto deixaria de ser um benefício para tornar-se um problema, que se soma a uma lista extensa: dificuldade em elevar a produção, defasagem dos preços de combustíveis e plano ousado de investimentos.

O Bank of America Merrill Lynch (BofA) explicita a situação da empresa em relatório. A Petrobras tem a maior dívida do planeta, de acordo com a instituição, considerando companhias de capital aberto não financeiras. Ao fim do segundo trimestre, as obrigações somavam US$ 112,7 bilhões, contra US$ 104 bilhões da China State Grid, US$ 98 bilhões da americana Verizon e US$ 90 bilhões da China National Petroleum Corporation (CNPC).

Anne Milne, analista de dívida do BofA, calcula que, caso todos os fatores que pressionam a Petrobras hoje continuem agindo até o fim do plano de negócios, em 2017 sua alavancagem superaria 6 vezes. A projeção da companhia, porém, no âmbito de seu programa de investimentos, é que, considerando que suas metas de produção de petróleo e de refino serão atingidas, o indicador caia a 1,67 vez no mesmo prazo. A alavancagem é medida pela relação entre dívida bruta e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês).

Para compensar o peso do campo sobre seus gastos, Marcelo Torto, da Ativa, acredita que a empresa pode adiar investimentos. "Pode ocorrer o corte ou a extensão do plano de negócios para ajudar a suavizar a cifra negativa de seu fluxo de caixa", concorda Milne, do BofA. A perspectiva do banco é que os valores podem ser reduzidos de US$ 44 bilhões por ano para US$ 38 bilhões sem grande prejuízo aos projetos da companhia.

A equipe de Pedro Medeiros, do Citi, prevê que apenas para o desenvolvimento de Libra a Petrobras tenha de investir anualmente US$ 3,5 bilhões até 2017. O financiamento bruto necessário para o projeto seria de US$ 21 bilhões, com o restante sendo provido pela geração de caixa da estatal.

A Petrobras é obrigada a ficar com, no mínimo, 30% do empreendimento e controlar sua operação. Um dos grandes temores do mercado é que o consórcio a ser montado pela estatal acabe perdendo para outro, mais agressivo, e mesmo assim a companhia tenha de arcar com o que foi prometido. No entanto, analistas não consideram que a petrolífera fará proposta para ficar com muito mais do que 30%.

O BofA avalia que a fatia de 30% é o limite para testar o estresse dos investidores, o Citi estima que a Petrobras fechará o leilão com fatia de 40% e o Credit Suisse afirma que veria "com muita surpresa" uma participação muito distante de 30%.

Outro ponto de atenção é quanto do lucro que o petróleo vai gerar em Libra que terá de ser repassado à União, o chamado "lucro-óleo". O governo federal pediu o mínimo de 41,65%, e vence o leilão aquele que ofertar o maior percentual.

Embora não desejável para a Petrobras, a maior parte dos bancos prevê que um índice de até 60% seria aceitável. Vinicius Canheu, do Credit Suisse, vê taxas internas de retorno de ao menos 15% mesmo nesse cenário.

O analista do banco suíço calcula que, em praticamente qualquer situação, explorar Libra deve trazer ganhos à estatal, considerando o valor presente líquido. Uma combinação de premissas pessimistas que traria perdas à companhia considera reservas de até 3,7 bilhões de barris - ante o intervalo estimado pela Agência Nacional de Petróleo de 8 bilhões a 12 bilhões de barris -, com um repasse de mais de 70% do lucro à União.

Para suavizar os efeitos criados pelo novo campo, o primeiro passo necessário para a Petrobras é aumentar sua produção de petróleo. A meta da empresa até 2017, no âmbito de seu plano de negócios, é chegar a 3,4 milhões de barris de óleo equivalente produzidos por dia, ante o nível atual de 2 milhões de barris. O BofA trabalha com 3,1 milhões. Em relatório, a analista do banco diz que extrair mais petróleo é o passo mais importante para a recuperação dos resultados.

Nesse sentido, Libra poderia até ajudar os planos da petrolífera, já que agrega recursos potenciais. Mesmo assim, os analistas mostram cautela quanto à estimativa oficial da ANP, dado que apenas dois poços foram perfurados e um deles foi abandonado no processo de avaliação.

A retomada da expansão produtiva é esperada já neste ano, com o início das atividades de quatro novos campos, e ao longo de 2014, com o a entrada de outros projetos importantes. Mas o desenvolvimento dessas unidades pode ser adiado para não piorar ainda mais a estrutura de capital da empresa. O Citi não descarta a possibilidade de novo aumento de capital para financiar projetos no futuro, medida que é afastada pelo governo e pela própria companhia.

Outro possível alívio aos resultados não depende só da Petrobras. Os investidores pedem reajuste no preço dos combustíveis no âmbito doméstico para reduzir a disparidade em relação ao mercado internacional. A área de abastecimento da companhia amarga prejuízos por vender gasolina e diesel mais barato no Brasil, principalmente porque o governo federal, seu controlador, não deseja adicionar pressão à inflação.

O BofA se reuniu com representantes do Ministério de Minas e Energia e do Congresso e saiu de lá com a impressão de que as autoridades não veem os preços dos combustíveis como "grande complicação" para a estatal. Relatório dos analistas Frank McGann e Vicente Falanga Neto mostra que o reajuste só seria autorizado caso a habilidade de financiamento da companhia fosse realmente comprometida.

A agência de classificação de risco Moody's já rebaixou a nota de crédito da Petrobras, embora esta ainda continue como grau de investimento. E a perspectiva do rating é negativa, o que indica que novos cortes podem ocorrer. Se não melhorar sua alavancagem, portanto, a Petrobras pode ter de pagar mais a investidores na hora de emitir dívida - o que comprometeria ainda mais o caixa.

O BofA estima que, a fim de acabar com a defasagem de preços, o reajuste da gasolina teria que ser de 10% e o do diesel, de 17%. A Ativa calcula em 14% e 20%, respectivamente, essa proporção. Mas ninguém vê possibilidade de aumento dos combustíveis acima de 10%, o que manteria a disparidade.

Anne Milne, do BofA, calcula que um incremento, mesmo que ainda para valores abaixo dos internacionais, ao menos traria a alavancagem bruta (dívida bruta/Ebitda) da Petrobras para 4,3 vezes em 2017.

Fonte:Valor Econômico/Renato Rostás | De São Paulo






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