Prefeita vai tentar com o presidente Lula garantir o estaleiro no Estado, mas afirma que não há local na Capital
"Não tem mais espaço vago na orla. Em qualquer circunstância que esse estaleiro venha para cá, seja no Pirambu, no Titanzinho ou no Poço da Draga, todos esses lugares representam o aterro de um milhão de metros quadrados, de 100 hectares no mar. A nossa orla é a coisa mais preciosa que a gente tem, mas para o turismo". A declaração da prefeita de Fortaleza Luizianne Lins no fim da tarde de ontem, praticamente pôs fim a uma "novela" iniciada há quase um ano, e que, de acordo com a própria prefeita, terá um final na próxima sexta-feira, dia 18.
Antes porém, na quinta-feira, 17, conforme o Diário do Nordeste já havia antecipado, a prefeita irá se reunir com o pre sidente Luiz Inácio Lula da Silva, para apresentar-lhe o resultado do Estudo das Alternativas de Localização do Estaleiro, com o qual espera convencê-lo de que o empreendimento não é bom para a cidade. "Vou conversar com o presidente Lula, para mostrar a ele os estudos. Eu já apresentei para ele (Lula, durante a aula Inaugural do Projovem, na última terça-feira), e ele não sabia que é um aterro na orla de Fortaleza. Ele nunca soube disso, que não há espaço apropriado na orla de Fortaleza, para instalação do Estaleiro Promar Ceará", respondeu a prefeita, ao ser questionada sobre o que iria conversar com o presidente, se a posição dela sempre foi contrária à implantação do equipamento em Fortaleza.
Garantir para o Ceará
"A prefeita vai defender os interesses da Cidade. Vou conversar com o Lula, porque acho importante garantir (o estaleiro) aqui para o Ceará, mas acho muito estranho e esquisito, o primeiro lugar pensado ser um local mais caro, o Titanzinho", complementou Luizianne. Dizendo-se surpresa com os valores do investimento no Titanzinho e no Pecém, a prefeita falou que "quero explicar para o Lula, primeiro porque se pensou em um estaleiro, aterrando a orla de Fortaleza", quando em todos os outros lugares, os estaleiros que estão em implantação no Brasil, na Bahia, em Alagoas e Pernambuco, são fora da capital, distante das áreas urbanas.
Origem questionada
No meio da entrevista, concedida no Estoril, a prefeita levantou dúvidas, quando à origem do projeto do Estaleiro. "Vou tentar que o Lula converse com o presidente da Transpetro (Sérgio Machado), para o próprio Sérgio Machado dizer ao Lula, porque ele quis que fosse no Titanzinho. Porque ele e o Balhman (ex-presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico - Adece) foram os que apresentaram o projeto inicial de ser Titanzinho", revelou. "O Paulo Haddad (diretor presidente do Promar Ceará) me disse que eles apresentaram este projeto para ele e que nunca lhe foi falado ´vamos escolher uma opção", insinuou Luizianne Lins.
A prefeita acrescentou: "ouvi gente dizendo que depois (a área do estaleiro) viraria pública. Não tem isso. O Estado dará para o empreendedor o terreno, como não temos o terreno, será um solo criado para isso, e depois vira privado. Acabou", denunciou a prefeita.
"O Estado entra com o terreno e a empresa com o estaleiro e depois faz o que quiser. Pode fazer um porto privado paralelo ao Mucuripe, pode fazer um hotel, pode fazer qualquer coisa", denunciou, reforçando que (o Titanzinho) é uma área nobre, e que uma área deste tamanho, vale milhões de reais. Então temos que ver que uma negociando dessa não é brincadeira", exclamou Luizianne, para quem a iniciativa de apresentar a área foi do Governo do Estado e não de Paulo Haddad. ".
Transpetro
Consultada, a Transpetro disse que "não vai responder nada antes de conhecer o teor das declarações". A reportagem tentou contato com Antônio Balhmann, mas não teve retorno.
SEGUNDO HADDAD
Ceará ainda não perdeu de vez o projeto
Mesmo diante das últimas declarações da Prefeitura de Fortaleza, ratificando sua posição contrária à edificação do estaleiro Promar Ceará na Capital, o Estado ainda não perdeu de vez o empreendimento. É o que afirma o presidente da PJMR - empresa que encabeça o projeto -, Paulo Haddad, que insiste em uma resposta definitiva do executivo municipal antes de apresentar à Transpetro, se necessário, uma nova localização. Para tanto, ele espera até ser chamado pela empresa para a assinatura do contrato.
Ao mesmo tempo, Haddad confirma que, enquanto isso, outros estados, inclusive do Sul do País, demonstram interesse em abrigar o projeto e que estão bastante adiantados com área já especificada e licença prévia emitida, bastando apenas que seja assinado um protocolo de intenções com a PJMR e o novo local seja informado à subsidiária da Petrobras, não havendo necessidade de nova licitação. "A licitação é para a construção dos gaseiros no Brasil, cabe ao investidor a escolha do local do estaleiro", afirmou.
"Antes, não existia uma opção dois, porque havia interesse apenas no Ceará. Mas diante das últimas declarações da Prefeitura, não podemos ficar reféns do Estado. Não podemos deixar de olhar outras propostas. Já começamos a avaliá-las", disse Haddad, sem divulgar os estados interessados e com os quais manteve contato.
NOVA LOCALIZAÇÃO
Receptividade em outros Estados
Com a possibilidade de o Promar não ser construído no Ceará, outros estados da região se articulam
Com a intenção declarada de aportar o estaleiro em outra praia - no Nordeste ou Sudeste -, os investidores do Promar Ceará vão encontrar receptividade de alguns governos da região. Mas qualquer tipo de negociação é mantida em sigilo pelos possíveis interessados. A exceção é o governo do Maranhão, que já declarou estar "de braços" e cofres abertos. Nos demais estados procurados pelo jornal, o tema é tratado como "novidade".
Em Pernambuco, que já abriga o Atlântico Sul, maior estaleiro do Hemisfério Sul - inclusive com participação acionária da PJMR -, a assessoria de imprensa da Secretaria de Desenvolvimento Econômico afirma que não há informações sobre uma possível negociação da PJMR com o governo. "Talvez o pessoal do Promar Ceará esteja tratando direto com o Porto de Suape, que tem recebido estes empreendimentos", disse um jornalista, que preferiu não ser identificado na matéria.
O secretário de Desenvolvimento Econômico de Alagoas, Luiz Otávio Gomes, afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa que, se for procurado pelos investidores da PJMR, vai receber o projeto. Ele não confirma nem desmente que já tenha sido sondado por Paulo Haddad. No entanto, sua assessoria de imprensa frisa que, o foco da atual gestão é a implantação do Eisa Alagoas. "Já temos a licença prévia do Eisa Alagoas e esperamos conseguir, até setembro, a licença ambiental de implantação deste projeto, orçado em R$ 1,5 bilhão", comenta a assessoria da Secretaria.
No Maranhão, a conversa é outra. O secretário da Indústria e Comércio, José Maurício de Macedo Santos, afirmou que seu estado não só tem o interesse como a necessidade de abrigar um estaleiro. "O Promar cairia como uma luva nos planos do governo maranhense, cuja região está recebendo crescentes investimentos privados".
Fonte: Diário do Nordeste (CE)/CARLOS EUGÊNIO
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