Nesse mar de indefinições em que se encontra a Petrobras, quem tem se beneficiado é a OGX, companhia do setor de petróleo pertencente ao empresário Eike Batista. Uma parte dos investidores está abrindo mão de comprar os papéis da estatal para adquirir ações da petrolífera do grupo EBX. "São duas empresas em momentos muito diferentes, mas muitos investidores estão preferindo correr os riscos do negócio da OGX, que ainda está em fase de descoberta e não de produção", diz Andres Kikuchi, da Link Investimentos.
O recente aumento de liquidez comprova a maior procura pelos papéis da OGX. Neste ano, as ações ordinárias (ON, com voto) da petrolífera registram um volume médio diário de negócios de R$ 328 milhões ante R$ 113,3 milhoes em 2009. A média diária no número de negócios também saltou, passando de 797 no ano passado para 12.438 em 2010. Do fim de agosto até agora, as ações subiram mais de 69%. A empresa vale hoje em bolsa mais de R$ 56 bilhões.
Além das incertezas com a Petrobras, dois fatos específicos de OGX contribuíram para o aumento de liquidez dos papéis. O primeiro foi o desdobramento de ações no fim do ano passado, o que tornou-as mais acessível ao pequeno investidor. As ações foram divididas na proporção de cem para uma ação, reduzindo significativamente o valor de cada lote. O segundo fator foi o ingresso das ações na carteira do Ibovespa que passou a vigorar neste mês.
Segundo os analistas, tanto o desdobramento quanto a entrada no Ibovespa atraíram para o papel um número maior de investidores. A expectativa desses profissionais é que as ações continuem ganhando peso nas próximas carteiras do Ibovespa, o que também aumentará a liquidez, uma vez que existem fundos de investimentos e até investidores que usam o índice como referência.
Independentemente da carona nos problemas da Petrobras, há quem afirme que a OGX também possui fundamentos que justifiquem o destaque. "A empresa vem entregando mais do que prometia e do que o próprio mercado esperava", diz a analista da Itaú Corretora Paula Kovarsky.
O mercado possui, além das dúvidas, temores sobre as consequências da capitalização. Daí o afastamento da aplicação. Uma das principais preocupações é se o governo, artificialmente, tornará a operação menos atrativa para o mercado, de forma a garantir um aumento expressivo de sua participação na estatal, mesmo seguindo todos os ritos legais.
Não há dúvidas de que o aporte da União na Petrobras será grande, já que é por meio dele que o direito de exploração dos até 5 bilhões de barris de petróleo do pré-sal será colocado dentro da empresa. Hoje, o governo tem 32% da empresa.
O sucesso da capitalização no prazo esperado também dependerá da receptividade da operação no mercado. Não há como prever se ela sofrerá questionamento de minoritários forte o suficiente para paralisar ou atrasar o negócio.
O tema vem sendo acompanhado de perto não apenas pelos acionistas da empresa como também pelas organizações de mercado. A Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec) e o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) mostraram, desde o começo, suas preocupações com a transação e chegaram até mesmo a mandar contribuições à Câmara para modificação do projeto de lei da capitalização, a fim de evitar repercussões negativas relacionadas à governança corporativa da estatal e do país - já que se trata da maior empresa e principal blue chip do Brasil.
Edison Garcia, superintendente da associação, explicou que a Amec aguardará os detalhes da operação antes de um novo posicionamento. As dúvidas da Amec para uma avaliação final são muito semelhantes às do mercado.
A União não colocará sua parcela na capitalização - o direito de exploração de até cinco bilhões de barris do pré-sal - diretamente em petróleo, mas sim em títulos da dívida do governo. Esses papéis serão usados, no momento seguinte, para comprar os barris - é a parte da operação denominada cessão onerosa.
Apesar de o aporte da União não ser feito em petróleo, é o valor dos barris que determinará o tamanho da operação. Daí a importância do preço atribuído aos barris.
O modo como esses barris serão avaliados é uma das grandes preocupações do mercado. A Amec e o IBGC, nas considerações que fizeram à Câmara, destacaram que seria importante garantir a participação dos minoritários nessa análise, com aprovação do laudo em assembleia de acionistas sem voto do controlador. A sugestão foi para que tal previsão já estivesse na lei que tratará da capitalização.
O tamanho da capitalização será importante para ditar as condições do mercado de absorvê-la. Se a transação for muito grande, pode não haver liquidez suficiente dos minoritários para manterem sua proporção na empresa. Segundo a analista da Itaú Corretora, a própria companhia vem dizendo que os minoritários teriam fôlego para participar com algo entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões. Isso significaria, portanto, um aumento de capital total de US$ 45 bilhões, numa estimativa que os barris da União sejam avaliados em US$ 30 bilhões. "O governo já sinalizou que não teria interesse em ficar com as sobras do aumento, já que isso poderia desequilibrar as contas públicas", disse.
Portanto, a avaliação final sobre se o processo será positivo ou negativo depende das respostas para as incertezas atuais. O preço de emissão das ações também será determinante, como em qualquer aumento de capital. Ele é que indicará o apetite dos investidores e, portanto, o risco de diluição. Quanto mais caros os novos papéis forem frente às cotações em bolsa, maior o desinteresse e, dessa forma, aumentam as chances de a União ampliar sua fatia na estatal. O inverso também é verdadeiro: quanto maior o desconto diante do preço em bolsa, maior a chance de o mercado comprar mais ações da operação.(Fonte: Valor Econômico/Daniele Camba e Graziella Valenti, de São Paulo)
PUBLICIDADE