Símbolo da retomada da indústria naval brasileira, o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) terá pela primeira vez um lucro operacional em 2017. Mas, curiosamente, a situação da empresa não é nada boa. Quando são somadas todas as despesas, a empresa continuará no vermelho por pagar R$ 350 milhões por ano de empréstimos contraídos com instituições financeiras.O EAS passa por um momento de indefinição pois só tem mais cinco navios contratados pela Transpetro, subsidiária da Petrobras. As embarcações serão entregues até 2019. Para conquistar novas encomendas, a diretoria da empresa espera que a Petrobras assine um termo aditivo prorrogando o prazo de entrega de oito navios, “cujo contrato está em negociação” e seriam comprados pela South American Tanker Company Navegação (Satco). Ao mesmo tempo, a companhia deseja que o governo federal publique uma medida provisória (MP) prorrogando a carência e o prazo de financiamento dos recursos emprestados pelo Fundo de Marinha Mercante (FMM) operacionalizado principalmente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A MP aumentaria para 30 anos o prazo de pagamento do financiamento do BNDES que é de duas décadas e dobraria o prazo de carência para quatro anos, quando o atual é de dois anos. Só ao BNDES, o EAS deve R$ 1,3 bilhão. “O que está na nossas mãos está sob controle. Vamos brigar até o fim”, disse ontem o presidente da EAS, Harro Burmann, numa coletiva de imprensa realizada em Suape, se referindo a prorrogação dos prazos e a obtenção de novos contratos.
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Para finalizar a compra dos oito navios, a Satco deseja que a Petrobras confirme a demanda por essas encomendas. Até a semana passada, a Petrobras informou que não existia mais demanda para as mesmas.
Mas por que a Petrobras é tão importante para o estaleiro? A petrolífera foi responsável pela retomada da indústria naval encomendando, via Transpetro, navios a vários estaleiros. No entanto, a estatal foi atingida pela recessão e, principalmente, pela corrupção. A Lava Jato revelou um esquema de propina bilionário envolvendo os diretores da petrolífera, executivos, empresários e políticos dos mais diversos partidos.
Os dois sócios do EAS são as construtoras Queiroz Galvão e Camargo Corrêa, ambas apontadas por irregularidades na Lava Jato.
Segundo Harro, a Petrobras terá que informar a sua demanda por novas embarcações ao mercado, no máximo, até julho. E isso pode ser um indicativo de compra de mais embarcações dos estaleiros instalados no País. “Quem é o principal sócio da Petrobras?”, questionou o executivo, acrescentando que “o governo federal terá que decidir se quer manter os empregos ou destruir a indústria naval brasileira”. O sócio majoritário da Petrobrás é a União.
Além dos oito navios a serem encomendados pela Satco, o EAS está fazendo uma negociação para vender mais cinco embarcações que seriam comprados também pela Satco. Isso faria o estaleiro pernambucano ter encomendas, por pelo menos, mais três anos já que o estaleiro quer “fazer um navio a cada três meses”, como afirma Harro.
Um dos principais apelos para a manutenção da indústria naval é a geração de postos de trabalho. O EAS tem 3.850 funcionários. É um dos maiores empregadores de Suape. O lado crítico é que as embarcações made in Brasil são mais caras do que as produzidas em outros países e não apresentam a mesma qualidade.
MUDANÇAS
Apesar da crise, a mudança no EAS é visível. Foram implantadas linhas de produção automatizadas. Lá, a empresa implantou 60 robôs para fazer solda e mais 20 máquinas que fazem esse serviço na área de pré-edificação (montagem dos grandes blocos). A solda de um navio requer muita precisão. O prédio luxuoso do escritório administrativo, conhecido jocosamente como Dubai, está fechado para conter os gastos. Atualmente, todos os diretores trabalham no prédio da produção.
Fonte: JC Online